Capítulo Dois

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A frase "eu sei que você é homem" ecoava por entre a mente já lívida de Izuna Uchiha, a quem havia acabado de ter seu maior segredo descoberto. Já conseguia ouvir o som das espadas e papéis bomba sobressaindo as milhões de kunais que seriam arremessadas sem qualquer vestígio de pena. A guerra ocorreria dez vezes mais forte assim que Tobirama voltasse por aquela porta, o carregando pelo braço, pronto para provar sua afirmação.

A visão de si atirado contra o chão, tendo suas vestes reviradas e suas partes íntimas expostas para todos naquela sala o dava calafrios. Era o máximo da humilhação pessoal, além disso, seu pai morreria de desgosto naquele instante. Sua mãe sofreria pela culpa de ter criado aquele segredo, e Madara com certeza se rebelaria, fazendo questão de matar os irmãos Senju antes que aquilo conseguisse chance de vazar.

O arrepio que perpassou seu corpo não foi nada agradável. Foi quando ouviu um estalo alto em um de seus ouvidos. Quando recobrou a visão, Tobirama estava parado em sua frente, com cara de poucos amigos. Ele com certeza falava algo, e estava esperando por uma resposta, mas não conseguiu fazer mais nada além de apoiar-se contra o tronco de uma árvore próxima, levantando-se, ficando de costas para o albino, e começando a respirar fundo. Contando até cinco: expirava. Até cinco novamente: inspirava. Ficou assim pelo que pareceu uma eternidade, até que seu corpo começou a se acalmar de verdade, conseguindo assim encontrar forças para encarar aqueles olhos sangrentos.

— Agora a noiva está calma? — ele perguntou, o desprezo na palavra usado no feminino escorria por seus lábios, deixando-o mais desconfortável ainda.

Estava tão assustado com a revelação que não havia percebido como ele era hostil. Quando assentiu, ele se aproximou mais. Aquele corpo enorme envolto numa armadura e em tecidos em tons de azul chegou perto de Izuna, cujas pernas tremiam tanto que temia cair no chão e nunca mais conseguir levantar. O olhar era frio, calculista, e o encarava no meio dos olhos com tanto desprezo, que o fez querer chorar. Era agora que tudo iria morro abaixo. O que deveria fazer? Fugir? Não podia, mas, droga, como queria...

Tobirama ergueu uma das mãos, aproximando-a de seu rosto. Arregalou ainda mais os olhos, as pernas agora tão bem fincadas ao chão como se fossem novas raízes daquela floresta. Dedos gélidos pela brisa noturna o tocaram o queixo, com uma delicadeza que não combinava com toda aquela postura. Os dedos calejados ergueram seu rosto, pedindo em silencio para que fizesse contato visual. Nervoso, apenas obedeceu, agora um pouco menos assustado com a iminência de uma morte precoce, afinal ele o tocava com tanta delicadeza que mal sentia. Aquilo deveria ser uma notícia boa.

— Escute bem — o homem começou, a voz grossa reverberando pelo ambiente, indo de encontro ao corpo de Izuna, que tremeu inteiro. — Eu sei de tudo. E eu acho você patético por isso.

O rosto de Tobirama ganhou uma expressão raivosa, a testa se curvando em mais puro desgosto, enquanto a boca se retorcia em desprezo. Os olhos não saíam dos seus, e o toque em seu queixo havia se tornado veneno. A pele queimava, desesperada por libertação.

— Mas em prol das nossas famílias, nós voltaremos para dentro e avisaremos que nos casaremos em paz.

Então, quando achou que o maior havia terminado, ele prosseguiu:

— E você não vai falar nada sobre isso para ninguém.

O tom era tão ameaçador que Izuna teve a sensação de que o ar ao redor havia ficado ainda mais gélido. Apenas acenou, concordando. Então a expressão do maior se suavizou, como se estivesse satisfeito com a resposta.

Afastando-se, Tobirama se postou ao seu lado, indicando-lhe com o queixo que deveria andar. O caminho foi tão silencioso quanto o da ida, e seu coração parecia bater ainda mais forte agora. Sua mente girava, mal podendo esperar para estar em seu quarto outra vez, deitado em sua cama, longe de tudo e de todos. Arriscou um olhar para o lado e encontrou o rosto firme e impassível. Ao chegarem à grande janela da sala de estar, observou-o sorrir como se não tivessem acabado de partilhar um segredo daquele porte. Ele ofereceu passagem com as mãos, mas sabia que era apenas umas uma zombaria velada.

Lovers When It's ColdOnde histórias criam vida. Descubra agora