Prólogo

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Era possível ouvir risadas altas, estas se alastravam por todo andar, elas contagiavam quem estava passando por ali, fazendo-os sorrir imensamente.

Os sons vinham de uma sala ao final do corredor, nela várias camas se encontravam, cada uma ocupada por uma crianças que ria descontroladamente das palhaçadas que um palhaço fazia, este fazia truques, o mais clichê de todos era o da flor que espirrava água, e o palhaço arteiro espirrou água em sua ajudante no crime: fazer aquelas doces crianças rirem.

Eles iam de cama em cama, brincando com cada criança, arrancando um enorme sorriso dos rostos que viviam tristes na maior parte do tempo, seja pelo cansaço, pela falta de pelos em seu corpo, pela química e em alguns casos radiação que havia em seu corpo. Todos eles enfrentavam uma batalha interna, porém sempre que podiam sorriam, pode ser visto como um pesar ou uma dádiva que elas sorriam apenas quando aqueles dois atrapalhados faziam bagunça e travessuras por todo ambiente.

A "criança" mais velha tinha seus quatorze anos, Mia, que não havia perdido seus cabelos, entretanto já estava no processo de perdê-los para essa terrível doença, mas era mais animada, sua força era admirável, ela não se deixava abalar por seu estado de saúde e muito menos pelos tratamentos, muita das vezes era quem secava as lágrimas de seus pais, que tinham um medo descomunal de perdê-la, sua princesinha, tão forte, o suficiente para falar todos os dias aos mesmo que estava bem, que tudo iria ficar bem.

A palhacinha chegou perto de Mia e lhe estendeu uma flor, que a mesma pegou agradecendo.

- Gostou, Princesa Mia?- Perguntou a palhaça.- Não corro mais o risco de ser mandada a forca? Porque, sabes, eu amo meu pescoço, meu corpo inteiro na verdade, de preferência com vida, será que sua majestade poderá ter benevolência e piedade perante essa mera mortal?- Perguntou abaixando-se em uma reverência exagerada, olhando-a com uma suplica, que quem visse a cena acreditaria cem por cento em sua atuação.

- Deixe-me pensar por um instante, cara plebeia. Tu pedistes minha benevolência por tua vida, minha cara, porém não sei se devo ter, não quando sei que se eu apertar esse botão um punhado de água virá em minha cara, você senhorita Reyes é uma traidora, como ousa tentar tal atrocidade contra sua princesa?- Indaga Mia, indignada.

- Me perdoe majestade, era apenas uma brincadeira inocente, nada iria acontecer-te nada, garanto-lhe. Por favor, não me jogue aos leões, ou me mande para calabouço, ou forca, muito menos para a guilhotina.- Junta as mãos como se fosse orar e se ajoelha ao chão, clamando por sua vida.

- Oras, acha que estamos em que século? XV? XVI? Você apenas será condenada a morte, por traição, seria morta com uma injeção, nada de derramar sangue, somos pacíficos. Mas que barbaridade!- Exclama indignada, virando o rosto com um ar de superioridade e fazendo cara de repulsa, repulsa pela jovem a sua frente.

No estante seguinte desataram em uma gargalhada, extremamente audível, abraçaram-se apertado, enquanto a palhacinha subia em cima da cama para ficar mais próxima da menina. Ela acariciou os cabelos castanhos claros da menina, que fechou os olhos aproveitando do carinho.

- Como está se sentindo pequena? Está muito enjoada hoje?- Olha nos olhos cor mel da criança.

- Estou bem, só um pouco, já tive dias piores, hoje consegui comer sem vomitar nada, mas e você está bem? Finalmente arranjou um namorado? Não acha que está na hora de conseguir um? O médico do cérebro, como é mesmo o nome dele?- Levanta uma sobrancelha, intimando-a a falar, como se ela não soubesse seu nome.

- O neurologista, o nome dele é Sacha, o que tem ele, Mia?- Faz uma careta de quem não estava entendo nada.

- O que tem ele? Só o fato de que ele tem um abismo por você, porque uma queda deixou de ser a muito tempo, na verdade acredito que nunca foi uma queda, você chegou e já fez o pobre coitado cair de amores, ele vem tentando algo com você à quase um ano, por que não dá uma chance para ele? Seria bom dar um pausa do trabalho e se divertir um pouco, coisa que eu acho que você nunca fez na sua vida.- Revira os olhos mel para a mais velha.

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