A água fazia seu percurso natural, caindo sobre o penhasco, onde os dois se encontravam sob o som de suas gotas. Eles encaravam um ao outro, como se pudessem ver seus maiores medos apenas assim. Afinal, os olhos são a janela da alma. Ela não se sentia intimidada por ele. Sabia o que realmente se escondia por trás daquela máscara a qual teve o desprazer de conhecer.
Por outro lado, ele sentia repulsa só de olha-la. Não suportava pensar que a mulher que tanto amou e confiou o havia traído. O amor que algum dia se fez presente em seu coração, tornou-se o ódio que hoje o domina.- O que está esperando? Não é você que me quer morta? - O homem percebia a mulher corajosa e destemida que ela era. Se não fosse pela raiva que o corroía, podia dizer que admirava isso. No passado já se sentiu assim. Agora era outra coisa. Ódio. Ele a odiava com todas as forças.
Ela não estava totalmente confiante, pois temia pela vida, mesmo que nenhum som saísse de seus lábios, e que mantivesse seu semblante sério. Sua única preocupação. A única dor que a consumia, era a certeza de que se morresse ali, os filhos ficariam jogados no mundo, sem mais nenhum parente vivo que pudesse acolhê-los.
- Porque a pressa? Temos todo o tempo do mundo querida. - Ele se aproxima em passos lentos, o que a faz recuar. Ele ainda mete medo nela.
- Estás com medo? - Pergunta após parar para olhar para ela com despreso.
A mulher se mantém calada.
- Interessante. O medo não deveria habitar em você, já que tentou me matar. Com certeza você já deveria saber as consequências caso falhasse.Suas palavras duras e acusativas, fizeram algo se quebrar dentro da jovem mulher, ela poderia ser tudo, menos uma assasina.
- Eu já lhe disse que não fui eu...Mas se não acreditas em mim, o problema é teu. Se eu realmente quisesse te matar, já o teria feito há muito tempo.
Ela estava exausta, mas não fisicamente. Estava cansada psicológicamente. Na verdade de tudo aquilo. Seu único desejo era voltar para casa e ver seus filhos, que nesse momento deveriam estar esperando por ela, preocupados por sua demora.
- Minha bela, você é uma mulher inteligente e calculista, com certeza quis ganhar minha confiança primeiro, fez eu me apaixonar por você cegamente...para mais tarde dar o bote final...- Suas palavras eram frias. Carregadas de escárnio e desdém, cada uma, causando mais raiva na jovem, que se odiava por tê-lo amado uma vez.
Seus olhos inchados de tanto chorar, lutavam para não derramar nem mais uma lágrima. Seus pés exaustos por ficarem em pé por tanto tempo pediam descanso.
E por um instante, ela se desfez da mulher forte que era, seus joelhos foram de impacto com a terra úmida; ela estava derrotada, na verdade se sentia assim. Lutou mas perdeu a guerra. Não aguentando nem mais um segundo, seus olhos transbondaram com as lágrimas acumuladas.- Quer saber? Eu não ligo mais! Pode me matar! Acabe logo com isso, já não suporto mais esse joguinho. - Quando ela disse isso, um sorrido ladino se formou nos lábios do terrível homem. Ela havia dito o que ele esperava ouvir.
- Querida, achas mesmo que seria tudo tão fácil? Que minha vingança se resume a te matar? - Ele se aproxima dela e se abaixa, ficando na altura de seus olhos. Com a ponta dos dedos, fixa o rosto dela, para que possa olhar para ele. Sua íris está dilatada. O ódio se sobrepondo ao amor. O ódio era maior. Tinha que ser.
- Se pensaste que eu seria tão imbecil, estás muito enganada. A morte é uma dor momentânea, não seria algo prazeroso de se ver. A minha vingança é muito mais terrível que isso. Só vou estar satisfeito quando puder te ver sofrer a vida toda. Apenas isso me interessa te infligir tanta dor quanto infligiste a mim. - Ele fitava a bela mulher a sua frente com perversidade.
Ela não sabia, mas ele não tiraria sua vida. Lhe faltava tamanha coragem. Porém ele tinha uma carta na manga e ela só estava interessada no que ele disse. Não sabia se estava mais curiosa ou com medo do que ele pretendia fazer. A mulher temeu suas próximas palavras.- Uma hora dessas Eleonor já seguiu minhas ordens.
-Ordens?
- Eu a mandei pegar as crianças. -
O desespero tomou conta dela.- Por favor...não eles...não meus
filhos. Faça o que quiser comigo, mas não machuque meus filhos.
- Ela chorava. Eles eram sua vida. E viver em um mundo onde eles não existiam era uma ideia insuportável. Seria como se o mundo não existisse. Como se o mundo dela desabasse sobre sua cabeça.
Ele riu com escárnio. Gostava de ver como ela implorava.- Eles são meus agora...
- Não...por favor...você não pode matá-los. Não faça isso...são apenas crianças. - O desespero nítido em seu rosto não fazia o homem se orgulhar de tal ato.
"Era preciso, ela tentou me matar", pensou. Em seu subconsciente lutava contra o desejo de arranca-la daquele chão e a levar para casa, dizer que era tudo uma brincadeira de mal gosto e que tudo iria ficar bem. Mas antes que mudasse de ideia, tratou de chutar este pensamento para fora de sua mente. Ela fez o que fez sem remorso algum, porque ele sentiria pena dela? "Ela merece algo muito pior, estou sendo misericordioso até, se não fosse por mim, Louis já a teria matado."- Não irei matá-los, jamais faria algo assim, como você disse, eles são apenas crianças, a inocência corre em suas veias...por enquanto. E você não vai tirar isso deles com essa sua mente perversa. Eles apenas irão para um lugar que nunca poderá encontrá-los. Me encarregarei de que sejam adotados por uma boa família...e pensando bem, quem sabe não estou fazendo um favor? Poupando a vida deles? Afinal ninguém sabe do que você é capaz.
Ao dizer isso colocou-se de pé e alinhou o terno que sequer tinha se amarrotado alguns segundos atrás. Teve uma última visão de sua ex amada e se virou para sair o mais rápido possível dali.
- Sei que nunca irás acreditar em mim. Eu nunca faria isso com você, jamais tentaria te matar, eu te amava, na verdade acho que ainda amo. - Involuntariamente ele se vira e se depara com a jovem de pé próxima ao pechasco. De costas para ele.
- Obrigada por não matar meus filhos, mas eu não sou capaz de viver sem eles.E ao dizer isso, se jogou, sem ao menos dar a chance ao homem de fazer qualquer movimento.
Aturdido ele correu até a beira do penhasco onde ela estava a poucos segundos e olhou para baixo. A água já a havia levado.
Ela havia ido, e levado sua felicidade e o amor, que mesmo lutando para não admitir, sentia por ela.Uma lágrima solitária correu pelo seu rosto, orando mentalmente para que ele realmente estivesse certo sobre sua acusação, caso contrário, jamais se perdoaria.
[...]
Queria agradecer a minha amada escritora Carol Catalani que me ajudou a revisar.
Vão ao seu perfil CarolCatalani
E leiam suas obras fantásticas.

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Em Busca Da Verdade
Rawak- Eu a conhecia o suficiente para saber que nunca nos abandonaria Anne, e eu irei te provar isso. - Heron fala com tamanha determinação após bebericar o Whisk que se encontrava em suas mãos. Com raiva pelo irmão não ouvi-la de desistir da ideia absu...