03. after hours

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A manhã fria do dia primeiro de agosto pareceu invadir as janelas de meu quarto sem aviso prévio. Lá fora, rajadas de um vento denunciavam uma possível chuva mais tarde naquele dia.

E, como sempre, mantive os olhos fechados enquanto pude. Não queria acordar, tampouco me levantar. Aos meus plenos vinte e seis anos não imaginaria estar me levantando para enfrentar o ensino médio, o que triplicava a onda de irritação que já me perseguia nos últimos dias. Minha paz parecia tão bem articulada enquanto eu escolhia ignorar meu atual serviço que, quando ouvi as batidas frenéticas na porta, quase escolhi fingir de morto.

No entanto, Jihoon não batia mais de uma vez. Avistar sua cara feia logo de manhã fizera meu estômago vazio revirar, e eu sequer poderia protestar.

O que não me impedia de xingar aquele filho da puta pelo resto do dia.

— Levanta dessa cama agora. Você tem dez dias pra sumir com aquele garoto de vista.

O encarei com um olho meio aberto e outro totalmente fechado, puto da vida e na esperança de que ele sumisse do meu campo de visão, mas não foi o que aconteceu.

Jihoon continuou ali, com os braços cruzados e a cara de cu de sempre.

— Você tem cinco minutos pra levantar. Se vier aqui de novo, eu arranco teu couro.

Acabei grunhindo em puro ódio, me desvencilhando dos lençóis caros para finalmente levantar. Também não lhe disse nenhuma palavra, porque esse arrombado não merecia ser tratado como gente.

Somente bati a porta assim que ele saiu.

Sozinho novamente dentro do quarto, passei as mãos pelo cabelo avermelhado na intenção de afastar o caos que o consumia, encarando minha própria imagem derrotada em frente ao espelho. Meu abdômen nu ainda estava marcado por cortes recentes e havia uma marca ridícula perto de meu quadril, onde me queimei numa tentativa igualmente ridícula de usar uma pipoqueira.

Porque por mais que tenha nascido nessa geração, eu juro que nunca vou entender como utensílios domésticos funcionam hoje em dia.

E apesar da melanina bonita pra um cacete que cobria meu corpo nu estar brilhando em toda sua glória, quase desmaiei ao sentir o cheiro do meu sovaco. Precisava de um banho como avião precisa de uma asa e a fogueira de uma brasa, então me arrastei para o chuveiro mesmo com toda aquela preguiça e mal humor de quem acorda às sete da manhã depois de sete anos acordando meio dia.

Enquanto estava debaixo da água gelada, não conseguia parar de pensar naquele garoto. Sequer havia articulado ainda uma forma de matá-lo sem deixar rastros, fora da escola, de ficar sozinho com ele para descobrir mais sobre sua vida pessoal.

Na verdade, acabar com vidas tão jovens sempre me deixava um pouco incomodado. Creio nunca ter me sentido tão culpado assim por matar gente que não prestava, estupradores, feminicidas, políticos corruptos e outros assassinos.

Apesar de que a última opção despertava em mim a ideia de que, talvez, houvesse alguém me perseguindo também.

Afastando-me do box encharcado, revirei as gavetas da pia procurando pelo desodorante. Abusei em sua quantidade e não poupei esforços na arrumação do cabelo, deixando-o de doer o osso de tão bonito.

Ali, naquele banho de vinte minutos, eu havia descoberto como faria aquele garoto confiar em mim.

Fazendo-o se apaixonar, é claro.

É óbvio que não seria tão simples como parece, principalmente levando em conta o mínimo que conheci do tal Jun; ele seria osso duro de roer. Daquele tipo de pedra dura que a água mole passa a vida tentando furar mas não faz nem um risco.

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2020 ⏰

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