23 de agosto de 2015

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 O pai da Lis estava internado em Londres. Quando saira do hospital, comemorara que passaria o aniversário da Lis junto com ela. Ele veio para Los Angeles e eles passaram a noite do dia 21 juntos, então o pai da Lis foi dormir e a Lis também. De noite, ela acordou e foi ver se o pai estava bem. Pelo o que eu entendi, ele já havia escrito uma carta para a Lis e estava na cabeceira da cama. O pai da Lis morreu dormindo. Foi o que o Liam me contou. Tentamos ajudar a Lis, mas ela parecia forte demais, como se estivesse cuidando de um apartamento á venda. Ela chamou quem quer que seja, levaram o corpo, falaram o horário e causa da morte - um câncer nos pulmões, sintomas do fumo, que se espalhou pelo corpo e bem, não teve cura -, a Lis escolheu o caixão branco e dourado, escolheu um terno preto e digno de um magnata, escolheu os sapatos e até mandou engraxa-los, escolheu as rosas do funéral, a foto para pôr no quadro e uma na lapide, escolheu o relógio de prata que ainda funcionava - o que me levou a pensar para que ele precisava, mas não falei nada -, ela escolheu até o gel de cabelo em uma farmácia alegando que o do pai tinha acabado. Ela escolheu e preparou tudo nos minimos detalhes. 

 Hoje foi o enterro. Sem um funéral, sabe? O corpo no caixão foi levado até o cemitério, estava fechado. Além de eu, Lis, Niall, Zayn, Louis, Liam e Zayn, haviam uns 10 primos, 20 tios, 7 irmãos, colegas de golf, trabalho, vizinhos e tudo mais. A Lis estava com um vestido simples preto e perólas no pescoço. Ela não falará nada em dois dias, não a vi chorar também. Fiquei ao lado dela recebendo as pessoas, alguns choravam e outros diziam "sinto muito, ele era um cara legal" ou então "Oh, minha queria, eu sinto muitissimo! Vai ficar tudo bem, ok?" e então a abraçava mais pelo consolo próprio do que para consola-la.O fato é que o Senhor Henry Willian Brandy era sem dúvidas, um homem muito legal, respeitavél e que criara a sua filha de 14 anos sozinho depois que a sua esposa fugiu.  

 Durante todo o enterro fiquei ao lado da Lis. Vi ela jogando um papel dobrado, uma rosa e um pouco de terra no tumúlo. Então ela se virou e seus olhos eram gélidos e sem sentimentos. Se eu me assustei? Hm... Talvez. Muito. Não sei o que acontecera com ela, mas ela só parecia alguém sem alma. Ela passou por mim e pelos meninos que tinham a mesma espressão que eu. Ficamos mais, esperando que todos fossem embora. E assim foi. Cada um jogou rosas brancas no caixão e foram embora. 

 Mas então tudo caiu. Onde é que a Lis estava? Ligamos para o celular dela mil vezes cada. Niall estava desesperado, Zayn parecia calmo, mas seus dedos não paravam de digitar a menos que ele levasse o celular à orelha. Louis disse que iria chamar a polícia, mas o que iriamos dizer? "Oi, seu policia, minha amiga Lis Brandy, sim a famosa que acabou de perder o pai... Obrigado pelos pesâmes, mas então, ela sumiu. Eu sei que ela tem 20 anos e sei que só tem uma hora e meia, mas ela sumiu, você, por favor, poderia chamar todos os policias da área para acha-la? Obrigado. Sim, eu sou o Harry Styles... Legal que sua filha me ama, manda um beijo para ela... Claro. Tchau". Parece a coisa mais certa e sã de se fazer, claro. 

Liam foi para a casa do pai da Lis ver se encontra ela lá, o Zayn foi junto, o Niall disse que procuraria no hotel - não sei se isso é verdade, mas acho que ele vai sair pelas ruas buzinando e gritando "LIS, MINHA FILHA, CADE VOOOOOCÊ?" - e eu e o Louis procuriamos pelos arredores do cemitério. Eu realmente odiei ter que ficar no cemitério ou perto dele, mas tudo bem... 

- Ela parecia muito... Fria... - Louis falou olhando em volta procurando. 

