7} Guilherme

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   Eu senti o impacto daquele punho como se fosse uma martelada no meu rosto e foi impossível não lembrar do orfanato, de quando eu e Tropero saíamos nos socos por culpa das provocações dele. E isso fez todo o meu autocontrole — que eu realmente estava empenhado em manter —, evaporar como fumaça. Eu não queria me mostrar aquele menino agressivo do orfanato para Cecília, acho que porque desde o início ela teve uma confiança cega em mim e eu não queria perder aquilo. Ela era a única ali que parecia disposta a botar a mão no fogo por mim. Mas aquele filho da puta do Luís tinha acabado de me fazer perder o total controle das minhas ações.

Por isso que assim que eu olhei para ele, o meu punho se fechou automaticamente e voou até o seu olho, onde eu acertei sem economizar na força. Ele deu vários passos para trás e cobriu o olho com a mão, gemendo de dor e grunhindo de raiva.

Eu já estava dando os meus passos furiosos na direção dele para continuar com aquilo, quando o Renato entrou na minha frente, me segurando pelos ombros. Foi naquele momento que vi quando o Gustavo passou pela porta dos fundos, franziu o cenho quando viu a cena e perguntou:

— O que porra é isso aqui? — olhou para o lado e viu o Luís ainda com a mão na frente do olho.

Eu tentava a todo custo me soltar do Renato, desviar dele e ir quebrar a cara daquele infeliz, mas o loiro me advertiu:

— Para com isso, Guilherme... ou vão te chutar pra fora daqui, cara.

Minha ira pareceu sumir em um segundo. Mas não foram as palavras do Renato que me causaram efeito, foi o toque de uma mão pequena em cima do meu punho fechado. Eu olhei para o lado e vi o olhar amedrontado de Cecília em cima de mim. No mesmo instante que meus olhos captaram os dela, a tensão do meu corpo começou a aliviar. Foi automático. Como se ela tivesse desligado um botão meu.

Ela balançou a cabeça para os lados e ia dizer algo, mas o Gustavo falou antes, ainda perto do Luís:

— Você ficou maluco, Guilherme?! Queria cegar o Luís?

Antes de eu responder, a Melissa andou alguns passos na direção dos dois, dizendo:

— Cala a boca, Guto. Você não viu como 'foi as 'coisa.

— E isso importa? O Guilherme 'tá inteiro e o Luís tá com um olho roxo...

— Só que foi o Luís que começou! — ela continuou tentando contornar as coisas — E ele deu um soco no Guilherme também.

Dessa vez o Gustavo ficou calado. Olhou do Luís para mim e de mim para o altão de novo. Era verdade que eu parecia está bem internamente, nada sangrava ou estava roxo em mim, mas o queixo doía como o inferno. Só que graças ao meu histórico de brigas, eu sabia disfarçar bem a dor. Minutos depois, ainda sem ninguém falar nada, o Luís me olhou enraivecido e começou a dizer:

— A gente nunca tinha brigado assim antes. Você, seu imbecil, 'tá fazendo a Mel ficar contra mim e contra o Guto pela primeira vez.

— As 'coisa não são bem assim, Lu. — dessa vez, Cecília se pronunciou. Ela parecia não gostar muito de brigas e discussões, mas parecia gostar menos ainda de injustiças. Todos nós olhamos para ela que, lado a lado comigo, ainda segurava minha mão —não só o punho—, naquele momento atrás das costas dela. — Quando eu cheguei aqui o Guto não gostava de mim também e vez ou outra a gente batia boca, lembra?

O Luís suspirou pesado e nos olhou feio, nos vendo tão colados. E ali eu percebi; o problema não era eu estar fazendo a Cecília chegar tarde em casa ou eu estar sendo um intruso na vida deles. O problema era a Cecília estar me dando muita atenção e ele estar com ciúmes, porque... ele está apaixonado por ela.

Ao Acaso | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora