Capítulo 1

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MUITO TEMPO ANTES DO E-MAIL

Alice e Rafael estavam com o relacionamento estremecido quando ele decidiu ir para Salvador. A espera parecia nunca ter fim. Vários questionamentos se embaralhavam na cabeça dela e, embora ela quisesse um final feliz para sua história, algo lhe dizia que o fim estava próximo. O casal Alice e Rafael parecia mesmo estar com os dias contados. Ela não admitia, é claro, quem abraça o fracasso sem lutar? Não obstante, seu coração lhe dava pistas de que se envolver com Rafael fora pura carência.

Ano após ano a sombra de um certo desamor se fez presente e seu relacionamento com Rafael poderia ter sido muito mais feliz se ela tivesse enfrentado seu fantasma do passado e acabado de vez com a lembrança dolorida.

Quantas vezes Rafael não tinha lhe falado que não queria ser a sombra de Henrique? Longe do atual namorado, Alice só pensava que estragara tudo trazendo suas dores inesquecíveis à tona. Quem dera tivesse afogado toda a lembrança e mágoa na lagoa Paulino, em sua cidade natal.

O FANTASMA DE SETE LAGOAS

A lagoa Paulino, bem na região central da cidade, é majestosa. Pela manhã, as águas tranquilas refletem em raios coloridos a luz do sol, numa dança bonita de se ver. Em suas calçadas laterais, plantas e flores variadas se misturam com os transeuntes e seus diversos destinos.

Os olhos castanhos daquele rapaz admiravam essa imagem. Estava do outro lado da avenida, sentado numa cafeteria. Sua companhia era apenas a de uma xícara fumegando bem à sua frente. O cheiro forte de café preenchia o ambiente, como se o aroma alcançasse seu cérebro.

Enquanto sorvia o líquido quente, uma moça que caminhava perto da lagoa fez seu coração saltar: o cabelo era comprido e liso, e dançava graciosamente a favor do vento. Com o rosto voltado para a água, ela apenas se permitia ser vista de perfil. Caminhava num ritmo, mas sem pressa, segurando a alça da bolsa que combinava com seus sapatos pretos e altos. Vestia uma calça e tailleur cinzas, devidamente ajustados a um corpo esbelto.

Ele quase prendeu a respiração no peito e acompanhou os passos dela, com uma curiosidade imensa sobre aquela figura. Quando ela tornou o rosto para a direção em que ele estava, Henrique notou que achara erroneamente se tratar de Alice. Sim, aquela que fora o primeiro amor da sua vida e, por mais que tentasse negar, parecia ser também o único.

O friozinho da manhã e a imagem daquela moça caminhando, o remeteram à infame lembrança da derradeira vez que se viram...Não sendo surpresa, o café em sua xícara se tornou mais amargo, dando-lhe a impressão de beber um caldo de ferrugem. Nunca havia se sentido tão canalha na vida quanto se sentiu naquele exato minuto. Só a imagem de uma jovem parecida com Alice o fazia amargar a boca. Como pudera ser tão inconsequente? Que espécie de sujeito faz uma coisa dessas com alguém que o amava tanto?

Pagou sua xícara de ferrugem e seguiu andando pela calçada. Nunca havia sentido a realidade batendo no rosto daquele jeito, mas hoje sentiu, junto com a brisa fria. Seguia com as mãos no bolso, ouvindo apenas o tilintar da chave do carro no chaveiro, preso à alça da calça jeans. Estava pensativo e alheio a tudo quando ouviu uma voz chamar seu nome.

– Henrique!

A princípio, não sabendo de onde provinha o som, apenas parou, girando a cabeça à procura de quem o chamava. A voz ficou mais alta atrás de si e ele virou-se dando de cara com o sorriso largo de César, seu melhor amigo desde a adolescência. Henrique abriu o sorriso e os braços indo ao encontro do rapaz.

– César! Caramba! Que bom te ver! – o abraço demorou um pouco.

– Nossa! Cara, quanto tempo! – César batia nas costas de Henrique no abraço caloroso. Afastaram-se sorrindo e começaram a papear.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2020 ⏰

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