Capítulo 7

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Tá bom, dona Luiza — murmurei na ligação com a minha mãe. Quando ela me ligou não passava das oito horas da manhã, já são onze horas e ainda estamos aqui — Eu estou bem mãe! — resmunguei pela milésima vez a mesma coisa.

— Então porquê não me atendeu ontem? — ela perguntou com aquela voz de eu sei de tudo garota.

— Porque ontem eu não estava bem, mas agora eu já estou — resmunguei por fim.

— Se não estava bem por qual motivo que não veio pra casa? — ela rebateu — Aya Lissa Rodrigues — Falou meu nome todo me fazendo revirar os olhos, odeio esse sobrenome — Você prometeu que se acontecesse qualquer coisa iria voltar no Rio nem que fosse pra passar um dia e esfriar a cabeça.

— Mãe, eu estou muito bem e eu não voltei porque não darei pausa no trabalho por causa dessas pessoas — respondi me controlando ao máximo pra não ser grossa, porque eu sou uma cavalinha mesmo quando eu não quero — Eu prometo que assim que der, irei ao Rio de Janeiro — fiz mais uma promessa, jurando pra mim mesma que essa eu cumpriria.

Nossa, mais uma promessa falha — ela debochou e eu gargalhei — Tenho que desligar agora, meu plantão vai começar — minha mãe é pediatra e meu pai dentista, os dois fizeram algumas aulas juntos na faculdade e foi assim que se conheceram.

— Tá bom, mamãe! Amo você! — murmurei dando graças a Deus, esperei ela se despedir para poder encerrar a chamada.

Acordei com o celular tocando, desde então, a única coisa que fiz no dia foi minha higiene pessoal enquanto falava com ela por chamada. Minha mãe sempre foi uma mãe coruja mas isso piorou uns cem por cento desde que meu irmão morreu de forma precoce.

Mal desliguei a chamada e logo outra preencheu a tela do meu celular. Hoje é dia!

— Fala com a rainha — murmurei atendendo ao Gabriel.

— Porra, quase duas horas tentando falar contigo, babaquinha — ele murmurou e eu ri.

— Reclama com a dona Luiza — respondi — Mas o que houve, corninho?

— Tô preocupado, né!? — rebateu — Já interfona pra portaria e autoriza minha entrada, que eu 'tô chegando!

— Ah, caô! — murmurei.

— Tô te falando — ele respondeu — tô desde ontem tentando falar contigo e nada, decidi vir pessoalmente.

— Nem fodendo — falei ainda sem acreditar.

Dona Lissa, vambora tô na portaria já! — resmungou.

Lissa é tua bunda! — rebati — 'Tô indo — falei rápido desligando a chamada.

Tive que descer as escadas correndo para chegar até o interfone e autorizar a entrada de Gabriel Lessa na portaria do condomínio. Pelo jeito que a casa tá silenciosa os meninos devem ter dormido extremamente tarde e ainda não saíram dos quartos.

— Não acredito — praticamente gritei me jogando em cima do meu amigo quando abri a porta.

— Só assim pra eu ter notícias da vossa majestade, né?! — ele murmurou fazendo uma reverência mal feita.

— Vem — praticamente puxei meu amigo até o andar de cima da casa, mais precisamente, meu quarto.

Ele colocou os sacos de papel do Burguer King sobre a minha cama e meu sorriso se abriu igual ao do gato de Alice no país das maravilhas. Ele se sentou na minha cama tirando o tênis.

— Como você está? — ele perguntou e eu sabia perfeitamente do que ele estava falando.

— Agora eu estou bem, um pouco triste mas bem — resmunguei abrindo um dos sacos de lanche e pegando batata frita — Ontem foi um sentimento massacrante, me senti impotente.

LEAL - Nobru [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora