Efemeridade

O ciclo não acaba; só pausa

Observando os ponteiros do relógio na parede do hospital se moverem, Wei Wuxian começa baixinho:

"Ei, Lan Zhan," chama seu marido, que imediatamente acorda de sua soneca. Já passa das 23h. "Você acha que fizemos bem dessa vez?"

Mesmo após milênios, Wei Wuxian faz a mesma pergunta toda vez que Lan Sizhui falece.

Sendo almas gêmeas, o alto nível de cultivo de Lan Wangji e o desenvolvimento do núcleo dourado de Wei Wuxian em seu novo corpo — junto com suas práticas de cultivo dual — fez com que ambos ascendessem à imortalidade juntos. Uma pena que eles foram os únicos a conquistar tal feito.

No entanto, felizmente, Lan Sizhui também adquiriu um nível muito alto de energia espiritual ao longo de sua vida. Isso deu à sua alma a possibilidade de reencarnação, uma ligação atemporal com aqueles que o consideravam como seu próprio filho, e a possibilidade de se reunir, seja como família, amigos, vizinhos ou apenas conhecidos.

"Mn," responde Lan Wangji, dando-lhe um rápido beijo na testa. "Conseguimos lhe dar uma vida digna e a morte foi indolor, não se preocupe."

Nesta vida, o casal teve a chance de ser os pais adotivos de Sizhui. Não importava quantas vezes estivessem nessa posição, Wei Wuxian não trocaria por nada o privilégio de ver seu filho crescer, já que ele não esteve lá da primeira vez.

Doze anos de puro amor e tranquilidade seguiram em suas vidas até que Sizhui foi diagnosticado com uma condição médica fatal, quebrando os corações do casal enquanto o médico explicava a gravidade da doença.

Embora o menino sentisse dor e desconforto, nunca deixava de sorrir ao ver seus pais entrarem no seu quarto de hospital, muitas vezes ainda usando suas roupas de trabalho e com olheiras profundas que complementavam uma expressão cansada. Era a parte favorita do seu dia e o casal pensava o mesmo que ele. Seu baba lhe contava inúmeras histórias sobre seu trabalho como jornalista, enquanto seu a-die suavemente passava os dedos pelo seu cabelo e, mais tarde, cantava canções de ninar até que o menino adormecesse. Ele era tão bom que tudo parecia um pagamento pelos incontáveis anos de serenidade.

Hoje, infelizmente, ele partiu dessa vida não mais do que 3 horas atrás. Ocorreu enquanto ele dormia profundamente.

É sempre doloroso ter que se despedir, e ainda mais quando nem mesmo se tem essa oportunidade. Ambos só queriam ver aquele rostinho, aquele sorriso doce, e ouvir aquela risada feliz pela última vez, por um tempo.

"Senhor Lan, senhor Wei," o médico responsável por Lan Sizhui os tira do transe. "Aqui estão a certidão de óbito e outros documentos para que assinem. Sinto muito pela sua perda."

Levantando-se em uníssono, ambos fazem o que foi instruído e, finalmente, podem deixar aquele edifício.

Ao entrarem no carro, Wei Wuxian é surpreendido por braços fortes envolvendo-o e uma respiração trêmula em seu pescoço. Lan Wangji nunca foi de falar muito, mas isso não significa que seu marido não saiba o quão doloroso isso é para ele, assim como foi para si; afinal, eles são almas gêmeas.

Wei Ying nada pode fazer além de retribuir o abraço, passando os dedos pelos cabelos negros de Lan Wangji da mesma forma que fazia com seu filho.

"Lan Zhan, Lan Zhan... logo teremos outra oportunidade de ver A-Yuan. Mesmo que o tempo que nos foi dado tenha sido curto, sempre haverá mais chances para nos reunirmos, sim?"

Wei Wuxian diz isso para os dois, tentando acalmar suas almas — embora o que ele disse fosse verdade, ainda assim era uma realidade dura em que se encontravam naquele momento — ambos sabiam que, em breve, teriam aquele menininho brincalhão entrando em suas vidas novamente.

Eles farão cada segundo valer a pena não importa em quantas vidas o acompanhem, porque nem mesmo um trilhão delas seria suficiente para expressarem seu amor completo por Lan Yuan.