Capítulo 4 - Dúplice

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Sem nenhuma pista de Remi, Ethan descia uma longa escadaria em direção à Rua das Rosas. Lá, um de seus "lugares especiais" o aguardava. Ele tentava não chamar atenção para si, pisava lentamente nos gélidos e escorregadios degraus enquanto apertava a arma fortemente com seus dedos.

O manto da neblina estava denso, encobria qualquer coisa ao seu redor, o forçando a se segurar no corrimão para guiar-se e não cometer nenhum deslize. Todavia, concentrado em seu destino final, Ethan acabou por esbarrar em uma placa em seu caminho com os seguintes dizeres:

Paraíso, uma tranquila e bela cidade histórica. Estamos felizes em ter você aqui.

Já visitou os imponentes casarões do século XVIII? Ou teve um belo passeio de barco sobre o grandioso Lago dos Sonhos?

Está esperando o quê? Não tenha medo de desbravar nossas maravilhas!

Paraíso irá lhe preencher com uma profunda paz e conforto.

Desejamos que sua estadia seja agradável e que suas memórias durem para sempre!

Quanta baboseira... Ethan balançou a cabeça ao observar tal anúncio. Não era a primeira vez que lia aquilo. Dois anos atrás, quando ele e seu namorado estavam procurando um lugar para passar o fim de semana, Anthony aparecera com um panfleto de anúncios como aquele.

Contudo, aquela viagem agora era uma simples e frágil lembrança. Naqueles dias, pouco tempo antes de Anthony descobrir que tinha a doença, quando o sol era mais caloroso e a comida tinha sabor, Ethan sentia-se maravilhado simplesmente por estar em sua companhia. Talvez isso tenha mudado com o tempo. As histórias mais belas de amor sempre possuíam alguma tragédia por trás, e a sua não era uma exceção. Ele só queria poder fumar um cigarro ou beber uma boa dose de uísque barato para ajudá-lo a enfrentar todo aquele inferno que estava vivendo.

Eu prometo que ficaremos juntos para sempre, Anthony! A dor e o sofrimento daqueles dias o faziam derramar lágrimas e sentir-se sozinho no mundo a todo instante. E aquilo lentamente o estava destruindo de dentro para fora.

Mas aquele remorso não duraria muito. Em breve eles estariam juntos mais uma vez e poderiam fugir para bem longe daquele lugar horrível.

Imerso em seus pensamentos, Ethan mal percebeu que havia chegado aos pés da escadaria. Ali, deparou-se com uma rua antiga feita de pedras escuras, precisamente dispostas uma ao lado da outra. Já na calçada, ao seu lado, havia uma cabine telefônica vermelha. Ela era idêntica àquelas em Londres, que ele via passando na televisão às vezes. Talvez o prefeito da cidade a tivesse colocado ali para que os turistas se sentissem em casa.

Ótimo, eu posso usá-la para pedir ajuda, pensou.

Mais do que depressa, colocou-se para dentro da cabine e fechou a porta. Havia vários quadradinhos de vidro em todas as paredes, o que o permitia enxergar ao redor. O telefone estava pendurado pelo fio, fora do gancho. Ethan logo o pegou e começou a discar o número da central.

— Central de atendimento, em que posso ajudá-lo? — uma voz feminina surgiu do outro lado da linha.

— Hm! Oi... oi, eu preciso de ajuda, urgente. Estou na cidade de Paraíso...

— Um momento, senhor — a mulher o interrompeu. — Sua voz está falhando, poderia repetir pausadamente?

— Eu preciso que me encaminhe ao número da polícia! — Ethan gritou com a mulher, sem paciência.

— Entendido, redirecionando para a emergência, aguarde um instante...

A voz desapareceu, restando apenas uma melodia de fundo. Ethan, impaciente, batia os pés contra o chão e encarava constantemente seu relógio estragado. Aquela espera pareceu uma eternidade, até que:

Sussurros em Paraíso - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora