Inflação

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            É a inflação, os ânimos estão alterados, com os egos inflados, cada um com o próprio umbigo de preocupações. É um momento delicado, só penso que não é mais nem a minha vida que importa, mas as pessoas com quem tenho contato e são grupo de risco. É absurdo! A minha vida deveria importar, mas o capitalismo fala mais alto. Quem não pode perder neste momento? Quem quer ficar no conforto do lar e usufruir do lazer colocando a minha vida em jogo, pois para eles é um jogo, um jogo de sorte e azar. Sorte de quem tem dinheiro suficiente para mandar os outros para o azar. Quem morre nesse processo? Quem tem dinheiro para meter um processo?

          Saiu um novo decreto, tirando a responsabilidade dos que podem mandar, pois ninguém quer arcar com a vida de gente pobre. Abriram os cuidados terceirizados, para os ricos desovarem os filhos, e quem precisa? Precisa levar os filhos para o trabalho e controlar o uso do espaço, pois o parquinho só é para quem paga o condomínio. É a seleção natural, sobrevive quem pode ter o computador mais caro, as aulas dentro de casa, e levar os filhos para uma atividade de lazer no clube. Naturalmente os mais ricos devem sobreviver, para girar o capital, para salvar a economia, e reformar a previdência dizimando parte das vidas que custam tão caro para quem quer sonegar impostos.

          Não é possível ainda abrir as portas das escolas, pois temos sindicatos representativos demais, então vamos começar com as atividades físicas, com o âmbito particular, pois é onde conseguimos pressionar. Vamos negar ao empresário, assim ele obriga o funcionário, e o burguês garante a sua vez, de ir ao parque, de ter algum lazer. Vamos aumentar a mão de obra, vamos garantir as obras, para mantermos o patriarcado, para garantirmos as vagas aos racionais, que vão compartimentar as mortes em algum canto do subconsciente repetindo as nossas frases de efeito. "Esses já estavam perto da morte, esses tinham a saúde frágil, esses não podem escolher e esses mereciam mesmo morrer". Só não merece você, alecrim dourado, que nasceu dono do campo semeado.

          Vamos subir os preços, pois agora é o momento em que as grandes empresas valem mais, cada vez mais, a cada falência, a cada desemprego, temos uma grande fortuna enriquecendo, exorbitando seus algoritmos planejados. "Se metade dos funcionários morrer, não gastaremos com indenização". Neste momento, tudo isso está fora de cogitação, você precisa encarar a morte de braços abertos, ou acha que vai ganhar dinheiro sentado no sofá?! Para isso, você precisa primeiro ter um espaço para ter um sofá. Não adianta se acomodar, o décimo terceiro não vai entrar, as férias não vão mais chegar, e não cabe à você opinar. Silencie a sua mente, não é preciso se alterar, pois não tem solução para o seu desespero com a vida, sua alma já está contabilizada no capital da empresa. É um luxo esse seu emprego, vai mesmo fazer hora extra.

          A realidade é que ninguém quer saber. Você pode ler meu texto e tentar entender, ou curtir a foto, e continuar arriscando a minha vida no seu lazer, pois é você quem está pagando. Eu só vendo a mão de obra, a mão que não toca os lucros da obra, que se desgasta e caleja deixando o ambiente adequado na limpeza, para você. Trabalhamos com atendimento ao público, é preciso sorrir e interagir. Não abram as escolas, deixem apenas o lazer para entreter, pois tem gente que está cansada de ficar em casa, assim você já aproveita e ocupa a cabeça com o serviço, para tirar essas ideias de revolução da cabeça, nós gostamos apenas de alienação. Vamos chamar os que não tem direitos, os desmobilizados de sindicatos. Querem o direito de poder usufruir das mortes alheias, sem bom senso, pois são homens de bens, bens materiais, bens liberais. É assim que o mundo gira, com o capital da sua vida. Mas o combinado é que você não pode saber o valor, ok?

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