Pânico

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Deixei minhas malas em frente ao check-in enquanto entregava os documentos. Eu cheguei cedo pois faria uma viagem de quase duas horas até o México, e o Mike queria que eu chegasse a tempo pro show.

A pista de decolagem particular estava praticamente vazia, apenas o pessoal necessário pra minha saída. Daqui, esperando a checagem da permissão pra decolar, eu conseguia ver o jatinho do Harry.

As vezes me sinto uma estrela quando me encontro nessas situações. Eu viajo umas cinco vezes por ano à trabalho, então não é nada novo pra mim, mas sempre que viajo com o Harry, no jatinho, me sinto andando de avião pela primeira vez.

Tirando a parte de me sentir a dona do mundo viajando num jato particular.

"Lizzie." Stefan, do aeroporto, cumprimentou quando chegou pra levar minhas malas.

"Olá, Stef." Respondi animada. "Como vão as meninas?" Perguntei enquanto caminhávamos em direção ao grande objeto branco.

Harry já conhecia ele a quase sete anos, e era padrinho da única filha dele. Por consequência disso, acabamos nos conhecendo e nos tornamos grandes amigos. Harper, sua esposa, e eu, viramos melhores amigas.

"Elas estão ótimas." Sorriu. "Harper anda ocupada com a confeitaria e a Layla fica toda animada quando vê o tio Harry na TV." Terminou rindo. Me juntei a ele, pensando na menininha de três anos.

O caminho curto até o jato terminou e nos despedimos com um abraço. Mandei beijos pra sua esposa e a pequena Layla e entrei no veículo, indo pro meu lugar.

...

Quando chegamos no aeroporto mexicano, ainda faríamos uma viagem de meia hora até o local do show. Mas no meio do caminho de carro eu acabei passando mal pois não tinha me alimentado antes de sair e pedi pra pararmos num hotel no caminho. Eu precisava mesmo comer e descansar, avisei pro Mike que chegaria um pouco mais tarde e paguei um quarto pra mim e fiz questão de pagar pro motorista que o Mike mandou, mesmo ele insistindo que não era preciso.

Eu já me acostumei a ter a equipe do Hazz preparando tudo quando nós saímos, mas as vezes me sinto super folgada.

Agora, já descansada e depois de uma soneca, estávamos a caminho da arena. Eu chegaria no final do show mas não tinha problema, íamos finalmente nos ver e eu não podia esperar. Logo quando chegamos eu percebi que aqui é mais quente que o Canadá, então me arrumei todinha pro Harry com uma roupa bem fresca. Vesti só um shorts jeans com a camiseta que eu comprei da turnê e meu blazer preto.

O carro estacionou na parte de trás do local e eu já via o pessoal indo embora, mostrando que o show já terminara mesmo. Talvez ainda tenham algumas meninas conversando com ele no camarim e eu já liguei pro Mike umas três vezes, pra confirmar, mas ele não atende.

O homem alto me acompanhou até a porta me encaminhando a área de preparo dos artistas. Eu já conseguia ir sozinha de lá.

Ainda não tinha recebido nenhuma resposta do Mike mas continuei olhando as portas pra ver qual mostrava o nome dele.

Vi um segurança na próxima porta e então sorri pra ele que abriu a porta pra mim.

"Senhorita Ashby." Acenou.

Não conheço ele, mas sempre me cumprimentam assim, então sorri de volta.

Agradeci e vi que o curto corredor dava em uma porta a esquerda. Meu celular vibrou uma vez e então começou a vibrar sem parar na bolsa me obrigando a pegar. Não era um número conhecido e eu abri pra ver quem era, enquanto entrava no camarim.

"Meu amor..." Comecei toda feliz e então meu coração gelou ao presenciar a cena a minha frente.

Estava acontecendo de novo...

...

Eu corri até o homem alto abaixado no chão, respirando em puro desespero e tirei o blazer jogando em cima dos cacos no chão da sala.

"Meu Deus, Mike por que você não me ligou?!" Praticamente gritei, me ajoelhando ao lado dele.

