Parte Cinco - A Reaper?

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As luzes dos corredores do hospital eram muito fortes, deixavam seus olhos ardendo, estava sendo levada numa maca, às pressas. Sua cabeça estava girando, estava perdendo muito sangue, sentia sua perna latejando, como se o peso do automóvel que a atropelara ainda estivesse esmagando o seu tornozelo.
Não conseguia pensar em nada, estava perdendo os sentidos, sua vida passava diante dos seus olhos; era como um pesadelo, mas jamais poderia acordar, era de verdade. A dor era real.

A dor.
A escuridão.
Não sabia ao certo se havia um vínculo entre elas, mas sentia que andavam lado a lado. Inexplicavelmente, no fundo, sentia que aquela pessoa estava por trás de tudo isso. Como se ele a quisesse, estava com nojo por imaginar que havia tocado nas asas dele, porque por um milésimo de segundo, ela havia confiado naquele anjo. Como poderia confiar numa pessoa que praticamente tinha a intenção de matá-la?

Sentiu seus olhos pesados, de repente. Viu a silhueta de um anjo detrás das cortinas, talvez estivesse ali por muito tempo, apesar da visão embaçada conseguiu distinguir que era ele, sentiu sua presença, ele havia seguido Angel até o hospital. Estava fissurado por ela, não conseguia passar sequer algumas horas sem vê-la, tentava fazer o contrário de que o seu coração mandava. Seus instintos queriam matá-la, mas suas asas queriam protegê-la, como se houvesse duas forças lutando dentro de si, não sabia explicar, mas tinha dois lados, o lado que sentia vontade de beijá-la, e o lado que queria tirar sua vida. No exato momento do acidente, as duas personalidades tomaram conta de seu corpo, porém ele não fez nada para salvá-la, apenas observou-a gritando de dor, enquanto seu sangue pintava de vermelho o asfalto. Tirou a vida do homem que estava dirigindo o carro, na esperança de que isso fosse mudar alguma coisa, mas tudo o que ganhara foi duas vítimas: o homem que jazia morto ao chão, e a si próprio, que teria de conviver com o sentimento de culpa.

Angel abriu os olhos.
Tudo estava claro agora, conseguia enxergar melhor, sua perna já tinha parado de doer, seu coração estava calmo e ela não estava com a sensação de que ele iria rasgar o seu peito.

As janelas estavam abertas, o vento cortava as folhas das árvores e as fazia entrar dentro do quarto do hospital, revirando as cortinas e fazendo com que entrasse poeira debaixo da cama.
James estava dormindo sentado na poltrona de couro, parecia que havia passado a noite toda acordado, milhares de copos vazios da Starbucks estavam jogados perto de si, Angel nunca vira alguém tão viciado em café quanto seu pai.
Seus parentes deixaram cartões e ursos de pelúcia, não deram a honra de sua presença, mas ela não se importava com isso, quanto menos gente, melhor.

Andy abriu a porta trazendo consigo uma bandeja com sopa, ele estava usando a jaqueta de colegial de sempre, as calças rasgadas e luvas pretas nas mãos, que o fazia parecer uma pessoa normal.
E falando em pessoa normal, era inevitável que Andy não soubesse que Angel não era um anjo já que estava num hospital. Anjos não se ferem, porém, podem sim tirar a vida um do outro.
Não ficou com medo, confiava nele, sentia milhares de faíscas saindo de seu corpo quando ele estava perto.
Andy colocou a bandeja com a sopa sobre a mesa de centro no qual as visitas ficavam, ele ergueu os olhos para ela, não parecia surpreso por vê-la acordada. Aproximou-se de Angel e beijou-lhe a testa, encarou-a por alguns segundos, ela ainda não havia percebido como os olhos dele eram bonitos, um tom verde-azulado, podia ver o seu próprio reflexo neles.
O anjo puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se para ficar perto dela, tocou-lhe as mãos e fez movimentos circulares como forma de carinho, Angel não podia nem pensar na própria aparência, ficar diante de um garoto tão bonito toda descabelada a deixava sem jeito, puxou as cobertas sobre o rosto, ele por vez, tirou-as, como se estivesse lendo seus pensamentos. Ele de fato não se importava com a aparência dela, poderia estar suja de lama que ainda assim a acharia perfeita.
Estava perdida demais na perfeição daquele anjo que esqueceu que estava num hospital, tentou se levantar mas algo pesado na sua perna não permitiu, estava engessada.

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2015 ⏰

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