Capítulo 3 - O Anjo da Morte

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Como eu vou fugir? Por que meu corpo não se move? Vamos, reaja, Ethan!, Ethan dizia a si mesmo, apontando a arma com a mão trêmula através da janela espelhada. É aqui que eu vou morrer? O rapaz sentia o coração apertar seu peito mais e mais a cada passo que a criatura dava em sua direção.

Ele havia encarado a escuridão, e agora ela o encarava de volta. Seria aquele monstro seu anjo da morte, aquele que ceifaria sua vida? Ethan não queria morrer, não quando ele havia recebido aquela carta e estava cada vez mais perto de reencontrar Anthony. Se fosse para se reunir mais uma vez ao amor de sua vida, que fosse em vida.

Ele fechou os olhos e puxou o gatilho, disparando às cegas na direção da criatura. O tempo parava a cada disparo da arma, sendo sete no total. Em sua mente, o rosto de Anthony começava a desaparecer, assim como qualquer esperança de revê-lo ali. Aquela sala de transmissão abandonada em breve seria seu caixão.

O momento chegou, a munição do pente da arma havia acabado. Mesmo assim, Ethan continuava a pressionar o gatilho com o dedo indicador, porém, ouvia-se apenas o estalo de uma pistola descarregada. Houve um silêncio momentâneo, que caiu sobre o local como uma maldição. Ele encolheu-se e aguardou que aquele monstro quebrasse a janela para o partir ao meio também.

Contudo, não foi o que aconteceu. O som dos passos havia cessado. Mas o homem, apavorado, jurava poder ouvir o barulho das asas do seu anjo da morte vindo buscá-lo. Aquele som o apavorava, o fazia morder os lábios repetidas vezes.

Percebendo que seu desfecho estava demorando demais, ele criou coragem e abriu um dos olhos. Encontrou então todas as luzes ao seu redor acesas. À sua frente, o vidro ainda estava repleto de furos de balas. Os "Manequins" ainda estavam lá, despedaçados, mas não havia mais sinal algum do monstro gigante.

Eu o matei?, Ethan se questionou.

Ele abriu a janela bem devagar, prendendo a própria respiração, transpirando mais do que de costume. O monstro gigante havia desaparecido sem deixar rastros.

Será que a criatura ficou com medo e fugiu? Ou será que ainda está aqui escondida, esperando o momento oportuno para me atacar?

Ethan não ficou nada satisfeito. Aquilo fora estranho e fácil demais, talvez a coisa mais horrível que ele já presenciara. Como a criatura fugira se a porta continuava fechada e as janelas estavam firmemente obstruídas por tábuas de madeira?

Suspeitando que a barra estava limpa, sentou-se em uma cadeira e percebeu que suas calças estavam molhadas. Seria mesmo possível que, depois de tanto cuidado com suas vestes, ele tivesse caído em cima do líquido viscoso daqueles "Repulsivos"?

— Argh! — Quisera ele que sim, seria menos constrangedor. Ethan ficara com tanto medo da criatura que urinara nas calças sem perceber. — Merda! Isso não acontece desde os meus cinco anos de idade. — Seu rosto insensível aos poucos foi preenchido por uma vermelhidão constrangedora.

Ele saiu daquela sala calado, se esgueirando cuidadosamente pelas vielas do terceiro andar. Por mais estranho que parecesse, as luzes estavam acesas agora, revelando quão destruído e asqueroso o lugar realmente se encontrava.

Ethan procurou por uma calça que lhe servisse, mas aquele local não era uma loja de roupas, e sim uma rádio. Ele não iria encontrar tal coisa ali. No entanto, já não parecia ter controle de suas ações naquele ponto, então voltou a se concentrar em encontrar Anthony e fugir daquela cidade perdida.

Em alerta máximo, voltou pelas escadas de emergência. Quando eu reativei a energia... as portas do primeiro andar também se destrancaram?

Com a cabeça cheia de perguntas, retornou ao primeiro andar confiante de que aquilo era uma perda de tempo, Anthony não estaria ali. Contudo, na escadaria, resolveu por precaução ligar o rádio novamente e recarregar sua arma com a munição extra.

Sussurros em Paraíso - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora