Prólogo

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            Coronel Abraham Jordan era um sujeito discretíssimo quando desejava. Infiltrava-se em qualquer ambiente como se ao ambiente pertencesse e não havia quem soubesse distingui-lo. Poderia interpretar tanto um príncipe quanto um mendigo. Este era um dos talentos singulares de Abraham e, foi muito devido a essa habilidade, que ele construiu sua carreira em uma velocidade tão assustadora, apesar de sua pouca idade. Tinha traços marcantes e um aspecto jovial, mas dificilmente alguém acusava sua juventude. Quando necessário, tornava-se um fantasma. Sua furtividade, sua capacidade em se esgueirar ou em permanecer estático, eram inacreditáveis. Foi devido ao trabalho como espião que ascendeu tão rápido de cargo em cargo. Falava oito idiomas com fluência e compreendia de modo sumário outros três. Os raros que ousavam criticar o coronel poderiam enumerar seus defeitos, ainda que jamais pudessem discorrer sobre a sua incompetência. Era indiscutivelmente um trabalhador eficiente, ou seja, um profissional exemplar. Ainda assim, cabia a ressalva de que era bastante improvável encontrar alguém disposto a falar mal de Abraham. Os pouquíssimos que ousavam tecer críticas, se é que existiam mesmo, certamente as faziam aos sussurros. A conduta violenta fazia parte do histórico dele nos tempos de soldado e ninguém confrontaria um superior corpulento e agressivo. Todos o viam como alguém imponente e apavorante, logo, o medo tomava a dianteira e sempre falava mais alto.

            Havia só uma coisa que o recém nomeado coronel fazia melhor do que se misturar ao ambiente e era se tornar o dono dele. Era ainda melhor em ser visto do que em se fazer invisível. Quando o objetivo era intimidar, Abraham Jordan era ainda mais competente. Tinha um metro e noventa e nove de altura, mas os outros sustentavam a opinião de que ele era muito mais alto, pelo menos, era a impressão que causava. Tanto por seu tamanho quanto por seus cabelos dourados e bem penteados para trás, Abraham se destacava. O porte ereto e o peitoral estufado lhe conferiam um aspecto robótico, aparentando ser tão duro quanto o aço. Quando queria, era impossível não o notar. Sua presença se expandia dominadora e se tornava o centro das atenções. Os músculos proeminentes se destacavam, ainda que estivesse vestido com elegantes roupas sociais. Talvez aquele dieb tivesse conseguido concluir o furto, Abraham ainda não sabia, mas apostava nessa possibilidade. Os guardas sempre tão inúteis só notaram o crime quando supuseram ser demasiadamente tarde para impedir a desgraça, mas acontece que o inútil do dieb não estava com tanta sorte. Coronel A. J sorriu com todos os seus dentes a mostra, um sorriso perverso e maldoso, um sorriso que colocaria tubarões a nadar para bem longe. Sentia-se exultante de tanta felicidade. Conhecia o mundo e entendia tudo sobre hierarquias e promoções, sobre crimes e castigos, sobre punições e recompensas. Capturar o ladrãozinho lhe garantiria uma promoção e agora não havia nada mais que importasse em sua mente ambiciosa e extravagante.

            Abraham farejou o ar com paciência, presenteando-se com a oportunidade de sentir diversos aromas. Geralmente o cheiro era tão bom quanto o gosto. O coronel quase foi interrompido durante o gesto, mas com uma olhadela feroz transmitiu toda sua intenção sangrenta. A dupla que vigiava o tesouro furtado se retesou pelo medo. Murchos, eles recuaram passo por passo, lentamente, como se um ruído que fizessem pudesse ser fatal. Jamais defrontariam alguém como Abraham Jordan. Outro sorriso brotou no semblante do coronel e agora ele soava ainda mais jovial e confiante. Percebeu que sua presa estava tão desesperada que havia corrido para o Mundo Humano. Abraham lambeu os lábios com a ponta da língua. Havia lido o jornal pela manhã e a previsão era de tempestade no Lado de Lá. O coronel não era um sujeito supersticioso e acreditava na qualidade de serviços bem feitos assim como na eficácia daqueles que os executavam, porém, apenas naquela ocasião, sentiu-se absolutamente auspicioso. Ele saíra para pescar sem iscas, sem vara de pesca e sem anzol, mas os peixes se enfileiravam para serem comidos. Como se não estivesse repleto de notícias boas, Abraham consultou o seu relógio de pulso e observou os seis ponteiros. Era 3h33 no Mundo Humano. Por ser um sujeito culto, Abraham Jordan já havia escutado que os homens consideravam a madrugada um ótimo horário para rezar para Deus. O coronel tossiu e escarrou no chão demonstrando todo o seu escárnio. Era melhor o dieb rezar.

– Vocês aí! – Rosnou subitamente com agressividade. – Só piem sobre o furto do objeto após o meu retorno. Espero que estejam conscientes de que a revelação dos fatos conforme eles ocorreram acarretaria, no mínimo, na demissão imediata de vocês dois. – Volto em no máximo duas horas e converso diretamente com vocês antes do boletim informativo aos superiores. Nós estamos claros?

– Sim, senhor! – Os dois guardas assentiram em concordância e suas vozes se ergueram simultaneamente enquanto Abraham ajeitava suas próprias roupas com tapinhas suaves.

– Eu acho bom mesmo. – O coronel pegou a sua jaqueta e saiu com um sorriso maldoso fixado na face e um esgar horrendo que denotava toda sua voracidade. Assassinaria o ladrão e seria honrosamente condecorado. – Azarado, dieb. Você é apenas um maldito azarado.

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GOSTOU DO PRÓLOGO? MEU NOME É DANIEL ROSA POSSARI E "O FURTO DO REI DIABO" MARCA O INÍCIO DA MINHA JORNADA COMO ESCRITOR AQUI NA PLATAFORMA WATTPAD. TENHO LIVRO DE CONTOS EM E-BOOK PUBLICADO PELO PORTAL DA AMAZON, MAS SENTI QUE O MOMENTO ERA DE NOVIDADES E TROUXE ESTE MEU LADO FICCIONISTA PARA CÁ. COMENTE AQUI COMIGO O QUE PENSA DO CORONEL ABRAHAM JORDAN E DEIXE SUA OPINIÃO HONESTA DO PRÓLOGO! COMO É A SEMANA DE ESTREIA, EU DEIXEI O CAPÍTULO 1 TAMBÉM DISPONÍVEL. ESPERO QUE VOCÊ LEIA! OBRIGADO POR ME ACOMPANHAR! 

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