[6] Desventuras em série

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[6] Desventuras em série


– Então classe, deixem anotado nas agendas de vocês que a entrega do trabalho será na aula da semana que vem. Quero que discorram, em no mínimo dez laudas manuscritas, sobre as diferenças das anestesias local e geral, assim como seus efeitos, consequências nos animais domésticos e rurais, além das propriedades químicas.

A sala inteira reverberou diante do anúncio do trabalho que iria compor ⅓ da nota final. A semana de provas se aproximava e o terceiro semestre da medicina veterinária estava abarrotada de incontáveis trabalhos e atividades complementares para fazer.

Diante dos protestos de alguns alunos, o professor levantou ambas as mãos num pedido para que se acalmassem, e então informou:

– Vocês são muito mal acostumados. Na minha época não tinha essa história de barganhar com o professor não. Está bem. Façam em duplas, mas saibam que por isso serei mais rígido na correção.

Taehyung detestava aquele tipo de professor, os autoritários e obcecados pela matéria ensinada. Sempre acabava nas provas finais por culpa deles e suas correções arbitrárias.

Antes que pudesse voltar a atenção para algo mais importante do que aquela aula desinteressante, Jennie sentada algumas cadeiras para frente virou-se para trás. O dedo com a unha bem cuidada apontou para ele, indicando que queria que fizessem juntos. 

Taehyung assentiu e voltou a desenhar no seu caderno. O dia letivo basicamente resumiu-se a isso: criar os mais diversos rabiscos ao invés de prestar atenção nas aulas de Fisiologia Animal e Microbiologia Veterinária.

Amava demais o seu curso. Simplesmente não era um bom dia.

Não fora sequer um bom fim de semana, e consequentemente não seria uma semana aprazível também.

O acastanhado tentava com afinco evitar pensar nos acontecimentos da última sexta-feira. Sem sucesso, contudo. As imagens vividas naquela madrugada o perturbaram sem interrupção nos dias que se seguiram.

Como não viu os sinais? Se questionava vez ou outra. Era impossível ter sido tão cego assim. Há quanto tempo aqueles dois tinham um relacionamento escondido? Inclusive, por qual motivo escondiam?

Os únicos momentos que se recordou de ter visto algo estranho ou de cunho minimamente duvidoso, foram nas duas vezes que Taehyung citou um encontro de Namjoon e seu namoro com Lalisa.

Recordando-se melhor destas duas situações estranhas – uma no carro do hyung e a outra na cozinha de sua casa – reparou que em ambas Seokjin pareceu surpreso e no mínimo chateado. No momento dos acontecimentos, Taehyung achou que se tratava de uma falta de comunicação entre os dois amigos, um mal entendido. Mas agora...pensando melhor, analisando de outra fora, de fato Jin estava um tanto incomodado com aquelas informações.

Para piorar mais ainda a situação até o ponto de embaralhar ainda mais seu juízo, adicionava-se Lalisa naquela equação complexa. Namjoon sempre foi muitas coisas, mas infiel não se encaixava muito bem em seu perfil. Afinal, ele viveu o trauma em sua vida do caso extraconjugal de seu pai. Desde jovem sempre foi muito contra traições que descobria de seus amigos próximos da escola ou do emprego.

"Esse hipócrita", pensou amargamente, enquanto fazia traços vagarosos na mandala gigantesca numa das folhas em branco.

Quando os dias de glória de Tete chegariam? Ele já estava ficando de saco cheio.

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