Hold on

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Noah

Eu não sou bom em contar histórias. Até na escola, quando eu precisava decorar algo para apresentações ou até mesmo para provas, eu tinha dificuldade. Mas hoje eu vou contar uma história. Isso só é possível porque eu lembro de cada detalhe... Porque aconteceu comigo.

Eu era só um adolescente do interior e, como muitos outros garotos e garotas, fã de um artista em específico. Me lembro de passar horas e horas pensando naquele cantor. O nome dele era Josh Beauchamp. Eu adorava o movimento de seus lábios ao sair sua linda voz, seus movimentos corporais incríveis, seu cabelo bagunçado numa foto postada em alguma rede social às sete da manhã. Eu achava aquele cara perfeito e eu tinha que dizer isso a ele.

Mandei inúmeras mensagens em sua DM do Twitter, enchi seu direct do Instagram, fazia edits para homenageá-lo, passava noventa e cinco por cento do tempo pensando em nele e nos outros cinco por cento rezava pra que alguém mencionasse seu nome para eu falar mais e mais. Assim foram passando meus dias chatos em Orange County. Eu só não contava que tantas mensagens, tantos comentários em lives assistidas, tanto tempo dedicado a você iria ter um retorno. Foi por volta das seis da manhã - lembro bem pois era meu horário de tomar chá e depois ir pra escola -, você respondeu minha mensagem no Instagram com "já vi tantos posts seus sobre mim que praticamente sinto que te conheço". Eu surtei, surtei real oficial.

Fui pra escola com um sorriso de orelha a orelha. Não falei com ninguém sobre pois fiquei com medo de eles fazerem as mesmas loucuras que eu e Josh acabar respondendo eles também. Veja só, eu já tinha ciúmes antes mesmo de ter algo com com ele. Passei horas planejando o que responderia. Apesar de estar, não queria parecer muito surtado. No caminho pra casa lembrei de uma coisa que você disse numa entrevista pra deus-sabe-quem: eu prefiro me relacionar com pessoas que não são fãs do meu trabalho. Aí pensei: não vou falar como um fã, vou me segurar por dentro e agir como se fosse um amigo qualquer. Respondi "Eu sou persistente" depois me arrependi e quis apagar porque ele, provavelmente, já devia ter percebido isso mas a merda do Insta não apagava mensagem. Respirei fundo e enviei "desculpa pelo incômodo, é que eu adoraria tomar um chá com você mas não sabia como chamar sua atenção". Ridículo, eu sei.

Passei meia hora sorrindo quando ele respondeu "jura que você não pensou em apenas me perguntar diretamente?". Eu disse que ele nunca aceitaria. Ele respondeu que não tinha como eu saber. E essa briga durou semanas. E, um mês depois, ainda tocávamos no assunto. Por volta dos três meses de conversas, certa vez, eu chorei por horas ao cair a ficha que eu estava conversando com o cara que eu mais admirava no planeta Terra. Era sorte demais pra alguém que não merecia. No quarto mês de conversa, Josh supostamente me mandou sem querer uma foto em que ele estava só de cueca e... Bom, com uma ereção visível. Vi nos seus stories que Josh havia saído com alguns amigos e logo concluí que ele estava bêbado. Não respondi nada. Preferi deitar e esperar o amanhã chegar e ele pedir desculpas pelo ocorrido. Mas não consegui dormir, não consegui largar o celular, não consegui para de olhar aquela foto. Era quase meia noite e Josh me fez sentir de vontade de me tocar.

Por volta do sexto mês após nossa primeira troca de mensagens, Beauchamp havia voltado de uma viagem a trabalho para a europa. Ele estava de volta em Los Angeles. Era o mais próximo que eu conseguia chegar dele. Ao menos estávamos no mesmo estado. Lembro do que era pra ser um fim de tarde como todos os outros... Se não fosse as mensagens enviadas por ele. "Quer vir tomar um chá aqui em Los Angeles comigo?" foi a primeira. Meu coração quase saiu pela boca. "Eu pago sua passagem e você pode ficar na minha casa, se preferir" foi a segunda. Na maior das minha hipérboles, eu acho que tive três infartos consecutivos. Eu respondi - cheio de animação, mas sem deixar ele saber - que teria que ver com meus pais, e assim fiz. Mostrei todas as nossas conversas (tirando a parte da foto que ele me enviou quando estava bêbado (que, aliás, ele nunca falou nada sobre (o que eu acho injusto, já que queria poder falar que adoraria sentar no que havia dentro daquela cueca (brincadeira (...mas pode ser sério))))). Com muita luta e discussões, meus pais concordaram e, no sétimo mês, lá estava eu. Em Los Angeles. Com Josh Beauchamp. Era surto atrás de surto.

