[9] O preço da felicidade

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[9] O preço da felicidade

Leiam as notas finais! Boa leitura! 


Seokjin jurou que se tivesse que lidar com mais um caso de rescisão de contrato de trabalho, era capaz atravessar a tela do computador com um soco enraivecido. E pouco se importaria com a dor. 

Era segunda-feira. De novo. Não que isso mudasse alguma coisa na vida de um advogado coreano. Quando foi a última vez que passou um fim de semana em casa? Sequer tinha certeza, mas com certeza aconteceu há mais de três meses. Aquilo não era uma coisa incomum no mundo da advocacia, onde o trabalho em excesso somado ao sucesso profissional era considerados como pontos extremamente relevantes e positivos aos olhos da chefia.

Mesmo assim, Jin achava cada vez mais difícil seguir aquele roteiro. Com  olheiras cada vez mais profundas além de seu vício em cafeína se acentuou. Dependendo do dia, da remessa de trabalho diário e seu humor, era capaz de beber mais de oito xícaras ao longo do dia, o que no final das contas resultava numa dificuldade imensa para dormir a noite, apesar do esgotamento emocional.

Até mesmo começou a fumar com certa frequência. O tabaco sempre fora um narcótico que gostava de utilizar no meio social, mas nos últimos tempos tornou-se sua válvula de escape para aliviar o estresse. Detestava o cheiro que impregnada suas roupas e irritava seu nariz, além daquele gosto de nicotina que não saía de suas papilas degustativas nem com bochecho.  

Naquela tarde especificamente a dor de cabeça quase cotidiana estava mais forte que o normal. Seokjin abriu a gaveta de sua escrivaninha de madeira envernizada e puxou de lá um remédio para diminuir seu padecimento. Aquele era outro hábito quase rotineiro: medicamentos para curar o desconforto, muito provavelmente causado pelas horas seguidas que ficava com a cara em frente a tela do computador, lendo processos e mais processos.

Sabia que precisava ir ao oculista, pois sua vista estava mais cansada que o usual, mas achava difícil achar tempo durante a semana para ir a uma consulta.  De fato, era custoso achar tempo para muitas coisas, até mesmo para sua própria saúde andava negligenciada. 

– Seokjin? – escutou seu chefe, Yong Choi, logo após engolir a pílula que desceu arranhando suas paredes internas. Girou a cadeira no eixo em direção a voz que secretamente abominava. Sempre tentava demonstrar seu total comprometimento e devoção para o sócio-chefe. – Você me enviou o Agravo de Petição do caso envolvendo o Sindicato dos Metalúrgicos de Seoul? O prazo fatal é hoje.

– Eu enviei na quinta-feira, senhor Yong – disse com seu profissionalismo costumeiro. –  Está no seu e-mail, com as partes em cópia.

Aquele era um de seus pequenos prazeres, impossível conter a satisfação que o envolvia toda vez que estava um passo à frente de Yong Choi. Seu chefe tinha essa mania de tentar a todo custo encontrar uma falha nas atividades de seus funcionários. A sorte de Seokjin era que, apesar de detestar atuar na área trabalhista, sempre foi um homem muito hábil e perspicaz. Sua organização e sangue frio para enfrentar as lides eram motivo de inveja entre os outros sete advogados que trabalhavam consigo.

– Muito bom – sorriu falso. Seokjin sabia que os outros empregados escutavam a conversa com discrição enquanto fingiam redigir peças em seus computadores. – E a ação de execução da senhora Kang?

Seokjin cerrou os dentes, controlando a raiva que começava a borbulhar seu estômago afogado em café. Não duvidava que em alguns meses desenvolveria gastrite aguda. 

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