Prefácio

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Página 48, livro de Contos de vidas antigas - Biblioteca central de Wythlon

Eu sobrevivi por muito tempo.

Nasci antes da era do caos. O mundo era um lugar merda, mas ainda assim muito melhor do que o de hoje. Ao menos a sociedade tentava prosperar e crescer, mesmo no meio de tantas dificuldades comuns. Podíamos olhar para o céu e viver sem medo, livres e com todas as regalias que o ano de 2018 poderia oferecer.

Mas tudo se tornou um caos do dia para noite.

Quando as cidades eram brilhantes e as pessoas não viviam com medo, algo surgiu para mudar esse rumo. As criaturas horríveis surgiram.

Tudo começou quando o mundo apagou. Não havia mais transporte, energia ou comunicação. Os automóveis pararam de funcionar, os celulares não tinham mais sinal, os aviões caíram dos céus matando milhares; navios se perderam no mar e as luzes não iluminavam mais as ruas. Esse apagão foi apenas o começo, e mesmo durando o período de um mês, foi o bastante para as pessoas entrarem em pânico.

Pessoas invadiram os mercados, mataram inocentes e roubaram tudo o que conseguiam. Outras perseguiam as minorias e queimavam a carne de quem não merecia morrer - eles gritavam que era uma mensagem de Deus.

No 15º dia após o apagão, todas as crianças com menos de 1 ano de idade morreram. Até aquelas que estavam na barriga nasciam mortas. Ninguém soube a causa por trás dessa pandemia, mas o luto e o pesar fez cidades inteiras abrirem novas covas minúsculas.

No 20º dia, muitos prédios desabaram. As vigas se partiram, as paredes racharam e a estrutura era engolida por um declive no solo. Poucas pessoas sobreviveram a esses desastres. Ninguém soube o número total de prédios que caíram - foram tantos que eles desistiram de contar.

Apenas no 31º dia de Outubro, a energia finalmente voltou, e trouxe algo sombrio consigo. No começo, nada aconteceu. A comunicação global voltou e todos puderam ver os estragos que ocorreram ao redor do mundo. Era horrível, um desastre.

Mas quatro dias depois, as criaturas surgiram. Os primeiros relatos diziam que o vento soprava pedaços de partículas negras, então elas formavam os demônios que ninguém podia encarar - seres de mais de 10 metros de altura, com um corpo magro e completamente escuro, como a noite.

Mas esse não era o pior. Ninguém sabia como era seus olhos, seu rosto. Aqueles que os encaravam, morriam.

Eles não atacavam, eram pacíficos. Mas se olhasse para seus olhos, as criaturas criavam uma tempestade e um desastre tão forte que devastava áreas imensas com seu poder. Ninguém sobrevivia para contar como eram. E ninguém ousava tentar.

Depois de um tempo, eles foram chamados de Impetuosos.

Atraídos por ferro, rodeavam locais onde prédios, ruas e locais grandes predominavam - o que sempre resultava em algum desastre; alguém encarava seus olhos.

Os governos tomaram medidas para combate-los. Armas não funcionavam. Bombas não funcionavam. Nada parava as criaturas; ao menos se não as encarasse.

E então o mundo desabou. As civilizações quebraram, não havia mais tecnologia que suportasse o peso que a terra agora carregava. Os celulares explodiam por causa da presença das criaturas, os motores dos carros se recusavam a dar partida. Nada mais funcionava.

E não podíamos contar com muitos minérios. Mas principalmente o ferro, que atrai os Impetuosos como sangue para os tubarões.

Vi com meus própios olhos a mudança que ocorreu no mundo. Os novos assentamentos eram feitos de pedra, madeira e cimento. As ruas descascaram, as ferrovias pararam, os aviões não voavam mais. Tudo se perdeu. A humanidade estava se recolhendo, com medo.

Pela comunicação quebrada, parecia que ninguém mais mandava em nada. O que eram os Estados Unidos, o Reino Unido ou o Japão? Não se falavam mais esses nomes depois que as rebeliões começaram. A luta pelas terras fora apenas mais um derramamento de sangue sem finalidade.

Com os monstros vagando pelas ruas, a humanidade se viu regredindo cada vez mais. E hoje somos o que já tínhamos lido uma vez, numa história muito antiga.

Não existe mais 2018. Agora estamos no 28º ano da Era do Caos.

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