posso pedir pro Rony

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O final do Campeonato Brasileiro estava se encaminhando, a final da Libertadores estava a poucos dias, minha barriga parecia prestes a explodir e dia após dia, parecia pior. Matías e eu concordamos em passar os dias de folga com a família dele, entendia a falta que ele sentia deles. Tinha sido divertido, e com vários progressos.
Jose, parecia até uma nova pessoa, nós conseguíamos conversar sobre algumas poucas coisas, mesmo que curtas, eram significativas. Todos os dias a noite, Matías se deitava ao meu lado com um leve sorriso dizendo que estava orgulhoso do que tinha visto, me sentia orgulhosa também. Talvez Raul fosse o elo que faltava na corrente.
— Você tem certeza que não vai com a gente? — Matías me perguntou outra vez.
— Tenho meu amor. — Repito pela enésima vez. — Raulzinho e eu ficaremos, tenho receio dele decidir nascer do nada.
— Mas ainda falta uma semana, daria certinho, a gente vai pro Rio, quando a gente voltar, pronto, ele nasce. — Dou uma gargalhada.
— Você definitivamente não está entendendo nada. Ele pode nascer a qualquer hora, e eu não estou nem um pouco afim de passar um parto no avião.
— Desse jeito, não vou querer ir.
— Deixa de palhaçada Matías. — Reviro os olhos. — Vamos ficar bem, ok? Você vai jogar e voltar pra casa com a Glória Eterna, entendeu?
— Que mulher mandona. — Ele riu me dando um beijo rápido.
**
Não pretendia assistir o jogo sozinha, mas também não tinha ninguém para me fazer companhia, papai, pouco ligava para futebol e torcia para outro time. Jazmin, disse que não tinha certeza se conseguiria ver, afinal, Lucca tinha nascido haviam duas semanas. Alice, era corinthiana e se recusava a assistir um jogo do Palmeiras. Talvez a minha única salvação fosse Karina, que não gostava de futebol, mas não tinha grandes problemas em assistir.
— Amiga linda do meu coração. — Digo assim que ela atende o celular.
— Pede. — Dou risada.
— Você podia vir assistir ao jogo comigo, não é?
— Sério? Bem no sábado de folga...
— Por favorzinho... — Digo no meu melhor tom de súplica.
— Ai amiga...
— Você vai deixar uma grávida quase dando a luz passar raiva com futebol sozinha em casa?
— Isso é chantagem, sabia?
— Sim, eu sei. Trás o Augusto.
— Plantão... E ele nem gosta, eu pelo menos assisto, ele nem isso. — Ela disse. — Mas tudo bem, eu irei, pelo Raul.
— Você é fantástica e eu amo você.
— Como você é falsa, menina.
— Sim. Te espero às duas.
— Tudo bem.
Mando uma mensagem para Matías, mesmo tendo certeza que provavelmente ele não veria, deveria estar ou já no campo se aquecendo ou no caminho para o estádio.
Mí amor: Agora ficarei mais tranquilo. [13:03]
Verena: Faça um gol por nós. [13:04]
Mí amor: Vou tentar... Mas posso pedir pro Rony jajaja [13:04]
Verena: Sem graça. [13:04]
Largo o celular e começo a me arrumar, queria postar uma foto bem bonita no Instagram para começar a comemorar aquele momento. Minhas camisas antigas, nenhuma servia, reclamo, procuro por uma de Matías, ficava melhor, apertada, mas pelo menos cobria toda minha barriga, era a que ele havia usado na semifinal, contra o Boca Juniors — nossa chance de lavar a alma depois daquela tragédia em 2018 —, tiro a foto e pondero um pouco antes de subir, decidindo deixar apenas nos storie, com um escrita motivacional e marco o dono da camisa. Estava um pouco gelado e tudo que eu odiava era sentir o vento em minha pele, procuro uma jaqueta para colocar, novamente, precisei atacar o lado de Matías, ria disso, ele não ficava muito contente quando pegava suas roupas.
Recebo uma notificação que ele havia repostado o storie e bloqueio novamente a tela. Karina, chegou pontualmente, éramos quase vizinhas agora.
— Trouxe besteira pra gente comer vendo o jogo. — Ela colocou as coisas na mesa. — Estão limpinhas viu, passei álcool em casa.
— Tudo bem. — Digo e indico para que ela se sente ao meu lado.
