prólogo

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prólogo

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prólogo

   Se você pudesse voltar alguns anos atrás, na sua vida, o seu eu do passado se sentiria orgulhoso da pessoa que se tornará? Sabe, eu costumava achar que quando crescesse tudo melhoraria. Crescer significava mudança e, para mim, mudanças significavam fugir de um passado que não me descia bem. Entretanto, se o meu eu de hoje tivesse a desonra de voltar no tempo, para uma época em que a maior preocupação eram espinhas e notas baixas em matemática, acho que orgulho seria a última coisa a ser sentida; repulsa, descrença, tristeza e medo. Provavelmente tudo se resumiria a chorar: chorar por terem se passado anos e, dos anos, as mudanças terem significado o oposto de coisas positivas. Esse, afinal, é o quê da questão: quando mais jovem, eu associava mudanças a acontecimentos bons e necessários, esquecendo-me que elas podem ser ruins e detestáveis — no meu caso, horríveis e odiosas.

   Eu nasci em Córdoba, num ano de copa do mundo; e, infelizmente, o Brasil ganhou em 2002 mas, como boa pelotuda que soy, lhes digo que lo siento, pero Maradona es más grande que Pelé. Tenho fé que nossa seleção, algum dia, ainda ganhará outra copa. Dale, Argentina!

   Bem, de acordo com aqueles que acreditam em signos, o meu é de Câncer, o supostamente — signo do caranguejo. Daquele crustáceo, bichinho sorrateiro que costuma andar de lado e para baixo. Ele se esconde dentro da sua casca — sua proteção — e, segundo dizem, sente-se sempre indefeso. Não minto, as vezes a vontade de fugir e se esconder dentro da armadura é enorme e, admito, o faço vez ou outra, mas é complicado quando se sente e se sente tanto, com tamanha intensidade que tudo te torna um sentimental chorão. Acho que nesse caso o meu ascendente me salva, já que o Escorpião em mim me faz resiliente.

   E, deixa eu dizer, precisei aprender a ser forte cedo. Muitos dramas familiares e coisas do tipo, incluindo a morte da minha mamá, só que isso fica para outro dia. Não sou a pobre menina pobre que ficará murmurando suas provações na vida 24hrs. Não, meu pai me criou para ser uma mulher forte e decidida... Isso até o dia em que decidi entrar num avião indo para o outro lado do globo. A partir dai, aposto que se arrependeu de ter uma filha voluntariosa. Desculpa papá, mas seria difícil manter-me no interior. Não havia nada lá para mim. Quer dizer, para a minha família, a essa altura, eu poderia estar noiva do Diego Aguirre, neto do delegado da cidade. É, noiva aos dezoito anos, porque no interior de Córdoba vivíamos alguns anos atrasados, como se ainda fossem os 60's e Perón tivesse o posto de presidente — sério, muitas pessoas, especialmente idosos, tinham fotos dele em suas casas.  

   Mas mesmo saindo do ninho, os sonhos que eu tinha, infelizmente, foram derrubados de uma só vez como numa partida de boliche. Foi um strike certeiro. A vida, enfim, nunca é como pensamos que será. O desenrolar é péssimo e chega a ser pessimista falar nisso, mas: raramente coisas extraordinárias acontecem. Elas rolam na mesma proporção que alguém ganha na loteria ou que sortudos conhecem sua alma gêmea no jardim de infância estilo Up! Altas Aventuras.

   Como mera mortal que sou, a sorte não bateu muitas vezes a minha porta. Quer dizer, tinha um emprego que me permitia não morrer de fome, conseguia frequentar uma boa escola de dança, mas faltava algo, sempre parecia faltar alguma coisa. E, por um tempo, achei que esse algo era sucesso profissional... quando, na verdade, ele surgiu na forma de um filho da puta de 1.80 de altura, olhos cor de cielo, sorriso debochado e um talento indiscutível para deixar as minhas pernas bambas.

   Madre mia, ele não era atacante, mas me marcou da maneira mais memorável possível — o tipo de gol que é indicado ao Puskás. Eu o odiava e amava com a mesma intensidade; odiava o amar, porém amava o odiar.

  Maldito sea, pendejo holandés

Loco Contigo - Frenkie De JongOnde histórias criam vida. Descubra agora