Capítulo II - Operação Escape

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Acordaram exatamente às seis da manhã, com um sino que tocou, ecoando pelas três pequenas celas da delegacia.

Jullie saiu de sua cama e pulou para a de Pablo. Chegou bem perto do seu ouvido e sussurrou:

–– Está acordado?

Ele respondeu com um gemido preguiçoso.

–– Me escute. Precisamos dar um jeito de sair daqui. Eu tive uma idéia. Quando vierem trazer o nosso café da manhã, ou nos retirar para irmos para o reformatório, nós atacamos os policiais, pegamos as chaves e fugimos.

–– E com que vamos atacá-los. –– Pablo sussurrou de volta, enquanto coçava os olhos, com sono. –– Isso será inútil.

–– Com qualquer coisa. O que encontrarmos pela frente. –– Jullie explicou se levantando, indo em direção ao banheiro. Lavou o rosto, e começou a olhar em volta, a fim de encontrar algo pontiagudo o suficiente. Sem sucesso.

Não demorou muito para chegar o café da manhã. Ovos mexidos com pão de passas amanhecido. Horrível. Na bandeja havia um pote de geléia pequeno com uma faca para espalhar a geléia no pão e cortá-lo.

Claro, claro! Uma Faca. A idéia pipocou de repente na cabeça, deixando Jullie inquieta. Suas mãos suavam, e seus lábios estavam secos. Sua visão parecia ficar cada vez mais turva, e embaralhada.

–– Já é hora de levantar, garoto! –– Disse um dos homens, se dirigindo a Pablo.

Ela se aproximou das bandejas que o policial segurava. Ele as colocou na mesa, e foi o tempo de Jullie pegar a faca dela, e passar por de traz do policial. Uma das bandejas caiu no chão, fazendo com que Pablo levantasse para que pudesse ver o que havia acontecido.

Jullie prendeu o policial por traz e passou a faca pelo seu pescoço. Estava próximo de mais. Um movimento brusco e a faca lhe cortaria a garganta. Pablo fitava a cena com olhos arregalados e não sabia se ria ou gritava.

O policial gritou desesperado com o susto de momento, e Jullie tapou sua boca. Ele mal conseguia ver o que ela apontava para seu pescoço.

–– Cala a boca! Eu só quero a chave da cela. Ninguém precisa saber. Ninguém precisa morrer. –– Ela sussurrou ao ouvido dele.

–– Larga ele, Jullie, não seja idiota! –– bradou Pablo.

Logo chegaram três agentes, uniformizados, para verificarem o que estava acontecendo com o amigo.

Puxaram Jullie pelo braço e foi o suficiente para ela pressionar a faca contra o pescoço do policial. Não era isso que ela queria, mas talvez um homem ferido fosse de grande ajuda para ganhar tempo na fuga.

Os outros começaram a rir antes mesmo da faca de plástico descartável quebrar ao meio.

–– Você tava refém de uma faca de plástico? –– Disse um dos agentes entre risos.

–– Cala a boca, Greg, eu não sabia o que ela tinha apontado pro meu pescoço.

Os policiais, rindo, e gozando da cara de Jullie saíram da cela. Suas vozes ecoavam pelo corredor. Estavam os dois irmãos sozinhos e trancados na cela novamente.

–– Parabéns, senhorita sabe tudo, belo plano. Uma faca de plástico?–– Pablo bateu palmas sinicamente.

Idiota, como ela não havia percebido que a faca era descartável? Toda a adrenalina e nervosismo fizeram com que seus sentidos fossem desfavorecidos.

–– Pelo menos eu tentei. –– Ela gritou. –– Você fica ai dormindo, como se nada mais importasse. Cada minuto para mim é uma tortura. Pensar que papai pode estar morto, ou prestes a morrer, e nós não podemos ajudar. Eu não posso ajudá-los! Ficar ai estirado faz com que isso pareça melhor?

–– E você acha que eu estou adorando estar preso?! –– vociferou. –– Acha que não penso na mamãe? Acha que a noite eu não tenho pesadelos com eles? Sempre tenho sonhos ruins e rezo todos os dias pra que nenhum deles se realizem.

–– Tudo bem, me desculpe. Você tinha razão. Fui uma idiota.

–– Eu também fui um idiota. –– Murmurou. –– Estamos kits.

Abraçaram-se. E estavam certos, esses não era um bom momento para discutições. Deviam se unir para ficarem mais fortes.

Mais tarde foram conduzidos a um furgão policial com outros menores de idade que cometeram assim como eles infrações.

Durante o percurso os dois trocavam olhares, e se lembravam dos pais. Os dois juntos brincando com papai, de basquete. Se divertindo no balanço do quintal. Correndo na praia. Pulando ondas, construindo um castelo de areias, e depois os destruindo.

Jullie animada, dizendo que iria construir o maior castelo de areia do mundo, e daria para seu pai, dizendo que ele merecia, ele era um rei, e saia chorando quando o castelo desmoronava.

E agora teriam que ficar separados, em reformatórios diferentes, e ficando impossibilitados de salvar papai e mamãe.

Pablo se lembrou de papai lhe ensinando a andar de bicicleta, e mamãe gritando animada, dando-lhe a maior força... E como ela gritou quando ele conseguiu andar sozinho. Quando ele caiu da bicicleta no meio da rua, aos sete anos e por pouco não foi atropelado. Mamãe gritou tanto desesperada. Papai levou-lhe para o hospital e descobriram que ele havia quebrado o braço.

Pablo limpou as lagrimas e olhou a paisagem horrível, por entre as grades da janela. A areia subia. O chão era coberto por cascalho, e ao longe se via um farol. Pouca vegetação, quase nenhuma, mas ouvia-se o barulho de ondas quebrando nas pedras... Estavam perto da praia, por isso a viagem demorou tanto. Saíram cedo, ás sete da manhã e chegaram quase seis da tarde. O percurso foi tranqüilo, por que a estrada era completamente deserta. Ninguém vinha para este lugar.

Param de repente.

O guarda abriu à traseira do furgão, carrancudo, ele fez sinal para que descessem.

Viram-se a frente de um portão enorme. Dois prédios grandiosos estavam naquele meio de nada.

Os prédios estavam separados cada um em seu terreno por um muro alto, e, se estendia sobre ele uma cerca de arame farpado, onde uma placa prateada que refletia a luz do sol trazia em letras vermelhas ao lado da figura de um raio:

“CUIDADO! ALTA TENSÃO”

–– Meninas por aqui. –– O policial gritou.

–– Meninos entrem por aqui. –– Bradou outro guarda que estava abrindo o portão.

As garotas –– poucas, na verdade, apenas três –– foram ao prédio do lado direito, e os meninos, –– uma dúzia ou mais, –– continuaram a entrar reformatório adentro. Apesar de ser separada em ala feminina e masculina, a instituição era a mesma, e isso era visível já que nos dois prédios um letreiro grande exibia:

REFORMATÓRIO BRITÂNICO

GROSSROOVER

Os detentos passaram pelas portas. Era tudo horrível, e mal cuidado. Os olhos de Pablo arderam com o odor horrível de enxofre    que saia de algum lugar ao longe, provavelmente do banheiro.

Pablo precisou tapar o nariz para prosseguir. Não é possível que alguém pudesse realmente dormir ali, mas tinha certeza de que conseguiria de adaptar a seu novo “lar”.

Seu pai já costuma dizer que o ser humano tem o incrível poder de se adaptar as mais difíceis e horrendas situações. Ele esperava que isso fosse verdade, e tinha certeza de que poderia comprovar em breve.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2015 ⏰

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