Devolva meus ossos

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O dia começou estranho, pela primeira vez acordo sem um bom dia do meu avô.
Vô Carlos, era assim que eu o chamava, noite passada ele teve um infarto e veio a óbito, passei ao lado dele em seus últimos momentos...
Sem ânimo e sem expectativas de vida, continuo deitado em minha cama olhando para o teto, tudo está escuro, todas as janelas, portas e cortinas fechadas, só quero ficar aqui sozinho...
- Lucas, vamos, levante, precisa se arrumar para o funeral do seu avô! Diz meu pai entrando em meu quarto, abrindo janelas e cortinas.
A luz do dia invade minhas pupilas, fazendo um clarão me cegar por alguns segundos.
- Pai! Mas que saco! Bate na porta antes de chegar entrando assim! Fecha essa janela eu já vou levantar!
- Olha mocinho, primeiramente mais respeito, eu sei que está triste, eu também estou, eu gostava muito do meu sogro também, você sabe! Agora vamos, sua mãe está quase pronta já.
- Tá bom pai, desculpa!
Meu pai sai do quarto, eu me levanto, vou até o banheiro que fica no meu quarto, caminho com os olho semiaberto e o outro completamente fechado, estou com sono, afinal quase não consegui dormir.
Tomo banho, escovo meus dentes,  me enrolo na toalha e volto para meu quarto e sento na cama com meu celular na mão, vejo várias mensagens de amigos, parentes e até alguns web amigos, desejando meus pêsames. Olho aquilo e lágrimas caem, bloqueio meu celular eu vou me vestir.
Estou usando uma gravata borboleta preta, sapatos sociais também da mesm cor e um terno preto, que eu havia ganhado do meu avô para ir ao baile da escola ano passado, foi graças a ele que eu consegui criar coragem para chamar a Roberta, minha atual namorada para ir comigo, mergulho em lembrança daquele dia.
Sinto um frio percorrer minha espinha e vejo a foto que estava na parede do meu avô cair, olho aqui com pavor, me aproximo para pegar a fotografia, me abaixo e pego a foto. Pahhhh... A porta do banheiro bate forte, mas as janelas estavam fechadas então não havia corrente de ar para fechar a mesma, jogo a foto no chão novamente e corro para sala.
- O que foi meu filho? Que barulheira foi essa? Você está bem? Pergunta minha mãe preocupada, seus olhos inchados de tanto chorar, olheiras enormes que minha mãe esconde atrás de maquiagem e um óculos escuro.
Com medo de minha mãe não acreditar em mim e pensar que eu estava ficando doido, apenas olho para ela e digo:
- Está sim, mãe. Foi só um susto... Mas e a senhora, está bem?
- Sim. Responde ela assoando o nariz, pois estava chorando.
Abraço minha mãe, e vamos ao velório!
Após cinco meses desde a morte de meu avô, meu pai convoca uma reunião em família, eu e minha então sentamos a mesa e meu pai começa a dizer sobre uma proposta de emprego muito boa em uma cidade vizinha. Querendo mudar de ambiente para tentar aliviar a dor de nossa perda que ainda doía a noite principalmente, decidimos então ir.
Hoje faz um ano desde a morte dele, ainda sinto saudades mas, agora na nova cidade, fiz amigos, minha mãe estava mais feliz também e grávida de 2 semanas, a é ótima 4 quartos com suite, sala, cozinha, copa, lavanderia e um quintal grande também, sem falar naquele porão cheio de coisas do antigo morador que ele deixou na casa.
Eu passava bastante tempo no porão, lendo, brincando, desenhando enfim afinal tinha tantas coisas legais, inclusive um rádio de vinil e realmente os boatos são verdades, o som é simplesmente incrível.
Era Sábado de manhã e meu pai saiu de viagem para buscar os restos de meu avô, para ser enterrado na nossa cidade.
Sem lembrar onde era exatamente o túmulo de seu sogro, papai pede informação ao coveiro do cemitério, que indica a direção então, meu pai segue até o local indicado e desenterra e leva os restos até sua nova cidade.
Sem muita demora, assim que chega na nova cidade vai direto até o novo túmulo de seu sogro e então enterra e vai embora pra casa exausto.
- Amor, cheguei, está tudo pronto, agora vou dormir um pouco, estou cansado.
- Tá bom amor, não quer jantar primeiro!?
- Não querida, obrigado, boa noite. Diz meu pai em resposta enquanto beija minha mãe e vai para o quarto e deita.
3:00hrs da manhã, meu pai sonha com um senhor de aparência quem envelhecida quase em fase de putrefação, que chega até ele e diz:
- Devolva meus ossos, ou sofrerá as consequências!
Meu pai acorda assustado, então vai até a cozinha beber um copo d'água para tentar dormir novamente e principalmente porque estava todo suado mesmo estando no ar condicionado em se quarto todo esse tempo, seu pesadelo realmente mexeu com ele, mas dá de ombros e volta para o quarto e dorme novamente.
No amanhecer do dia e não dormir muito bem pois o mesmo pesadelo se repetiu durante várias vezes, Papai vai trabalhar.
Eu fiquei em casa sozinho, mamãe havia ido até o hospital fazer o pré natal ou algo assim, então fui para meu lugar favorito na casa, o porão, coloco então uma música da Petty Label infelizmente só aviam discos antigos mas eu não me importava eu até gosto.
Fico lá ouvindo música e lendo gibi, já era 14:00 hrs e então o disco começa a pular e a música começa a ficar toda embaralhada com um barulho estridente, corro e logo arrumo a agulha no disco na esperança de não ter estragado o disco.
Por sorte estragou, coloco a música novamente e volto a ler, o mesmo volta a correr, mas dessa vez, uma voz grossa e medonha e meio picada sai do rádio dizendo:
- Me...meuuuss....O...ossosss....
Desligo o rádio correndo e mais do que depressa vou para a sala, achei melhor ficar num lugar mais iluminado no momento, afinal não sou um cara muito corajoso quando o assunto é susto.
16:00hrs minha mãe chega e vai até seu quarto colocar uma roupa mais confortável, então ela solta um grito de pavor e vou até o quarto dela e olha para mim com os olhos esbugalhados e diz:
- Eu vi um velho no banheiro!!!
Após esse susto, vamos pra fora de casa e esperamos papai chegar em casa. Chega o anoitecer e papai chega, contamos tudo pra ele. E ele conta sobre seu pesadelo.
- Vamos para um hotel, amanhã cedo chamaremos um padre!
Fomos para um hotel.
Chegando no hotel, todos deitamos para dormir, o dia foi meio agitado.
No meio da madrugada, sinto o ar ficar denso, e frio, fiquei preso na cama sem conseguir me mover, então vejo se aproximando de mim um velho, como mamãe havia descrito, se aproximando e me enforcando e sussurrando de maneira medonha:
- De...vol...va... Devol...va... Devolva meus ossos!
Começo a tenta me rebater na cama tendo me soltar, mas não consigo, até que depois de muito esforço consigo acordar.
Estou todo soado, trêmulo e meu coração está acelerado, olho para o lado e vejo meus pais acordados, e parecem assustados, converso com eles e eles dizem que tiveram o mesmo sonho, ambos estamos com hematomas no pescoço.
Vamos até nossa cidade antiga e descobrimos que meu pai havia pego os ossos errados!
Meu pai vai até o cemitério e desfaz o mal entendido. Após isso nunca mais vimos o velho e tudo voltou ao normal, e como pedido de desculpa em todo dia de finados acendemos uma vela para o velho.

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