O final de semana finalmente havia chegado, o dia estava ensolarado, mas nada para Júpiter naquele momento era melhor do que estar em casa, longe do internato, longe de Nick. A casa dos Ferreiras era simples, no térreo ficava a sala e a cozinha, divididos por um balcão e tinha uma escada que dava acesso aos quartos e aos banheiros da casa. O quarto de Júpiter ficava ao lado esquerdo do quarto de Aurora, que ficava ao lado do quarto de hóspedes e o quarto de Mauricio e Alice era o principal.
O calor escaldante conduziu Júpiter até o banheiro, enquanto as gotas d'água caíam freneticamente do chuveiro, refrescando a bronzeada pele de Júpiter, era como se o tempo tivesse congelado e o sonho que outrora tivera com o avô lhe invadira a mente tão ferozmente quanto um leão atacando sua presa. Entre soluços, mil perguntas lhe invadiram a mente, por que tivera aquele sonho tão estranho com o avô? O que "vntp25c10" significa, se é que tem um real significado? E o mais importante, que mais lhe deixou inquieta, por que ela sentia que o sonho não se tratava apenas de um simples sonho? -Vovô, onde o senhor está e por que está tudo tão confuso...? -Sinto tanto a sua falta. Júpiter não pôde evitar que as palavras saíssem de seus lábios carnudos, a memória é algo extraordinário, tem poder de fazer a gente reviver momentos passados, ela tem sabor e cheiro de saudade, tantas lembranças e questionamentos reviraram sentimentos que estavam adormecidos dentro dela e fizeram com que seus olhos liberassem um liquido salgado que escorria pelo seu rosto junto com a água do chuveiro. Depois do banho, Júpiter mergulhou na cama e dormiu por horas.
Ao cair da noite, a mente de Júpiter ainda estava confusa, porém, ela estava mais calma, lembrou que havia combinado de ir ao cinema com Eliza, por isso enviou uma mensagem para a amiga. -Oie, Eliza, qual foi o horário da sessão que você comprou os ingressos? Mas para sua surpresa, Eliza cancelou a ida ao cinema, mas o mais estranho foi a resposta tão seca da amiga. -Desculpe, Jú, mas vamos deixar o cinema para outro dia. Júpiter sabia que havia algo de errado, pois Eliza era a pessoa mais imperativa e extrovertida que ela conhecia, então ligou para amiga, na esperança de descobrir o que estava acontecendo. Depois da segunda tentativa, ficou apreensiva ao ouvir a voz tremula da amiga pronunciar seu nome. Pelo tom de voz de Eliza, ela sentiu que a amiga estava mal e ao encerrar a chamada correu de encontro a casa dos Castanhole. O sr. Charles possuía um amor inexplicável por coisas antigas, por essa razão morava em um casarão antigo com a sua esposa, Bela e sua única filha, Eliza. Na sala tinha uma TV e dois sofás as paredes eram frias e enfeitadas com alguns quadros antigos e tristes, a sala de jantar era enorme e decorada com moveis antigos. o quarto de Eliza era o único cômodo da casa que possuía paredes com cores vivas, mas que se encontrava com um ar salgado e pesado pelas lágrimas de contristação pela separação dos pais. Júpiter pôs a mão direita na maçaneta da porta e girou-a devagar, como se estivesse se preparando para encontrar a amiga devastada. Para seu espanto, encontrou a amiga mais triste do que imaginava, chorando como se fosse uma criança que perdeu o brinquedo predileto.