Engoli meu choro vendo como ele estava desesperado tentando respirar, conseguia ouvir a garganta dele soltando sons agonizantes e toquei o ombro dele com calma, tentando chamar a atenção dele.

O Mike estava falando um monte de coisas mas eu só conseguia prestar atenção no meu namorado, sofrendo na minha frente. Era o segundo ataque de pânico dele que eu presenciava, e eu não sabia dizer o quanto doía em mim.

Harry se afastou bruscamente de mim, chorando. O corpo dele se encolheu mais contra a parede.

"Sou eu meu bem, eu estou aqui." Me arrastei até um lugar onde ele conseguisse me ver se olhasse um pouco pro lado. Toquei a mão dele que agarrava o tapete do camarim como se dependesse daquilo pra viver e ele se virou pra mim, assustado. O rosto dele transmitia pura agonia e eu não sabia se era forte o suficiente pra aguentar vê-lo assim. As pupilas dele estavam completamente pretas e as bochechas encharcadas de lágrimas. Os lábios finos dele estavam brancos e tremeram quando ele tentou falar comigo.

"Res..." Tossiu.

Ele fechou os olhos devagar e eu sacudi ele com força.

"Meu amor, olha pra mim!" Tentei transmitir calma, diminuindo o tom de voz. Não queria deixar ele mais assustado. Puxei os lados da camisa de botão dele, arrancando com força pra ele conseguir respirar.

A cabeça dele estava pendendo pro lado quando ele se esforçou a olhar pra mim.

"Muito bem." Me enfiei entre ele e a parede, ficando mais próxima. Ele ainda estava resistindo ao toque, mas eu vi nos olhos dele como ele queria ser ajudado. "Você precisa respirar..." Sussurrei bem pertinho dele.

Ele ainda estava soltando sons engasgados e parecia quase em transe, mas apertou a minha mão. Virei ele com esforço ficando por trás e sentei ele entre as minhas pernas, pondo a cabeça dele no meu ombro.

"Vamos lá," Sussurrei. Passei o braço pela frente do peito dele, pressionando devagar. "Eu estou aqui, vai passar." Continuei com a voz tranquila tentando persuadir ele. "É só você respirar," Massagiei o peito forte dele, onde o coração batia em frenesi. "Consegue sentir..."

Ele parou de contorcer um pouco e eu pensei que ele estivesse desmaiado de vez. Então ele apertou minha coxa com uma força que chegou a machucar.

"Li... Lizzie." A voz machucada dele engasgou ao me chamar. Lágrimas de alívio desceram pelas minhas bochechas quando ele puxou o ar com dificuldade. "Dói..." Arquejou deitado no meu peito e eu senti minhas mãos molharem. Ele também chorava.

"Eu sei..." Acariciei o peito dele, o incentivando a continuar a respirar. A mão dele ainda estava agarrada na minha perna, como se ele estivesse com medo de soltar, e meu peito doeu. Acho que a maior dor que eu já havia sentido era ver ele ter esses ataques de pânico, eu sentia que todo meu mundo estava parando junto com ele. Machucava tanto ver um ser tão doce passando por isso. "Eu estou aqui, já vai passar."

Ele continuou a respirar fundo, deitado no meu peito e eu sentia os batimentos dele se acalmando aos poucos. Deixei ele relaxar e cantei uma canção de ninar que ele mesmo cantava pra Layla. Cantar sempre fazia ele acalmar, não por que era algo melódico, e sim por que fazia ele prestar atenção em algo que não fosse a dor.

A mão grande dele me soltou gradualmente e eu ouvi os roncos baixinhos dele.

Me segurei pra não chorar e acordar ele, e então apenas continuei com o carinho, ainda cantando baixinho. Toda a sala estava em silêncio e minha voz sussurrada parecia alta, enchendo o ambiente. Mas a única coisa que me importava era o homem relaxado no meu peito.


Espero que estejam amando de paixão❤, bjooooos😘😘😘😘

Between Us (Entre nós)Onde histórias criam vida. Descubra agora