Sem mais tiros? [Sean Wallace]

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Já era tarde quando tudo escureceu. A chuva que caía em Londres era tão forte que cortou a luz de metade da cidade e, para variar, eu estava sozinha. Acendi algumas velas para iluminar a sala do apartamento e fui para a janela. Tentei ligar mais uma vez para Sean, mas sem respostas. Me deitei no sofá e encarei o teto. Estou tão cansada de ter que continuar passando por isso, mesmo depois de tanto tempo junto de Sean. Não aguento mais segredos, noites sozinha naquela cama enorme, dias sem vê-lo e sem explicações plausíveis, sempre ouvindo a mesma frase: 

"Trabalho, amor, não se preocupe! Vou te compensar" 

Flores, chocolate e sexo não compensam a preocupação que eu estou sentindo agora e que sinto sempre que ele não está ou não me responde. Quando aceitei sair com ele, mais de um ano atrás, eu já sabia no que estava me metendo, fui informada de que sair com ele seria algo que poderia mudar a minha vida.  Todos sabem da fama da família Wallace, mas nunca esperei que a minha vida fosse ser tão complicada. Ele prometeu que seria verdadeiro, prometeu que eu nunca passaria por isso e aqui estou eu, sem saber se em algum momento ele entrará pela porta ou se está morto. Fechei meus olhos e tentei dormir. 

Acordei com o barulho da porta abrindo. Quando me levantei, Sean havia sentado em uma poltrona próximo a porta, havia sangue por toda sua camisa e meu coração parou por um segundo. Ele tentou sorrir pra mim, mas seu sorriso logo virou um gemido de dor e sua mão foi para sua costela. 

- Sean! O que aconteceu? - me desesperei indo em sua direção e me agachando em sua frente. 

- Oi, amor... 

- O que aconteceu com você? Por que você tá sangrando? 

- Está tudo bem, já passou... 

 - Vem, vou te levar pro quarto. 

Apoiei o braço na cintura de Sean e o deixei colocar todo seu peso em mim, o carregando até a cama. 

- Sean, isso é demais pra mim, eu não aguento mais - seus olhos piscaram lentamente para mim -, eu não aguento te ver assim, eu não aguento ver o homem que eu amo dessa forma, machucado, distante... - meus olhos encheram de lágrimas e eu respirei fundo, mas ele não deu uma palavra - Deita aqui, vai ficar tudo bem. Amanhã nós dois conversamos.

- Deita comigo - ele pediu, sua voz tão fraca me fez cair no choro. 

- Não... Eu preciso de um tempo. 

Quando fechei a porta do quarto, o choro saiu como um grito de dentro do meu peito. Eu sabia que chegaria um dia que Sean não passaria mais por aquela porta, que receberia a notícia de sua morte igual recebemos a de seu pai e, sinceramente, não sou forte com a mãe dele, não sou nem parte disso, não tenho disposição e nem quero ter que passar por isso. Não consegui dormir. Me revirei na cama de hóspedes milhares de vezes e quando conseguia cochilar a imagem de Sean cheio de sangue vinha a minha mente. Assim que amanheceu fui até nosso quarto e peguei meu notebook, quando voltei para a cama procurei fotos e vídeos do inicio do nosso relacionamento. Era tudo tão diferente. Era feliz, era cheio de amor. Nossa primeira foto juntos ainda era o fundo de tela do computador. Eu não tinha mais lágrimas pra chorar, então quando o relógio deu seis e meia eu me levantei para preparar algo para comermos. Fiz o brownie que ele gosta e panquecas com bacon, bati o seu suco preferido e separei uns dois remédios para dor que achei na minha bolsa. Entrei no quarto e Sean ainda estava dormindo, me sentei na cama e apoiei o café da manhã onde seria o meu lado de dormir.

- Sean? - passei a mão em seu cabelo - Amor, acorda... 

Seu primeiro olhar pra mim foi sem a necessidade de palavras. Ele estava preocupado logo após seu primeiro segundo de consciência do que havia acontecido na noite passada. Minhas olheiras estavam enormes e meu rosto inchado de tanto chorar, então estávamos os dois ali, impactados e sem palavras para iniciar uma conversa. 

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