Capítulo 1

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Ela foi trazida a força por dois policiais até o hospital usando um pijama masculino e botas estilo militar. Foi difícil contê-la e os enfermeiros tiveram que aplicar-lhe um tranquilizante.

Foi colocada em um dos consultórios adaptados para esses casos. Entre gritos e muita correria uma médica se aproximou da sala de observação e cumprimentou a equipe da noite.

— É bom que seja importante meninos porque tive que desmarcar minhas férias — declara à mulher que aparentava estar na casa dos sessenta anos.

— Não conseguimos fazer com que ela se mostre, Virgínia — explica sua assistente Louise, enquanto observava com devoção a professora se sentar em sua cadeira — Você sempre consegue — brinca Louise, entregando o prontuário enquanto os outros jovens médicos permaneceram calados.

— Minha jovem, estamos em 2020 e vocês ainda não conseguem fazer o seu trabalho sem mim? — repreende a Dra. Virgínia, chefe do centro de triagem psiquiátrico que se levanta da cadeira e caminha lentamente até a sala de contenção.

Quando a porta se abriu ela viu a expressão de ódio e medo nos olhos da mulher.

— Pare de tentar se soltar, essa algema vai quebrar o seu braço antes de se abrir — informa a Dra. Virgínia, puxando uma cadeira e se sentando a frente da paciente

— Só quero fazer algumas perguntas — continua a doutora sem olhar para os olhos da paciente que espumava de ódio, mas absolutamente quieta.

— Por favor, me deixe voltar para casa — suplica a paciente, agora mais dócil e tentando parecer equilibrada.

— Para qual casa você quer retornar? — Está com saudades do mundo das sombras de onde você deve ter vindo?

— Eu não vim do umbral — levanta-se a mulher, agora completamente fora de si, tentando libertar-se das algemas.

Pela janela de observações Louise e seus colegas observam Virgínia.

— Ninguém veio — comenta a médica, fazendo algumas anotações em uma planilha — Já tenho indícios mais que suficientes. Você vai para a internação.

—Você disse que me faria perguntas. Meu nome é Susan Otaki. Tenho 39 anos e sou dona de Casa. Estou afastada de meu trabalho como professora por stress e depressão.

— Por que tentou matar seu marido após ele tentar ter relações íntimas com você?

— Os medicamentos que tomo para depressão me deixam confusa, paranoica — justifica a mulher — Pensei que ele fosse me matar — completa a Sra. Otaki.

— E por que tentou envenenar seus filhos colocando arsênico na comida? — indaga a médica, cruzando os braços para observar a reação da mulher.

As paredes completamente brancas e a forte iluminação da sala deviam perturbar bastante aquela criatura, pensou a doutora. Felizmente a mesa a qual ela se encontrava algemada era muito resistente.

— Eu não fiz isso — defende-se a mulher — Meu marido está louco — complementou entre lágrimas — Ele quer me internar porque tem outra mulher.

A médica pegou novamente o prontuário e fez mais algumas observações enquanto lança olhares para a janela de observação onde os seus quatro assistentes certamente a observam.

— Cá entre nós, seu disfarce é péssimo. Você nem se esforçou para não levantar suspeitas. Que espécie de condenado é você?

— Desgraçada — grita a mulher, tentando agredir a médica, que se limitou a sorrir.

ANTES QUE SEJA ETERNOOnde histórias criam vida. Descubra agora