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 Na manhã seguinte o quarteto continuou junto a mim, saiam poucas vezes do quarto para buscar comida ou entregar algum recado. Acabei lidando com as lições passadas por meu pai ali mesmo, Eve entregaria todo meu trabalho para ele no final do dia. Agnes e Hera bordavam em um canto do quarto, Micaela limpava o cômodo e Eve me auxiliava com as papeladas.

Eu me sentia suja, mesmo tendo tomado diversos banhos depois que voltei para o quarto. Micael havia me tocado de uma maneira terrível e que eu certamente me lembraria por muitos meses ainda, como eu me casaria com aquele monstro? Eu era incapaz de dividir o mesmo cômodo com ele novamente.

Desviei minha atenção para a janela, a floresta parecia cada vez pior. Como Romeu estava? Deus, eu apenas o queria comigo, seria muito mais fácil lidar com as coisas em seus braços. Suspirei, deixando os papeis de lado.

- Ainda não terminamos Julietta.

- Eu sei, apenas preciso de uma pausa.

- Certo, darei uma volta pelo castelo.

Olhei-a com súplica, pedia silenciosamente para que não machucasse ninguém. Eve apenas ignorou, saindo do cômodo junto as outras, o silêncio nunca me pareceu tão ruim. Peguei uma das diversas folhas em branco, me sentei na cama com ela em meu colo e deixei meu coração falar.

Ah meu querido Romeu, não se passou uma semana e eu já desejo seus braços em volta de mim novamente, a vida sem você está sendo dura demais. Pensei que se deixasse você estaria nos salvando e pelo visto eu estava errada, em todos os sentidos possíveis. Ah Romeu, eu acreditei ser capaz de cuidar de mim mesma, de proteger meu reino sozinha (afinal, eu tenho uma enorme coroa na cabeça, terei até o final deste ano), no entanto eu estava errada meu amor, e descobri da pior maneira possível. Eu queria tanto que você estivesse aqui, que seus braços me reconfortassem. Ele me tocou de uma maneira horrível, eu não o queria, ele não era você. Não posso me casar, não enquanto ainda amar você, por isso, pedirei para Eve que apague minha memória, e sei que ela fará. Apenas quero que saiba que eu te amei, que lembrei de você a cada segundo do meu dia e que meu coração será eternamente seu, porém eu não posso continuar assim Romeu, tenho o dever com meu povo e infelizmente terei que me casar com aquele monstro. Eu amo você.

Com amor, sua eterna Julietta.

Lagrimas caíram de meus olhos, marcando o papel. Dobrei-a e a deixei sobre a escrivaninha, não sabia ao certo como enviaria para ele, mas daria meu jeito. Observei o cômodo, atrás de qualquer falha que pudesse haver. Não sabia o que Micael havia pegado, e não queria ser surpreendida novamente.

- Julietta? – Leves batidas na porta, a voz doce de meu pai soou atrás do objeto.

- Sim?

- Posso entrar?

- Claro.

Sentei-me sobre a cama, ajeitando os papeis que deveria entregar para ele em poucas horas. Magno adentrou o quarto, antes que fechasse a porta observei Baron parado no corredor junta Sanchez.

- Você está bem, pequena?

- Sim, apenas tive um mal estar hoje de manhã e preferi trabalhar daqui.

- Está melhor agora?

- Sim papai, eu estou.

- Quero que seja sincera comigo, tenho sua palavra?

- Claro, o que o senhor quer saber?

- O que aconteceu entre você e o filho dos Schneider? Como eles trataram vocês?

- Por que a pergunta repentina pai?

- Me responda primeiro, por favor Julietta.

- Passamos um tempo junto, apenas isso e todos me trataram super bem.

Magno se sentou ao meu lado, analisando meu rosto atentamente. Me forcei a continuar neutra, sabia o quão bem meu pai conseguia ler as pessoas. Por fim, soltou um suspiro, segundo minhas mãos.

- O que está acontecendo pai?

- Romeu entrou em contato conosco.

Meu coração saltou, o que ele havia feito agora? Minha estratégia de me manter neutra foi por água a baixo naquele momento, a preocupação estava nítida em meu rosto.

- O que ele quer?

- Conversar com você.

- Ele o que? – Perguntei surpresa, ele estava se ariscando apenas para podermos conversar?

- Romeu solicitou uma conversa conosco, e pediu que você estivesse junto.

- Os Lambert já sabem sobre isso?

- Não, nem mesmo Sanchez está ciente do pedido dos Schneider. – Suspirou. – Queria conversar com você primeiro, entender o que aconteceu no período que esteve fora.

- Como está tão calmo? Estava quase iniciando uma guerra contra eles e agora estamos aqui, eles pedindo para ser ouvido e você cedendo.

- Então eu não deveria ceder?

Me calei, eu era incapaz de respondê-lo sem deixar nítido meus sentimentos. O que eu mais queria era vê-lo novamente, porém eu era incapaz de deixá-lo ir embora caso isso ocorresse. Eu estava sendo parcial naquele momento, o que era completamente errado para mim.

- Seu silêncio fala bastante coisa Julietta.

- Pai...

- Vocês se despediram?

- Não. – Suspirei. – Eu o deixei uma carta e parti, ainda estava escuro e não havia ninguém acordado naquele momento.

- Eu sinto muito, queria poder lhes dar tempo, porém não posso, os Lambert não deixarão o castelo até o casamento.

- Tudo bem pai.

- Como meu último ato de rei, farei um acordo com os Schneider, declararemos bandeira branca.

- Está falando sério?

- Se você quiser sim.

- Obrigada pai.

Magno depositou um beijo em minha testa, se retirando do quarto em seguida. Apenas em saber que ele viveria bem e com nossa proteção já me era o suficiente. Olhei para a carta sobre a escrivaninha, corri até ela, jogando-a dentro de uma cesta qualquer no cômodo, ele não precisava saber o que eu faria a seguir.

Por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora