Não importa sua cor, sua orientação sexual, seu gênero, suas virtudes, se você tem religião, se você roubou milhões de reais ou se doou para a caridade, há algo que une todos nós. A morte. Não há nada mais natural que morrer, todos nós um dia chegaremos lá. Ela, eu te garanto, não está nem aí pro que você tem ou quem você é. A morte, para mim, tem se tornado uma possibilidade cada vez mais real. Mas calma, eu não estou me referindo a suicídio. Não seja apressade e termine de ler. As vezes penso que é tão natural, que pode acontecer a qualquer instante, me parece tão palpável. E recentemente percebi que eu não tenho medo da morte em si, eu tenho medo de morrer sem nenhum tipo de aviso prévio. Porque morrer significa não só que eu deixo de existir mas que levo junto comigo todos os gritos e palavras não ditas. E tenho tanto para dizer, que deixar isso se perder seria um erro. Mas gritar e falar tudo significa enfrentar as consequências, e não me sinto disposta. Talvez se existisse algum aplicativo que nos possibilitasse deixar recados, fotos e vídeos para quando morrermos ele enviar para as pessoas o que queremos que elas recebam eu me sentisse mais tranquila. Não adianta escrever cartas se não tiver como manda-las. Então, se eu pudesse saber o dia que eu vou morrer, me planejaria para dizer tudo que eu preciso antes de partir.

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Surto-circuito
PoetryUma coletânea de vezes em que a marionete arrancou as cordas que a controlavam e começou a pensar sozinha.