William Shakespeare diz: "O amor não se vê com os olhos, mas com o coração." Quem vai negar que ele tem razão?
O amor precisa ser sentido, ser recíproco, verdadeiro, para assim, acontecer.
"APENAS UM DIA" nos mostra as várias faces do amor e como...
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TREZE HORAS
Após a catequese, Helena Torquato foi a costureira repassar o modelo da batina para a primeira eucaristia que seriam confeccionadas para as crianças. O tempo estava horrível, certamente cairia um temporal, ela tinha que voltar para casa com urgência.
Já era tarde, Samira certamente já tinha dado o almoço das crianças. E provavelmente estava à beira de um colapso com aquelas pestinhas, de todos os empregados apenas ela tinha restado, cuidava das crianças enquanto Helena organizava todo o resto. Samira era uma jovem gentil e calma que trabalhava há pelo menos três anos na casa dos Torquato. Suas filhinhas a amavam muito e na hora de escolher qual funcionário iria permanecer, não foi difícil tomar a decisão.
As filhas de Helena se chamavam, Cristina, Catarina e Clara, de dez, sete e dois anos respectivamente. Eram parecidas uma com a outra, pequenas guerreiras de cabelos encaracolados assim como a mãe, lindas, negras e de sorrisos vibrantes. Se não fosse pela diferença de tamanho, muitos poderiam confundi-las.
Cristina, a mais velha, já carregava muita pressão em seus ombros, mas isso não era certo. Jesus Cristo! Ela só tinha dez anos, uma criança não deveria passar por tudo aquilo! Helena sentia-se culpada, mas não permitiria que nada atrapalhasse o futuro das filhas. A condição atual seria superada!
Helena caminhava pelas ruas e os olhares caiam sobre si. Antigamente, isso era muito comum, pois nunca houve muitos negros em Santa Cruz e geralmente os poucos que havia não costumavam ser bem tratados. Mas naquele momento os olhares eram por outro motivo. Pena! E como Helena detestava que sentissem pena dela. Era com isso que lidava todos os dias, além de toda a tragédia, tinha que lidar com a pena de todos!
Tragédia? Era sobre isso que todos cochichavam, o assunto parecia que nunca iria morrer! E, ah, como foi horrível! Helena viu tudo da varanda de casa.
Isaque andava a cavalo como de costume, porém o animal viu uma cobra na estrada próximo à propriedade e se assustou, dando um salto que o derrubou seu esposo do cavalo, infelizmente ele ficou preso na cela e foi arrastado até a fazenda vizinha. A imagem passou pela cabeça de Helena novamente, que teve que piscar várias vezes com força para dissipar as lembranças horríveis.
Realmente ela era digna de pena.
Havia se passado dois meses. Os Torquato não eram ricos, mas sua plantação de maças gerava alguma renda e Helena conseguiu arrendá-la. Ela administrava tudo sozinha e organizava as economias. Assim, conseguiria manter suas meninas. Mas por quanto tempo? O ramo de plantações era imprevisível na região e Isaque sempre conseguia se reinventar em meios as crises. Helena apenas imaginava se uma nova crise agrícola afetasse a região. A temporada de chuvas estava se iniciando e ela ficava apreensiva. Sem Isaque, como ela enfrentaria as crises? Ele era o seu porto seguro.