- Acho que talvez seja o jeito dela, sabe Louis? De ser forte. Ela "desliga a dor". 

- Deve ser muita dor... - Ele suspirou e continuamos andando pelo cemitério por longos 40 minutos. Meu celular começou a vibrar do meu bolso e eu achei que seria mensagem do Zayn que está mandando de cinco em cinco minutos perguntando "Já acharam ela?" como se ele tivesse copiado e colado diversas vezes, mas sei que o moreno é tapado e estão digitando de novo. Peguei o celular e quase o deixei cair. 

- Lis? Onde você se enfiou? Me fala onde você está e... Você está chorando? Lis?

"Ele realmente se foi, Harry. Eles fecharam tudo, jogaram terra em cima do corpo do meu pai, Harry. Ele se foi... Ela não vai voltar." 

- Lis, calma... - Tirei o celular do ouvido e tampei o "microfone" para que ela não ouvisse. - Louis, avisa para os meninos que encontramos, ela está no tumúlo do pai. 

"...mo, eu o amo e o quero de volta, Harry... Eu sabia que isso iria acontecer, mas assim? Tão rápido? Meu Deus, Harry... Eu quero meu pai de volta!" 

- Lis, por favor, se acalma, eu já estou chegando. Me fala, como ele era contigo na infância? - Tentei deixa-la falando enquanto eu e o Louis corriamos de volta, tentando achar o caminho de volta. Eu já podia vê-la, ajoelhada na areia recém batida. Me aproximei dela devagar, tentando não assusta-la.

"Ele foi o único que acreditou, Harry..."

- Lis, ele te amava muito. - Ela tirou o calular do ouvido, percebendo minha presença, me ajoelhei ao seu lado e a abracei. - Ele te ama ainda, Lis, onde quer que ele esteja ele só quer que você seja feliz. 

Ele se foi. - Ela falou essas palavras com tanto dor, a dor que ela tinha escondido por dois dias e me olhou com o rosto sujo de maquiagem, lagrimas pretas caindo, olhos vermelhos e os lábios tremendo. - Ele se foi e eu nunca mais vou vê-lo. Não é como minha mãe, sei que ela seguiu o coração dela, fico triste em pensar que eu não era o que ela queria, mas feliz em saber que ela está feliz, ela foi atrás do que queria, Harry. Mas o meu pai... Ele tinha apenas 58 anos, Harry. Ele tinha uma vida ainda, ele estava saindo com uma mulher que trabalha no prédio ao lado do dele e ele gostava dela e eu não sabia nem seu número. Ela não sabe que ele morreu... 

- Lis, eu sei que não está tudo bem, seu pai morreu, Lis, mas ele morreu sabendo que a filha dele ainda tem uma longa vida pela frente, sabendo que ela é linda, inteligente, teimosa e boa de briga, sabendo que você é capaz de cuidar de si mesma e que vai ser feliz, Lis. É tudo o que ele mais quer e eu sei disso, ele só quer a sua felicidade, Lis. De onde quer que ele esteja, ele te ama muito. E tem orgulho de você.

 Então eu fiquei ali com ela, naquela posição hiper desconfortável e percebi que o Louis não estava mais ali... Então é isso. 

Eu amo a Lis. Gosto de ficar com ela. Gosto de falar com ela. Gosto de abraçar ela. Gosto da presença dela. Mas não é como eu amo o Tomlinson. Eu amo estar com ele. Amo falar com ele. Amo abraçar ele. E eu sei que eu vou amar beijar ele. Porque eu amo ele por inteiro e amo mais do que como um amigo... E a Lis para mim é uma amiga. E eu me sinto um merda, diário. Por que o pai da Lis morreu e eu estou aqui, sentado nessa merda de sofá, depois de abraçar a Lis e falar palavras de consolos até ela dormir. Me acho um merda porque enquanto ela chorava pela morte do pai, eu pensava essas coisas. Me acho a porra de um merda porque em meio aos soluços, lágrimas e perdida no sono ela falou uma coisa. Enquanto eu pensava em um jeito de dizer para ela que é o Louis que eu quero. Porque a porra de uma frase muda e fode tudo na sua vida. 

Ela falou aquela puta daquela frase: eu te amo.

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