Jantar

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Entramos no apartamento e fui correndo abraçar meu pai, eu realmente sentia falta dele.

–Ah, nem acredito que minha menina tá em casa, eu senti tanta saudade. – Me abraçou forte e depois colocou meu rosto entre suas mãos – Meu Deus, como você tá linda, eu amei seu cabelo nessa cor.

– Só deu uma engordada, né Sarah.– Minha mãe disse, mas sendo extremamente ignorada.

– Você também tá gatão, pai. – sorri pra ele que sorriu de volta. Meu pai não era mesmo um coroa de se jogar fora.

– Emily, vem cá me dá um abraço! –Ela foi em direção a ele com um sorriso estampado – Não fica com ciúme, você está linda também

– Obrigada, tio Léo – Eu achava muito engraçado como Emy já tinha aderido o vocabulário brasileiro de chamar todos os adultos de tio – E você está... Hidratado – Meu pai deu um leve empurrão nela e começamos a rir

– Pai, Cadê o Theo ?

– Ele estava no quarto arrumando o cabelo porque, segundo ele, tinha que ficar bonitão pra te receber. Espera aí, vou chamá-lo

Theo é meu irmão caçula de 3 anos. Quando nos mudamos pra cá, meu pai começou a sair com uma colega de trabalho e eles acabaram namorando por um tempo e até moraram juntos. Ela ficou grávida do Theo mas logo depois eles se separaram. Pois é, meu pai tem um dedo ótimo pra escolher uma namorada, mas, pelo menos ela não o abandonou com o filho bebê. Eles compartilham a guarda do Theo pacificamente.

Não demorou muito até todos estarem na mesa. Meu pai tinha cozinhado de tudo, até feijoada tinha feito. Ele sempre fazia essas comidas típicas com a desculpa de que era pra não nos esquecermos de onde viemos. E como eu poderia ?

– Hoje o senhor se superou, pai. Tá perfeito

– Que bom que gostou, filha. Se quiser pode levar um pouco lá pro dormitório pra vocês comerem depois. – Assenti com a boca toda suja de farofa.

– Por falar em dormitório, como estão as coisas na faculdade, Sarah?

– Tá tudo ótimo

– Como você tá se saindo nas apresentações dos seminários e trabalhos no geral?

– Ahn.. bem, eu acho. Não recebi as notas ainda

– Como assim "eu acho"? Você não precisa de nota pra saber se foi bem ou não. – Esse era o momento que eu temia. Tentei falar alguma coisa mas na hora ela me cortou. – Só de você não saber já mostra que provavelmente você foi péssima ! É impressionante sua incompetência quando o assunto é estudar.

– Pâmela, calma. Ela já disse que não recebeu as notas – Meu pai falou tentando amenizar a situação, o que nunca dava certo. Eu sempre achei que ele ainda a amava, ele nunca conseguia manter uma posição de autoridade quando o assunto envolvia minha mãe.

– É por isso que ela é desse jeito, Leonardo. Você sempre passa a mão na cabeça dela.– Voltou sua atenção pra mim – Suas notas no semestre passado foram horríveis. Você quer que isso se repita ?

– Como assim, minha nota mais baixa foi B- ! – Falei num tom desesperado. Era muito cansativo tentar ficar a altura de suas exigências.

– Dona Pâmela, – Foi a vez da Emy falar – Sarah está sempre estudando, sério. Só que é muita coisa pra estudar e ainda tem o trabalho dela e as responsabilidades do dormitório. As vezes pode ser difícil conciliar tudo. – Olhei em direção a ela e lhe ofereci um sorriso. Mas logo que ela disse isso, minha mãe soltou uma risada exageradamente sarcástica.

– Ô minha flor, trabalhar não é desculpa pra ir mal nos estudos. Quando eu estava na faculdade, minhas notas nunca diminuíram mesmo trabalhando em um shopping. Isso acontecer é uma completa falta de esforço dessa menina. E eu sinceramente não entendo porque Sarah ainda tá nesse trabalho que paga uma miséria, já que quem banca os custos da universidade é a gente. – suspirei pesadamente e cedi àquela discussão porque eu sabia que ela continuaria falando isso a noite inteira.

– Tudo bem, mãe, me desculpa. Eu vou me esforçar mais e aquelas notas não vão mais se repetir.

Depois daquele show, meu pai tentou descontrair contando coisas engraçadas que passa no trabalho e depois Theo cantou todo animado a nova musiquinha que aprendeu na escola. Depois das 22 horas minha mãe anunciou, para o meu alívio, que precisava ir embora, mas antes me puxou pro canto pra falar alguma coisa.

– Sarah, eu te cobro desse jeito pra você-

– Ter um futuro brilhante, eu sei – completei a frase que ela repetiu tantas vezes.

– Você não entende o que é ter responsabilidade de verdade. Sempre foi muito fácil pra você. – Pera aí, sempre foi fácil pra mim? Ela tá falando sério? – E é por isso que eu decidi que se você não for excelente nos exames que se aproximam, nós vamos parar de te ajudar financeiramente – Meu rosto foi de confusão pra indignação em questão de segundos.

– O que? E como você espera que eu banque meus gastos? Você mesmo disse que o que eu recebo é uma miséria!

– Isso não é problema meu. Você vai ter que se virar.

– O meu pai sabe disso? Ele nunca vai concordar

– O seu pai não tem que concordar com nada. Há tempos que o restaurante dele vem perdendo movimento e seu pai ainda tem que sustentar uma criança e aquela mulherzinha que não se dá o trabalho de arrumar um emprego. O que seu pai me dá pra te mandar é só pra dizer que ele manda alguma coisa, quem te banca lá sou eu !

– Primeiro que de onde você tirou que a Olívia é sustentada pelo meu pai? Ela tem o dinheiro dela e não precisa que meu pai a sustente – Ela revirou os olhos

– Tanto faz. Você defender essa mulher é patético. De qualquer forma, você está avisada, é melhor se sair perfeitamente bem, Sarah. Eu não estou brincando. Espero que tenha entendido. – depois de dizer isso, ela virou as costas e saiu pela porta sem ao menos dizer tchau.

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