oito;

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     jeno despertou de seu transe, se sentindo quase flutuando com a familiaridade daquele rosto incomum que parecia surgir em sua mente do nada; mas que na verdade, de alguma forma, sempre esteve lá.

     era difícil dar a si mesmo uma resposta racional, algo que fizesse sentido de uma forma que pudesse explicar com palavras. desistiu de tentar. havia aquele rosto aparecido para si em sonhos? ele sabia que sim, mas ainda parecia algo mais.

     deitado em sua cama, parado, observando o teto como se este fosse o dar respostas. sentia-se perdido, ao mesmo tempo que pensava ter sido finalmente encontrado. ele nem sequer sabia o que aqueles sentimentos e impressões significavam.

     — o que faz aqui? eu não te chamei! — o garoto disse, quase na defensiva.

     — eu o chamei. estava pensando em você. — jeno o respondeu com muita convicção, o que pareceu surpreender o outro.

     — você deveria ir embora. — foi o que ele disse, mas não parecia ser isso o que realmente queria que acontecesse.

     — eu não vou. — a resposta pareceu o surpreender — vamos conversar.

     — jeno, eu quero dormir. — o garoto realmente parecia cansado, mas um sorriso brotou de seus delicados lábios, traindo suas palavras.

     — não! vamos conversar!

     veja, o tempo não existe, ao menos não da forma que pensamos existir. e nessas condições, o conceito é ainda mais fluido. não se sabe por quanto tempo seguiram conversando, beijando-se e provocando um ao outro. para renjun, pareceram horas, ele estava realmente cansado e acordado fisicamente durante toda esta conversa. para jeno, entretanto, a divisão do que fora conversa e o que se tornara sonho era turbulenta demais para ser percebida.

     quando jeno finalmente deixou renjun dormir, eles se reencontraram rapidamente no reino dos sonhos.

     o local era conhecido de renjun, a casa pertencia a um amigo. ele sempre sonhava com jeno em ambientes domésticos e familiares, fazia-o sentir que eles viviam realmente próximos fisicamente.

     jeno estava sentado na cama, próximo à grande janela que havia na parede ao lado, parecendo extremamente vulnerável. renjun aproximou-se, deleitando-se naquela sensação de casa tão específica que sentia com o outro.

     — eu quero passar meu aniversário com você. você ficaria comigo? — jeno falou.

     — claro que sim. — renjun respondeu, sem ter ideia de quando era o aniversário do garoto.

     — com quantos anos é aceitavel para um homem demonstrar afeto? — perguntou de repente.

     — não sei? — lhe respondeu em tom de questionamento, quase rindo da pergunta inusitada — uns noventa? — brincou.

     jeno nada disse, apenas aproximou-se e o abraçou. mais uma vez, a sensação de casa os atingiu como uma epifania. o amor intenso e muitas vezes perturbador, ali tomava forma de algo quente e confortável, como águas mornas e calmas de um rio cristalino.

     renjun acordou sorrindo poucas horas depois, atordoado. sentindo-se como se algo abraçasse seu coração. mesmo estando cansado e tendo dormido pouquíssimo, não sentia-se mal, como era de costume nesses casos. acabou por dar uma risada desse fato, anotou o sonho por medo de esquecê-lo, e voltou a dormir, ainda sorrindo.

     jeno, por outro lado, acordou totalmente desnorteado. como se todo seu mundo tivesse virado de cabeça para baixo.

     — que porra foi essa? — perguntou a si mesmo, quase irritado. então a sensação de estar com renjun o tomou novamente, e ele sorriu. não fazia ideia do que estava acontecendo, apenas de que faria de tudo para encontrar aquele que o assombrava.

     jaemin, que até aqui não fora mencionado, sorria triunfante. pouco antes de jeno ter aparecido para renjun, ele havia feito o mesmo, como se abrisse o caminho. a energia entre os outros dois andava estranha nos últimos tempos, e de repente renjun desistiu de os procurar. ele sentiu que precisava intervir. nem sabia o que havia feito, mas ao que tudo indicava tinha dado certo.

     os três estavam mais próximos de encontrarem-se no mesmo plano físico do que nunca, e todos pareciam finalmenre serem capazes de sentir.

synchronization of dreams; norenmin.Onde histórias criam vida. Descubra agora