Trago seu amor de volta em sete dias

1. Enfeitiçada, incomodada e abobalhada

— Então quer dizer que isso é comum lá no Brasil? – Hermione perguntou, chocada pelo o que Clarissa havia acabado de dizer.

— É! Quer dizer, ninguém acredita que funciona ou coisa e tal, a maioria só faz pra se divertir mesmo, mas tem os desesperados. Eles usam como último recurso.

Clarissa era a antiga colega de escritório dela no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Ela havia vindo do Brasil três anos antes e rapidamente provou-se como uma das funcionárias mais eficientes do ministério.

Ela imediatamente derrubou as paredes ao redor de Hermione com sua graciosidade, humor e inteligência. Ela provou ser uma colega de apartamento incrível também, apesar de sempre deixar a toalha molhada pelo apartamento.

Elas ainda viviam juntas, mas enquanto Clarissa estava na corrida para se tornar a chefe do Departamento de Controle e Regulamentação das Criaturas Mágicas, Hermione havia sido convidada por Kingsley para trabalhar no Departamento de Mistérios. Ela ainda não havia se tornado uma inominável — como eram chamados os funcionários dali —, mas já tinha começado a trabalhar na sua primeira pesquisa: Rituais Brasileiros Antigos.

E foi assim que ela descobriu sobre o ritual de tarô que aparentemente trazia o seu amado de volta em três dias.

Sendo que não era um ritual. Era mais como uma... cerimônia inventava pelos trouxas, em uma tentativa desesperada de consertar seus relacionamentos fracassados.

Quaisquer que fossem as origens, porém, parecia promissor e ia ser o suficiente para Hermione. Ela tinha acabado de terminar com Olívio Wood, o capitão da União de Puddlemere, e não tinha ido à um encontro desde então.

As coisas com o Olívio tinham começado como um mero flerte, mas rapidamente tinham se tornado algo mais. Tudo começou em uma after durante a Copa Mundial de Quadribol. Umas doses de uísque de fogo e um pouquinho de conversa fiada foram o suficiente para que ela começasse a beijar o antigo capitão do time de quadribol grifinório. O romance deles durou oito meses, mas ele decidiu acabar com tudo depois de férias frustradas com a família dela.

Os pais dela sempre haviam se sentido excluídos da sua vida, o que aumentou consideravelmente depois da formatura. Quando ela voltou pra casa de vez, as primeiras semanas haviam sido difíceis. Houve bastante remorso, feridas não cicatrizadas e lágrimas, mas eles conseguiram se resolver.

Quando ela apareceu no jantar de Natal, e ainda por cima com um namorado que não tinha absolutamente ligação nenhuma com o mundo trouxa além de namorar uma nascida trouxa, as coisas não terminaram muito bem.

Ele não era um playboy sangue puro, longe disso. Mas a sua fascinação com os mínimos detalhes do mundo trouxa, o fato de que ele não conseguia segurar uma conversa com os pais delas por mais de dois minutos sem enfiar Quadribol no meio, ou fazer comparações com o mundo bruxo não melhorou a nota dele no quesito dos pais dela de aceitação. Olívio não quis lembrar a eles o quão distante a realidade do mundo que Hermione vivia era, mas com certeza havia sido o suficiente para pisar em alguns calos.

Ela não tinha ficado chorando feito uma adolescente, mas sentia falta de estar em um relacionamento. Ela nunca havia pensando em si mesma como uma romântica, mas depois de ser bem cuidada e de ter alguém pra lhe abraçar quando chegasse do trabalho... bem, Hermione se sentia sozinha.

— Então é como se fosse uma poção do amor? – ela perguntou, tomando um gole de cerveja amanteigada.

— Não, porque não funciona. É uma coisa de trouxas, Hermione. Nunca fui pra uma, mas tem uma cartomante brasileira aqui em Londres que estou pensando em visitar, só pra ver como é que é. É uma vergonha que em todos os meus vinte e seis anos vivendo no Brasil eu nunca tenha ido em uma.