Capitulo 1

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CAPÍTULO 1

— Você tem certeza disso, filha? — Minha mãe perguntou me olhando fixamente como se ainda tivesse esperança de que eu mudasse de ideia no último segundo.

Depois do que aconteceu com Dan não consegui mais patinar, a culpa parecia me sufocar cada vez que chegava perto de patins e não consegui suportar a ideia de patinar sem Dan ao meu lado. Ele ficou meses sem falar comigo, eu recebia notícias através de sua mãe que sempre gostou muito de mim já que me conhecia desde bebê, durante esses meses pensei que Dan me odiava, não sabia bem o porquê mas esse pensamento se firmou em minha cabeça e a culpa se aprofundou.
Cinco meses após o acidente, Dan finalmente falou comigo, me ligou e disse que estava bem, que estava se recuperando, que não me culpava pelo o que havia acontecido. Mesmo após sua ligação ainda assim não conseguia patinar, então passei a ter medo. Medo de cair e me machucar, medo de sofrer algum acidente, culpa por arrancar o sonho de Dan, culpa por poder patinar e não conseguir, culpa por poder patinar sem Dan ao meu lado, culpa por ter duas pernas funcionais e saudáveis.
Após dois anos sem patinar decidi entrar na faculdade, me escrevi em todas as faculdades possíveis fora do Canadá, não queria continuar naquele país que só me lembrava de medo e culpa, mesmo que aquilo significasse ficar longe de minha família e amigos. Consegui entrar na NYU o que foi uma surpresa para mim já que não esperava entrar em uma faculdade tão conhecida. Quando a carta chegou meus pais não ficaram tão felizes quanto qualquer pais ficariam por essa novidade maravilhosa, eles sabiam o que eu estava deixando para trás, sabiam que se eu fosse, deixaria a patinação para trás definitivamente e isso os fazia se sentir mal por mim, então não posso culpá-los por serem bons pais.

— Sim, mãe. — Revirei os olhos pela décima vez em vinte quatro horas, que é o tempo que meus pais estão tentando me convencer a ficar em casa.

— Kate, ainda dá tempo de mudar de ideia. Não faça nada que vá fazer você se arrepender no futuro, você merece seguir seu sonho. — Papai diz e balanço a cabeça negando. Vou em direção ao meu quarto e pego minhas malas quando retorno à sala, papai me olha praticamente me implorando com o olhar.

— Sinto muito, pai. Não consigo mais fazer isso, preciso seguir em frente com a minha vida. Pensando bem, vocês são pais realmente desnaturados, percebem isso? Estão me incentivando a não entrar na universidade. — Digo sorrindo e depois de dias finalmente vejo um sorriso se formando em seus lábios. — Eu vou ficar bem, prometo.

— Você sempre foi muito responsável, filha. Sabemos que ficará bem, nossa preocupação é que esteja fazendo isso de cabeça quente e que não esteja pensando direito. — Mamãe diz andando em minha direção, quando finalmente chegar perto de mim, me abraça e apoia sua cabeça em meu ombro.

— Eu tenho certeza. — Isso é tudo que digo e recebo um aceno de cabeça do meu pai. — Preciso ir para o aeroporto, não posso chegar atrasada no meu primeiro dia. Vocês me ensinaram que a primeira impressão é a que conta.

— Veja como nossa menininha cresceu, querido, usando nossas palavras contra nós mesmos. — Mamãe disse e meu pai sorriu assentindo.

— Apesar de tudo, estou infinitamente orgulhoso de você, filha. Sua mãe e eu estamos apenas nos certificando que você seja feliz, contudo, sua teimosia continua nos importunando. Porém não posso culpá-la, afinal de tudo, você é filha de sua mãe e não existe pessoa mais teimosa que ela. Com certeza puxou isso dela. — Meu pai diz e mamãe dá um tapinha leve em seu braço direito, sorrio balançando a cabeça e o abraço, sei que é tão difícil pra eles quanto é pra mim, eles foram os que compraram meus primeiros patins, os primeiros que me viram cair e levantar um milhão de vezes antes de finalmente conseguir me manter de pé em cima do gelo. Eles viram minha paixão florescer, eles quase podiam sentir minha felicidade transbordar toda vez que eu subia no gelo e dançava como se minha vida dependesse disso.

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