Passamos bons momentos juntos, Beauchamp era ainda mais legal do que eu imaginava. Ele me levou pra conhecer vários lugares. Claro, sempre com muita dificuldade, já que Josh poderia ser reconhecido e causar um tumulto gigantesco. Lembro que o melhor lugar que ele me levou foi num bar próximo a casa dele. Não porque era bonito ou coisa do tipo, mas porque ficamos bêbados e naquela noite foi a primeira vez que transamos. Me sinto uma garotinha ao dizer mas, foda-te, foi mágico. Aquele corpo sabia mesmo como fazer cada movimento ser perfeito. Passei minhas férias assim: amando e sendo amado. Isso justifica porque em pouco tempo tomamos a decisão de morarmos juntos. Só eu e ele numa casa em Los Angeles. Não que fôssemos assumir nosso namoro, nada disso. Iria ser tudo escondido, não haveria como ninguém descobrir.

Então passaram-se mais três meses. Nossa vida parecia perfeita. Eu apoiava ele em todos os seus projetos, seus shows e entrevistas. Ele tentava me ajudar nos estudos, ria das minhas piadas e me fazia sentir a melhor pessoa do mundo. Éramos mais que amigos. Éramos mais que amantes. Éramos como um só. Mas, certo dia, Josh chegou em casa dizendo que havia uma péssima notícia. Sentamos na cama, olhamos um nos olhos do outro e ele me contou que as pessoas que trabalhavam na agência que cuidava da sua carreira descobriram sobre nós. E, pior, queriam que cortassemos nossos laços antes que seus fãs descobrissem. Beauchamp chorou ao dizer que se não fizéssemos isso a impressa iria tentar acabar com a carreira dele, mas que ele estaria disposto a aguentar tudo isso por mim.

Respirei fundo. Foi a decisão mais difícil que tomei. Respirei fundo. Eu não poderia chorar ali. Repirei fundo. Eu tinha que ser forte para Josh conseguir ser forte também. Respirei fundo. Encarei seus olhos da cor do mar que certa vez fomos visitar. Respirei fundo e disse que ele não precisava fazer sacrifício algum... Eu iria embora no primeiro avião para que Josh pudesse viver sua vida em paz. Era o sonho dele desde a infância e eu não devia ter importância suficiente pra estragar isso. Beauchamp negou inúmeras vezes, disse que eu não poderia fazer isso, que ele iria dar um jeito. Não aguentamos, as lágrimas caíram de vez.

Então eu o beijei. Queria que ele soubesse que eu não estava fazendo isso porque não o amava, muito pelo contrário, eu estou sacrificando meus sentimentos para que Josh continue bem. Sabíamos que poderia ser a última vez que aquilo poderia acontecer. Havia dor em nossos beijos, a cada estalo meu coração se quebrava um pouco mais. Segurei sua nuca, sentei em seu colo. Você pôs a mão em minha cintura e invadiu minha boca como quem esperou o ano inteiro por isso. Não foi calmo como da primeira vez, não foi pelos mesmos sentimentos que o da primeira vez... Mas foi mágico sim. Na medida em que tirávamos a roupa, meu coração batia mais forte. A cada deslize seu dentro de mim, minha respiração perdia o controle. Seu beijo, seu cheiro, seu abraço, seu sorriso, seus olhos, seu cabelo, sua pele. Eu queria guardar tudo aquilo em minha memória pra sempre.

Na manhã seguinte, mesmo com um pouco de dor pela noite passada, tive que arrumar minhas malas. Em três meses vivendo com ele, eu já havia adquirido inúmeras roupas, obejtos e lembranças boas... E tudo vai comigo. Você me olhava o tempo todo e, em certo momento, até tentou me ajudar mas começou a chorar. Então eu chorava também. Assim foi o dia inteiro. Cada beijo era sôfrego mas valia a pena. Já à noite no aeroporto, foi estopim de tudo. Não ligamos para nada nem ninguém, demos um beijo longo e molhado. Incrível, como todos os outros. E, quando chamaram os passageiros do vôo para Orange County, eu fui. Não deixei tudo pra trás, carreguei cada momento comigo, mas fui.

E não olhei pra trás... Porque sabia que, se eu fizesse isso, desistiria na hora e ficaria ao teu lado pra sempre.

N O S H O T E S   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora