Hoje um beija-flor veio na minha janela. Só achou cactáceas sem flores, não demorou mais que um minuto, e foi embora. Eu o observei e sorri. Dizem que beija-flores são presságios de coisas boas, pensei. Se não são, apenas observá-los, por segundos, já é bom, é bonito, há algo de inexplicável no serzinho flutuando no ar. Minutos depois fui atender a um chamado, deram-se conta de que tinha um ninho de calopsitas abandonado. Dos 3 filhotes dois já mortos. Fiquei com o terceiro, alimentei, ninei, montei um improviso quentinho com luz incandescente para esquentá-lo. Batizei de Frida. Ninguém acreditou que ele vingaria, só eu. Guiada pelo completo desconhecimento, munida de intuição, amor e google, fiz tudo que aprendi que devia fazer pelo bebê. O dediquei todas as horas entre 14 e 23, quando ele morreu. "Esses bichinhos são difíceis de cuidar", "talvez foram abandonados pela mãe porque ela percebeu algum defeito", me mimaram. Era fato que o papo estava estranho, não esvaziava, li que aquilo era algo ruim e ele precisava de um veterinário. Mas já era tarde quando procurei por "problema no papo filhote calopsita" na máquina que calcula respostas. Nos últimos minutos, quando começou a ofegar sua respiração, ele abriu os olhinhos. De tanta força e dor? Me veria antes de ir? Minutos de agonia quase silenciosa a dele, a minha era audível. A gata notou meu choro, se aproximou pela primeira vez, desde que fiz Frida minha prioridade. Ela venceu seu ciúme para me consolar, me lambeu o braço, e ficou juntinho. Eu entendi, ela também. Frida cansou da luta. Agora acho beija-flores mais tristes. Frida Beija Flor, é o seu nome completo.
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Frida Beija Flor
PuisiImagem: Graphite & Oil Paintings Merge Nature and Anatomy by Nunzio Paci Essa é a história de quando, como na figura, ganhei um passarinho para o lado de dentro: