Barraca da Sinceridade

Capítulo treze

-É pra isso que estou aqui -Tenten continua o encarando, sem se abalar com o olhar de certa forma "desafiador" direcionado a ela

-Ótimo -Neji entra na sala e se senta na frente de Tenten, deixa a mochila do chão, a encarando sério -A quanto tempo você se corta?

-Vai gastar seu dinheiro para perguntar sobre mim? -Ela não podia negar que estava surpresa, não sabia que aquele seria o "assunto" tratado naquele momento 

Ela sabia sim que Neji tinha curiosidade sobre aquele seu problema, e ela admitia que também tinha sobre ele. Aquela cena de seus braços marcados não saia de sua mente, ele fazia isso também, ou como ele disse, chegou a fazer, mas já fazem três anos, como ele parou?

-Aqui quem faz as perguntas sou eu -Responde ainda sério 

-À cerca de.... -Respira fundo, era um assunto delicado quando tratado de maneira séria -Seis anos

-Certo -Neji também respirou fundo, como a situação chegou a esse ponto? Seis anos? -E nunca pensou em... Sei lá, tentar parar?

Tentar parar

Parece tão simples

Mas são duas palavras tão irritantes, que atormentam a vida da menina. Sempre que pensava nisso, parece que a vontade crecia naquele momento, e sempre acabava marcando seus braços com sangue, o chão, a pia, e as vezes muitas outras coisas...

-Já mas... É como uma droga acho, não é simplesmente largar, não da pra largar - Ela estava lá pra falar a verdade, então, iria falar

Enquanto isso Neji pensava em como as coisas chegaram a aquele ponto, seis anos é um terço da vida deles, seis anos de um provável sofrimento que aparenta não ter fim. Queria sim ajudar, queria tentar ajudar, mas só tinha um jeito de fazer isso naquele momento, e tinha medo de piorar situação, mas já estava ali não é? Não poderia voltar atrás agora

-Tudo bem... -Agora era a hora da pergunta, sabia que era uma coisa delicada, que não podia ficar cutucando a ferida daquela maneira, mas naquele momento era necessário -Nunca cogitou ajuda psicológica?

A pergunta pairou no ar, foi solta tão rápido quanto foi escutada. As mãos de Tenten suaram, um frio tomou conta da sua barriga, e uma grande nuvem de desconforto ficou no ambiente

-Ah... -Ela não queria responder, mas naquele momento era o "trabalho" dela -Sim e  não na verdade... Quando eu penso nisso, minha mente me irrita pensando ainda mais em me machucar, e minha vó não pagaria pra mim, eu não tenho dinheiro pra isso e não quero preocupar o bolso das minhas amigas entende? Elas já fazem muito por mim, trazer  mais uma coisa pra preocupa-las seria irritante...

-E se outra pessoa pagasse? - Neji soltou sem querer de uma forma meio boba, não era pra ser a quarta pergunta, mas saiu, e não achou ruim no fim, era uma boa pergunta 

-Por que você pagaria? - Tenten o encara realmente curiosa, sabia que ele estava falando dele. De certo que nos últimos três dia sua vida virou de cabeça para baixo, pode-se dizer que fez novos amigos, mas por que um deles se preocuparia tanto?

-Porque eu já passei por isso -O rapaz tirou a jaqueta jeans que vestia, mostrando assim (além de belos braços) as cicatrizes, que ele chamava carinhosamente de marcas do desespero -Eu consegui parar sozinho, mas porque tinha vergonha de ir em um especialista e dizer o que eu tinha, o que eu fazia, mas agora eu vou, eu ainda estou me acostumando a me abrir mas... Isso com certeza me ajudou e ainda me ajuda

-E como sabe que comigo vai ser igual? Que eu não vou acabar com o corpo morto no chão depois de me jogar de um precipício?! -Seu tom de voz aumentou um pouco, não gostava de pensar nisso, ou repensar, mas de que adiantava se sempre acabava assim em seus devaneios? Por que aquele menino idiota se preocupa tanto com ela?

-Porque você é forte -Por que esse menino idiota acredita tanto nela? -Você não tem medo de falar dos seus problemas, por isso achou amigos que se preocupam, a alguns dias atrás eu não via você assim, do jeito que é, te via como uma das meninas estranhas que a Hinata andava. Mas na verdade não é isso e você sabe. Você já sofreu muito Pucca, isso pode parar, mas depende de você aceitar e acreditar, não só eu. Eu sei que você consegue, e também sei que no fundo você também acredita, mas não adianta nada pensar e não agir, eu não quero que você acabe com o corpo morto no chão depois de se jogar de um precipício, e sei que você não vai acabar assim. Como eu disse, você é forte, precisa acreditar mais em você mesma, e na falta de você acreditar, eu e mais uma trupe inteira acreditamos por você, tudo bem?

Lágrimas, quando foi a última vez que ela chorou de felicidade?

-Você... Você ainda tem uma pergunta - Tenten não sabia o que falar, ela estava chorando! Não tem uma frase boa para essa hora 

-Vai aceitar? -A pergunta ficou no ar por alguns segundos, mas não muito tempo 

-Você... Vai comigo? Pode parecer idiota mas eu tô nervosa.... - Tenten acaba corando depois de perguntar, ela se abriu um pouco com outra pessoa, se sentia envergonhada de faze-lo

-Vou, e vou considerar isso como um sim -Neji se levantou, pegou a jaqueta a colocando e a mochila jogada no chão -Quer ir tomar sorvete depois da aula Pucca?

-Suas perguntas acabaram

-Essa é bônus, quer? -A menina encara o rapaz de cima a baixo

- Bom... Considerando que temos preocupações maiores como: fujir do pai da minha amiga, prováveis assassinos nos perseguindo e pistas de assassinatos na minha casa, eu aceito, preciso de férias da minha vida

Neji já ia virando de costas, quando ouviu ela aceitar, olhou pra trás ainda incomodado com algo

-Tudo bem, depois da escola então - Neji deu uma risadinha e foi em direção à porta da sala, mas antes de fecha-la , ele a olha de novo -Não chora, você fica mais bonita sorrindo 

-Tudo bem...

Quando Neji saiu da sala, Tenten não conseguiu mover um músculo, ficou ali sentada, pensando no que aconteceu. Era até hipócrita o jeito que ela confiava naquele babaca que nem tinha o contato não é? Mas algo nele a passava a confiança que precisa pra seguir em frente, talvez o fato de confiar nela

Era difícil pensar em como ela realmente sofreu esse tempo todo sozinha e ao mesmo tempo acompanhada, odiava pensar e repensar em como não sabia o que fazer de seu futuro, ela já tinha dezoito anos, logo acabaria a escola, o que faria depois? Sem planos, sem esperanças, sem nenhuma ideia para o que poderia vir...

Talvez, só talvez, ela tenha pensado em como seria namorar alguém.

 E talvez, só talvez, esse alguém tenha sido o Hyuga