— Oi nenê da tia. — Ela passa a mão ali. — Você vai ficar muito nervosa no jogo, acho que você não deveria assistir.
— Estou desde 2000 esperando esse título.
— Você nasceu em 1997.
— Não interessa, só perderia esse jogo se estivesse morta ou sei lá, com o bebê no meio das pernas.
— Cuidado com as coisas que você fala. — Revirei os olhos.
— Quer uma camisa emprestada? — Pergunto.
— Não, obrigada. Aí, você força a amizade. — Damos risada.
Comíamos pipoca enquanto ouvíamos o pré jogo e vez ou outra mostravam alguma imagem do campo e a câmera acabava pegando de relance Matías e eu suspirava.
— Parece o amor da minha vida, esse 17. — Mordia o lábio inferior.
— Cara, eu vou te agredir se você falar isso outra vez.
— Aí que horror. — Me finjo de ofendida. — Mas olha só, que coisa linda, ele é muito meu tipo. — Karina revirou os olhos.
Os deuses deviam gostar muito do Gustavo, que homem iluminado e abençoado, jogava com classe era sem dúvida o melhor jogador em campo. Jogar contra time argentino era sempre um inferno, eles criavam forças que ninguém explicava o quão gigantes se tornavam nas fases finais. Mas quem eram os jogadores daquele time para passar pelo paraguaio maravilhoso que chefiava a zaga. As faltas rolavam de ambos os lados, era um jogo pegado, e nada fora do esperado.
Antes dos 10 minutos, já havia tido um cartão amarelo para cada lado, o árbitro chileno tentava impor respeito em campo, mas o clima continuava quente — para dizer o minimo.
Senti apenas um desconforto e logo em seguida algo escorrer. E lá iremos nós, tento me manter calma.
— Ka... — Ela se vira. — A bolsa estourou.
— E você diz isso com tranquilidade!?
— Estou apavorada. — Me levando e vou para a porta. — Aí, a bolsa, vou buscar. — Ela se levanta e vai em direção ao quarto. — Vou avisar o Matías. — Começo a digitar a mensagem.
— Ele tá jogando e nem vai olhar o celular no intervalo. Você parece que não sabe. — Sigo digitando a mensagem e mando para Geraldo pedindo que ele avise Matías.
Geraldo: Me mantenha informado, mas creio que não posso falar nada pra ele no intervalo, você entende, não entende? [16:18]
Verena: Sim, mas avise ele, se você achar que dá. [16:23]
Ele respondeu com um emoji de jóia e eu guardo o telefone no bolso. A primeira coisa que faço quando entro no carro é sintonizar a rádio para ouvir a narração, queria acompanhar tudo da melhor forma possível, mas estava ficando mais nervosa, minha amiga rapidamente percebeu isso e desligou o som.
— Ei! — Protestei.
— Você está muito nervosa, pode ser pior. — Disse com calma e ela estava certa.
— Tem razão. De qualquer forma o aplicativo vai me avisar. — Sorrio.
— Avisei o Augusto que estamos indo pra lá.
— Ele que vai fazer o parto? — De repente a ideia me parecia absurda.
— Não, ele é dentista, Verena. — Dou risada.
— Juro que até hoje não entendo o porque ele dá plantão no hospital.
— Muito complexo pra explicar. — Dei de ombros, aquilo não me importava.
— Aí que desgraça! — Xingo olhando a tela do celular. — Gol do River Plate.
**
Olhar o rostinho gorducho foi a sensação mais emocionante de toda a minha vida — queria que Matías estivesse aqui —, não contive as lágrimas e o sorriso bobo que se formou em meus lábios, me sentia completa. Se quer conseguia descrever.
Eles me mandaram para o quarto e a primeira pergunta que fiz para minha amiga foi sobre o jogo.
— Quanto?
— Garota. — Ela riu. — Empatado.
— Quem fez?
— Rony. — Quase engasguei.
— O quê!? Mundo tá louco mesmo... — Deixo o pensamento de lado. — Liga a televisão, quero ver o final. E vou mandar mensagem pra minha família e a dele, e claro o Geraldo, primeiro o Geraldo. — Digito rapidamente as palavras. — Minha mãe, meu pai, os sogros, o pai da criança. Pronto.
— Seu irmão?