-Eliza, o que está acontecendo com você? As palavras saíram tão frenéticas da boca de Júpiter que ela precisou respirar fundo para recobrar o fôlego. Contudo, sentiu que Eliza precisava sair, tomar um ar, para ficar mais calma. Ao lhe dar um abraço apertado, ela chamou a amiga pra ir tomar um sorvete na Grifi, uma lanchonete que ficava numa rua próxima a rua de Eliza. Enquanto caminhavam, Eliza contou tudo o que estava acontecendo entre os pais, inclusive que Bela havia saído de casa, Charles não era mais o de antes e ela sentia como se morasse sozinha dentro de um museu. Júpiter ficou um pouco triste por a amiga não a ter contado antes o que estava acontecendo, mas não sentiu que era o momento para cobrar qualquer coisa que fosse da amiga, mas sim lhe dar todo apoio, então lhe abraçou forte, um abraço que falava mais que mil palavras. Um minuto de silencio pairou no ar e as duas observam a noite movimentada pelo tráfego, o vento estava tão forte que batia nos rostos delas, emaranhando os cabelos com tanta intensidade que era quase impossível andar.
A escuridão da rua foi engolida pela luz flamejante da Grifi, o silencio foi rompido pelas vozes das pessoas ofegantes, Eliza respirou fundo, sentiu o vento se chocar contra seu rosto, olhou para o céu tomado pelas estrelas e se esforçou para não mentalizar os problemas, pois tudo o que ela mais queria era se distrair. A Grifi era um lugar muito aconchegante, lindo, perfeitamente organizado, mas o que mais chamou a atenção de Júpiter foi um garoto de altura mediana, que estava sentado com um grupo de crianças. O garoto estava lendo Peter Pan, os olhos das crianças chegavam a brilhar de tanta curiosidade. Júpiter jazia maravilhada com a cena, sentia que conhecia o garoto de algum lugar, mas como ele estava de costas, não tinha como ela descobrir a identidade do garoto misterioso.
-Vai até lá e deseja um boa noite
-Quê? Eliza, você está louca? Do que você está falando?
Júpiter ficou vermelha e sem graça, mesmo desejando muito continuar vislumbrando a cena ou até mesmo seguir o conselho da amiga, caminhou até a mesa do canto com passos rápidos e bufou ao ver Eliza sorrindo, como quem estava adorando a situação. O garoto estava encantado com a empolgação das crianças, mas logo mudou o semblante quando conferiu no celular uma mensagem tão misteriosa quanto sua própria identidade.
Júpiter lançava um olhar a mesa sempre que podia, mas quando percebeu que o garoto levantou e estava prestes a sair, ficou nervosa, receosa sobre o que ele iria pensar se caso a visse fitando ele e as crianças, contudo, quando finalmente foi vencida pela curiosidade, o garoto havia sumido da lanchonete. O olhar de frustração foi um pouco obvio, pois até Eliza havia percebido, em seguida moveu os lábios como se estivesse prestes a fazer algum comentário, porém só confirmou que também não havia conseguido ver o rosto do menino e mordeu o lábio inferior, Eliza apenas baixou a cabeça em resposta.
Elas decretaram que essa seria a noite das meninas, ficaram mais algumas horas na lanchonete, comeram hambúrgueres, tomaram sorvete, compraram chocolates e foram direto para casa de Eliza, relembrando os bons momentos, as situações difíceis e constrangedoras. Eliza sentia-se mais leve, como se o peso do mundo tivesse saído das costas, não havia esquecido os problemas, tampouco estava feliz, mas sim grata por ter Júpiter, por saber que poderia sempre contar com ela... que não estava sozinha. E mesmo passando por uma fase extremamente difícil, um simples instante com a amiga a fez perceber que ninguém passa ileso pela vida, coisas ruins acontecem para nos tornarmos pessoas mais forte, a separação dos pais não estava sendo fácil para Eliza, mas ela sabia que não estava sozinha, pois tinha o apoio da sua melhor e única amiga, Júpiter.
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Júpiter em outra dimensão
RomanceJúpiter sempre foi uma garota diferente entre as demais. Fugia dos estereótipos sociais e sempre foi interessada em coisas que poucas pessoas pareciam se importar. Um dos únicos com quem compartilhava gostos em comum era seu avô, Tomas, homem por q...