Capítulo 10

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Música: Sweet Rider 5 - Dark Stares

Bastaram três segundos para ela ver os sapatos italianos pretos e os cabelos loiros e saber imediatamente de quem se tratava

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Bastaram três segundos para ela ver os sapatos italianos pretos e os cabelos loiros e saber imediatamente de quem se tratava. Depois de todos aqueles meses infernais ao lado dele, agora era capaz de sentir sua presença a metros, a quilômetros de distância. Não era à toa que passou o jantar com uma sensação estranha apertando seu peito, como se de algum modo farejasse o perigo que a aguardava.

Quando o viu ao se levantar para ir ao banheiro, o plano de fuga já estava pronto em sua mente. Atraí-lo para o banheiro feminino. Correr para a cozinha. Entrar no depósito. Sair pela porta dos fundos. Desaparecer na noite. O mais rápido possível. Não havia tempo para se desculpar com o homem que jantava com ela. Não havia tempo para processar a informação de que Igor estava na mesma cidade. Não havia tempo para se perguntar por que M. não a avisara sobre isso. Não havia tempo para entrar em pânico e pensar no que aconteceria com ela se não conseguisse escapar.

Angelina invadiu a cozinha com os olhos cinzas saltando das órbitas, derrubando algumas das bandejas dos garçons que passaram por ela. Um dos cozinheiros tentou impedi-la de avançar para os fundos, e quando prendeu a mão em um de seus pulsos, ela se desvencilhou com um puxão que a fez voar longe até ao chão. O estrondo da queda mesclou-se ao barulho de uma enorme panela caindo também, espalhando um ensopado por todo o piso da cozinha, o líquido aproximando-se de seus pés, molhando a sola das sapatilhas de camurça. Os demais funcionários apenas a observavam, estáticos, segurando os utensílios como estátuas, enquanto ela se reerguia e saía transtornada em direção à despensa.

Ao entrar, o cheiro de alimento fresco tomou seu olfato na escuridão. Lá fora, ouviu passos duros e ritmados em meio à gritaria da cozinha.

— Eu sei que você está aqui, Giulia! — Igor gritava, e ela captou o barulho de objetos se quebrando e portas se abrindo e se fechando. — E prometo que não sairei daqui enquanto não encontrá-la e levá-la de volta comigo, querida...

— Senhor, este local não está autorizado a receber clientes. Vou ter de pedir para que o senhor saia, por favor.

Giulia!

Angelina estremeceu.

— Me solte, eu sei que ela está aqui, eu sei disso, me solte agora ou...

Ao mesmo tempo em que Igor abriu a porta do depósito, Angelina fechou a da saída, atirando-se na escuridão fria e silenciosa da rua.

Ela não pensou na loucura que estava fazendo ao se jogar para dentro do primeiro veículo aberto que encontrou — um Mini Cooper gracioso, o cérebro em pânico registrou vagamente.

— Vá o mais rápido que puder, por favor! Só vá! Agora!

O comando foi prontamente atendido, o carro arrancando em direção à rua principal. Os pelos de seu braço arrepiaram-se com o frio polar que fazia ali dentro. O interior do Mini Cooper era escuridão em sua forma mais pura e veludosa. Angelina apoiou as costas nuas no banco de trás, o couro macio afagando sua pele. Fechou os olhos por um instante. Estava segura. Conseguira escapar.

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