— Ah, é mesmo, tinha esquecido dele. — Encaminho a mensagem que havia mandando para papai. — A Alice você já avisou, certo? — Ela concordou. — Você acha que vai demorar para eles trazerem o Raul? — Deu de ombros.
— Mas acho que não, seria muita sacanagem demorar. — Concordei. — Olha ai, seu namorado pegando a bola... E fez cagada.
O juiz apitou o final do tempo regular e vi todos eles se reunirem para ouvir o Luxa passar instruções, vi Geraldo se aproximando de Matías e dizer algo em seu ouvido, não pode ver a expressão dele, contudo abraçou o fisioterapeuta e logo uma pequena bagunça se formou, não durando muito tempo.
— Aconteceu alguma coisa no elenco do Palmeiras, diga Maurão, o que você acha? — Teo José disse na transmissão.
— Não imagino. — Respondeu. — Logo alguém trás a informação.
— Você acha que essa informação chega neles? — Questiono.
— Pouco provável.
Os cinco minutos passaram e logo eles estavam em campo correndo contra o tempo, era ganhar ou ganhar. Matías caiu próximo a entrada da área e meu coração ficou gelado, ele se levantou rápido e pediu a bola, o time inteiro estava na área. Matías, não costumava cobrar faltas, mas chamou aquela responsabilidade e posicionou a bola.
— Lembra do que eu te ensinei. — Karina riu. — É verdade, ensinei uma técnica para ele.
Ele bateu com precisão na bola, firme e ela viajou por cima da barreira, a movimentação na área começou e Gustavo Gómez subiu no segundo andar para meter de cabeça no canto direito de Franco Armani. Segurei o grito. Gómez, correu em direção ao Matías e juntos foram até a câmera e juntos balançaram os braços como se tivessem com bebês no colo, foi automático as lágrimas rolaram.
— Telespectadores, veja que linda homenagem dos jogadores do Palmeiras! — Teo José começou e fiquei arrepiada. —  Gustavo Gómez homenageando o filho que nasceu têm alguns dias e Matías Viña que o filho nasceu hoje. — Houve uma pausa, e logo ele estava narrando um lance perigoso na área do Palmeiras, mas Weverton pegou com segurança.
**
Me assustei quando Matías entregou feito um louco no quarto, ele praticamente se jogou em meus braços, segurei o riso, e me deixou um pequeno beijo nos lábios.
— Pensei que nos veríamos só amanhã de manhã. — Era perto das onze da noite.
— Pulei no primeiro voo que consegui. Precisava vir conhecer o nosso filho. — Ele sorriu levemente — Olha que coisa mais gordinha. — Disse olhando o berço ao lado da cama.
— Ele tem o seu nariz... — Digo segurando o riso.
— Se você falar isso, eu vou sair.
— Te quiero mí corazón. — Digo esticando a mão para ele. — Você quer segurar ele? — Ele me olha procurando por alguma coisa. — Ele não vai quebrar, Nicolás.
— Não faço ideia de como começar.
— Querido, você não pegava o Fran não? — Ele riu.
— Sim, mas só quando ele era maiorzinho. — Explicou.
— Vou pegar ele pra você. — Digo e com cuidado pego Raulzinho no colo. — Filho, o papai chegou. — E entrego.
— Ele é muito pequeno, olha isso. — Pego o celular e tiro uma foto, Matías tinha a cara mais idiota que já tinha visto, definitivamente, era minha nova foto preferida. — Amor... — Ele me lança um olhar assustado, quando o bebê começa a se mexer em seu colo e ameaça chorar. — Pega ele.
— Segura ele, balança, descobre um jeito, você precisa aprender essas coisas. — Ele começa a andar pelo quarto e eu rio boba. — Viu? Não é difícil.
— Estou apaixonado. — Ele se senta na poltrona. — Ele é... Nossa, não tenho palavras. — E sua atenção se volta para o rostinho corado em seus braços. — Um dia duplamente feliz. Somos uma família completa agora.
— Agora sim. — Sorrio e ele segura a minha mão. — E pensar que eu tive tanto medo. Só Deus sabe, Matías.
— Eu também tive medo, ainda tenho, mas estamos juntos nessa. — Ele sorriu carinhosamente.
Se existia uma certeza nessa vida, a minha era estar diante dos dois grande amores da minha vida.

Zina || Matías ViñaOnde histórias criam vida. Descubra agora