Samurais de Fukushima - a batalha contra os mortos

2. A ajuda

Alguns meses depois...

Em frente ao fogo, sentado em posição de seiza, sobre os joelhos, ele continuava seu ritual diário de afiar sua katana, passando a pedra d'água de forma lenta e contínua por toda a extensão da lâmina. Sua espada, degastada pelo tempo e imponente como uma boa katana deveria ser, quase não mostrava mais seus desenhos e escritos entalhados em sua lâmina, com um cabo encapado por finas tiras enroladas de couro tingido de preto e uma lâmina comprida, um pouco maior que o normal e com uma curvatura perfeita, seguindo um fluxo que fazia parecer que estava sempre em movimento de ataque.

Ao olhar pela janela percebeu que havia parado de nevar, o inverno já estava acabando e aqueles que agora não ofereciam tanto perigo devido ao frio e a neve, iriam logo voltar a atacar com a mesma ferocidade de antes.

As vozes no outro ambiente e os passos que se aproximavam ainda eram algo estranho para ele, mesmo depois de tantos e intensos meses de convívio, que não foram suficientes para tirá-lo da rotina de um longo isolamento.

- Sakuraba, rápido, precisamos de você! Tem um deles chegando.

Ele olhou para Kido e sorriu, colocou a pedra ao lado e levantou-se calmamente em direção à entrada do casebre, pensando que Thorin ou até mesmo aquele outro imprestável poderiam se livrar desse tipo de problema. Semicongelados, os não mortos eram alvos fáceis para qualquer um, por isso não se apressou, abriu a porta devagar e apenas esperou a distância exata para dar um chute lateral no joelho do monstro, que o fez cair grunhindo, esticando os braços lentamente, sem ter consciência do rápido movimento que iria separar a parte acima das narinas do restante do corpo, agora sem vida. Então, Sakuraba encostou a porta calmamente, olhou para Kido tranquilizando-a e voltou para ao lado do fogo com seu ritual de meditação.

Eles precisavam seguir viagem, mas o grupo não estava preparado para se defender sem seu apoio, ele sabia que precisava de ajuda para proteger todos dos perigos que iriam encontrar nessa jornada, sem falar que precisava controlar o problema que estava debaixo do seu próprio nariz e crescia a cada dia.

Sakuraba sabia quem poderia ajudar, mas como pediria ajuda para aquele que destruiu tudo que importava em sua vida? Como colocaria o bem do grupo na frente do seu desejo de vingança? Não seria mais fácil se livrar de Keiji e seguir viagem de qualquer forma? Não, não era o momento para velhos sentimentos, por isso ele pegou suas coisas, arrumou seu quimono, colocou sua capa de pele por cima dos ombros e foi de encontro ao grupo.

- Peguem suas coisas, chegou a hora de ir. Precisamos ir para Iwake e encontrar Sato, ele vai nos ajudar a chegar a Niigata. Vai ser o modo mais seguro para todos nós sairmos do Japão.

Todos olharam surpresos para Sakuraba, apenas Keiji abriu um sorriso irônico, sabiam que ele tinha razão, por mais que se esforçassem e que Thorin tivesse seus modos peculiares de ajudar Sakuraba com os monstros, não era o suficiente para proteger duas mulheres, um garoto e dois inúteis, mesmo que um deles ainda tivesse alguma utilidade.

Assim que o sol nasceu, pegaram o máximo de suprimentos e partiram em busca de Sato, Sakuraba na frente, com Kato ao seu lado, seguido por seu pai, Gifu, com Kido, Keiji, Mioshi e Thorin na retaguarda.

Se dessem sorte, sem encontrar grandes grupos de não mortos ou vivos, que muitas vezes eram piores do que os mortos, eles chegariam em meio dia ao vilarejo de Sato. O que iria acontecer quando chegassem lá, ninguém no grupo queria pensar ainda, todos se contentavam em ter um rumo e uma esperança.

O caminho não era nem um pouco animador, o primeiro vilarejo que passaram estava desolado, alguns casebres com marcas de fogo, outros apenas com as portas derrubadas, não existia nada vivo, só abandono e corpos decapitados. Mas a desgraça de uns, era a salvação de outros, em uma rápida exploração, Thorin apareceu com alguns pêssegos, que resistiram ao inverno e estavam esquecidos em uma das cabanas, junto com duas espadas velhas e cegas.