Capítulo Único

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E mais uma vez ele estava indo de encontro a ela. Os lugares sempre variavam, mas o propósito continuava sendo o mesmo. Se fosse algum gênio da ciência e, de hoje para amanhã, se tornasse um professor, provavelmente usaria esses momentos de sua vida para explicar o que é movimento perpétuo aos mais sábios que ele.

Tudo começava com uma ligação. Elas ocorriam algumas vezes ao ano, porém sem época certa. Elas... Só aconteciam e ela sabia que ele estaria lá.

Ele ficava tão irritado com aquilo. Quantas vezes perdeu cabeça como o maior de seus personagens e quebrava tudo de raiva. Em seguida, saía para beber até não conseguir mais saber a diferença das coisas a sua volta e, no fim, acabava deitado em sua própria cama quase morto de ressaca com Marco tentando ajuda-lo. Sendo este seu melhor amigo, sabia bem o que significava tudo aquilo... Passara por isso com ele todas às vezes.

Não era pra ser daquele jeito! Não mesmo! Mas no fim, ele sempre ia ao encontro dela.

Mas dessa vez foi diferente. Estava em um almoço com os amigos, recebeu a ligação, pediu desculpas, pegou seu casaco e foi embora. Não ficou tão irritado... Na verdade, dessas últimas vezes ele não ficou irritado nenhuma vez. Simplesmente foi sabendo bem o que iria ouvir e, por mais que já tivesse dito milhões de vezes a ela o que se passava em seu coração, estava cansado dessa situação agoniante... Para os dois.

Era uma tarde fria de domingo. O céu estava nublado, garoava, ventava... Típico da Irlanda.

O ar era gélido e lá estava ela sentada no meio fio. Cabelos soltos e bagunçados pelo vento. Encarava seu par de All Star com uma cara não muito boa, mas, estranhamente, a melhor de todos esses anos.

Ela escutou as passadas dele pela rua deserta e sentiu frio na barriga.

"É sempre a mesma coisa" ela pensou, mas logo tratou de se conter. Hoje seria bem diferente das outras vezes.

-Mas vejam só... –Levantou os braços, rindo. –Se não é meu garoto dinamarquês! –Ele sorriu, negando com a cabeça e sentando-se ao lado dela no chão. –Saudade de você! –Enroscou seu braço ao dele, encolheu seu corpo, e beijou sua bochecha.

-Também... –Deixou aquela palavra no ar e respirou fundo vendo a fumaça esbranquiçada sair de seus lábios. –O que aconteceu dessa vez?

-Aí! –Bateu no braço dele. –Não posso sentir saudades mais?

-Claro. –Sussurrou.

-Quando vi você chegando, eu não acreditei. –Apontou para caminho que o mesmo veio e ele olhou para onde ela apontava. –Parecia outra pessoa.

-Mas eu ainda sou o mesmo... –Abaixou a cabeça.

-Pois eu não acho. –Passou a ponta do nariz na linha do rosto do garoto e o mesmo sorriu levemente. –Antes, quando você vinha, eu via um menino imaturo, irritado, que não ligava pra ninguém. Possessivo... Individualista. –Deitou a cabeça no ombro dele, que tirou um maço de cigarros do bolso de dentro do casaco, pegou um tubinho e o acendeu, tragando devagar, permitindo a fumaça tomar seus pulmões e soltando-a. –Hoje, eu vejo um homem. –Concluiu. –Comprometido, calmo, paciente, responsável... Meu Alex está crescendo. –Soltou os cabelos de Alex, que estavam presos em um coque alto, caindo até a altura de seus ombros largos. O vento os balançava quase que como uma dança não sincronizada com alguns fios caídos em seu rosto angelical. –E está com o cabelo melhor que o meu!... Quando aconteceu isso?! –Ficou indignada e os dois caíram na gargalhada.

-Ando fazendo hidratação nele. –Deu de ombros. –Devia tentar nessa jubinha também. –Bagunçou o cabelo dela.

-EI! –O empurrou e tentou arrumar os cachos, enquanto ria. –Af! Desisto! –Cruzou os braços fazendo um bico irritado. Quase que involuntariamente, Alex a abraçou pelos ombros.

Female Robbery ||  Alex Høgh AndersenOnde histórias criam vida. Descubra agora