Balões são traumatizantes🎈

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– Balões, balões, balões, voam sem parar, chame a mam...

– Gahyeon, não, olhe pra mim! — Robert me chacoalhava, mas eu estava distante, atrás de um vidro, talvez. Eu estava dentro daquela van, Dami ainda enterrava a faca na minha pele porque eu não estava prestando atenção em sua história.

– Gahyeon? Gahyeon? Balões, balões, balões, amarelas, Gahyeon? — eu via o psiquiatra mexer a boca, mas era a voz da garota que saía.

– Desculpe, não, não chore no nosso espetáculo, sorria, huh? Quer algodão doce? Por que você está sangrando tanto? Ah, minha faquinha, bem, vou dirigir até uma farmácia, mas pra isso tenho que te dar umas coisas primeiro, você não pode gritar, nem fazer barulho, por isso você vai dormir, Gahyeon? Balões, balões! Você quer um balão? O quê? Dói? Seu braço? É, tem muito sangue, não, você não vai morrer! Ninguém morre no meu show, dói? Tudo bem, aqui, cheire isso, Gahyeon? Não, não durma agora, você está morrendo? Eu devo... O quê? Não entendo, aqui, isso, isso, isso, você... dormir... farmácia... eu... balões...

– Gahyeon, respire, você não está mais lá, não está na van, eu não sou a Dami, você pode largar esse copo agora, não, Gahyeon, não jogue, isso, respire, conte comigo até três, pode fazer isso?

Eu não me sinto...

Eu não sei o que estou fazendo...

Eu não tenho voz...

Eu tenho balões..

– Não, Gahyeon, você não tem balões, você não terá que ver e ouvir balões nunca mais.

– Ela traz balões pra mim todas as noites, ela me faz amar balões, eu odeio balões! — lágrimas silenciosas escorregam pela minha bochecha, sinto alguém me abraçar, meu primeiro instinto foi me encolher, mas depois me entrego ao toque caloroso e reconfortante.

– Shh...— o vidro foi sendo quebrado, o aperto no meu peito brincava em aumentar e diminuir, meus olhos voltaram a enxergar, eu não estava na van, Dami não estava na minha frente, Robert estava... Robert... Robert... apenas meu psiquiatra, o homem de cabelos negros, aqueles olhos castanhos, aquele que usa óculos ocultando parte de suas olheiras fundas...

Não era a Dami...

Ele não ia sentar na minha cama com uma faca nova de cabo azul, não ia repetir o que sempre repete, não aí...

Eu amo balões, Gahyeon? Você ama balões, não ama? Você ama balões, não ama? Você e eu somos parecidas, não somos?

– Beba um pouco de água. — entreguei ao psiquiatra um copo de vidro vazio que eu segurava com força, apesar de não conseguir lembrar de quando eu havia o pego, Robert me entregou um copo de água, com mãos trêmulas, o bebi.

– Desculpa. — falei sentando exausta na poltrona, estava tarde, eu precisava voltar pro quarto , se eu ficasse aqui... se Robert estivesse comigo quando... ela é real? Eu a vejo? Transtorno pós traumático? É isso?

Meus olhos são capturados por um brilho vermelho no fundo a sala, lá no tubo do aquecedor... Um balão vermelho flutua entre as grades.

– Se sente melhor? — Robert olha para o próprio pulso, onde um relógio se encontra. — temos que continuar, Gahyeon.

Concordo com um mínimo aceno desviando minha atenção do balão, meu corpo está em choque.

– Dami foi em uma farmácia? — perguntou da maneira mais delicada que conseguiu.

– Acho que sim, — eu não lembrava, era óbvio que estava dopada demais para saber de alguma coisa. Falei isso para o psiquiatra que concordou enquanto escrevia na prancheta. — quando acordei, havia pomadas e gases no meu braço.

— Certo... E a história dos pais dela?

– Bem, quando o efeito do sonífero passou, ela continuou, aquela altura eu pensei que havia desistido de tentar alguma coisa, por isso prestei atenção na história, ela ficou bastante contente.

– Gahyeon, o que a Dami lhe contou? — esperei Robert pôr mais fita no gravador para começar a contar.

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