1. Bem-vindo ao Sólon

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Eu não conhecia nenhuma daquelas pessoas. 

Pelo reflexo no chão extremamente polido, reparei alguns rostos apreensivos, incluindo o meu. A maioria tentando disfarçar o nervosismo com falsas expressões de confiança.

Jovens, ah os jovens... o futuro da nação. Sempre carregando a responsabilidade de construir um amanhã melhor. O que nunca nos contaram é que nossos pais e nossos avós também já foram o futuro da nação e digamos que... eles fracassaram no objetivo.

Todos que aguardavam ansiosos naquela sala de espera, haviam sido treinados para atingir a perfeição. Verdadeiras máquinas produzindo lucro. Para os fracassados: o trabalho braçal. Não podíamos demonstrar emoções, senão exporíamos nossa fraqueza. Aquele Jimin ainda não entendia a lógica do mercado profissional.

— Jimin... — Ela chamou minha atenção. 

Automaticamente meus ombros se ergueram em um alinhamento perfeito. Como um cão adestrado, eu já estava habituado a atender aos comandos de voz dos meus donos, vulgo meus pais.

Eu preferia ter ido sozinho, a presença dela era sufocante. Tanto Eunmi quanto Chul sempre fizeram questão de estar no controle. Para minha sorte, eu não era filho único. Tinha um irmão mais novo para dividir a atenção. E quando eu digo atenção, não é no sentido bom da palavra; aquela atenção que todo filho espera dos pais. Era uma cobrança implacável que nos obrigava a competir em busca do melhor resultado, ainda que contra nossa vontade.

Acontece que Jihyun se adaptava melhor nesse conceito do que eu. Nós éramos o que se denomina "família ideal", porém toda essa falsa imagem de perfeição escondia um lado podre e insensível.

A gravata apertava meu pescoço. Tentei afrouxar o colarinho com o dedo. Todo o preparo para a entrevista havia sido intenso, porém eu continuava me sentindo inabilitado para aquele ofício.

— Está preparado? — perguntou Eunmi me tirando do transe passageiro, enquanto limpava um cisco imperceptível no meu paletó. — Não fique com essa cara. Esse é o seu momento!

Ser bom nunca foi o bastante, a meta era ser excelente; de preferência, o melhor. Aulas de idiomas, instrumentos, notas máximas... tudo era parte de uma rotina exaustiva que ocupava grande parte do meu dia. Quase não sobrava tempo para ser uma criança comum, talvez por isso eu não tivesse amigos. Todo aquele tempo nunca mais voltaria e eu ainda não tinha consciência do quanto isso me faria falta.

Um por um os nomes iam sendo chamados. O candidato entrava por uma porta, era submetido à entrevista e saía poucos minutos depois. Não parecia um processo demorado, mas o suficiente para traumatizar-nos por semanas.

Os rostinhos derrotados e chorosos eram quase unanimidade, afinal de contas, só haviam cinco vagas a serem preenchidas por cinquenta concorrentes; isso após as pré-seleções.

A cada nome que chamavam, meu coração acusava uma ansiedade ainda maior. Por mais que eu não quisesse estar ali, eu queria mostrar para todos, e até para mim mesmo, que eu era capaz.

— Park Jimin.

Assim que aproximei, a mulher com uma prancheta nas mãos me direcionou um olhar desdenhoso. Olhei para trás esperando um último incentivo da minha mãe, mas como era de se esperar da senhora Park, ela apenas sinalizou para que eu mantivesse a postura.

Minha respiração estava prejudicada. Um frio absurdo circulava a região do meu abdômen; chegava a provocar um desconforto estomacal. Das minhas mãos, escorria um suor excessivo que eu tentava limpar discretamente no paletó. Respira, Jimin. Respira fundo. Isso vai acabar logo. Era o que eu pensava.

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