As férias de verão

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Você já se sentiu tão estranha em relação as outras pessoas, que muitas vezes chegou a questionar sua própria existência? Já se sentiu como se não se encaixasse no mundo? Pois é, é exatamente assim que Júpiter se sente... Júpiter é a garota menos popular da escola interna Marechal de Albuquerque, apesar de ser muito inteligente e ter uma personalidade extremamente forte, ela odeia chamar atenção. Mas por mais que tente passar despercebida, sua mania de revidar tudo acaba tornando-a visível para Nicolas, o garoto que ela mais detesta. Nicolas têm um olhar perdido e profundo, olhos azuis como o céu dando cor ao seu rosto pálido, os lábios rosados perfeitamente desenhados e carnudos, cabelos lisos e escuros como as noites da rua Digley. Júpiter mora numa casa simples com Alice e Mauricio, seus amados pais e com sua irmã adotiva, Aurora, cujo nome Júpiter se orgulha, pois ela carrega consigo um amor inexplicável pelos mistérios do universo, e o nome da sua irmãzinha fixa no seu coração a chama do sonho de presenciar a Aurora Boreal.

Embora Júpiter amasse estudar, amasse fazer parte do clube de ciências, ela não estava tão ansiosa pelo retorno das aulas. Primeiro porque a volta das aulas significava o fim das férias de verão, segundo porque ela teria que olhar todos os dias para o rosto de Nicolas e terceiro porque o 3° ano do ensino médio era seu último ano na escola e ela ainda não sabia lidar muito bem com as mudanças. Júpiter ficava enjoada só de imaginar que no próximo ano provavelmente estaria na faculdade, rodeada de pessoas que ela nunca viu na vida. Mas o que deixava Júpiter mais abalada era o fato de que iria ter que ficar longe da sua melhor e única amiga Eliza. Eliza era como o sol, radiante e trazia consigo uma luz capaz de iluminar até os piores dias de júpiter, seu sorriso era doce como seu olhar penetrante e seu nariz era perfeitamente proporcional a beleza exuberante do seu rosto.

O trânsito de Serra Queimada estava terrível na manhã cinzenta da quarta-feira, as ruas pavimentadas, mas o que chamou a atenção de Júpiter foi um garotinho que limpava bravamente os para-brisas dos carros. O garoto não aparentava ter mais de 14 anos, mas tinha um olhar nítido de quem carregava consigo uma grande tristeza.

-Olá -Gritou Júpiter para o garotinho que estava limpando o para-brisa do carro ao lado, mas para espanto e tristeza de Júpiter, o menino ignorou-a completamente. Entretanto, Júpiter não se deu por vencida e fez mais uma tentativa sinuosa:

-Oi, tudo bem com você? Você poderia por favor limpar o para-brisa do meu pai?

O menino balançou a cabeça fazendo sinal de positivo, mas Júpiter engoliu o sorriso em seco quando virou o rosto e viu que o pai a estava encarando com uma expressão de quem esperava uma explicação.

-Papai, sei que o senhor levou o carro ontem para o lava jato, mas essa foi a única maneira que encontrei de me aproximar daquele menino.

Disse abruptamente ao pai, que logo lhe lançou uma pergunta:

-Mas porque você deseja tanto falar com esse garoto, você o conhece de algum lugar?

-Não, mas me parte o coração vê-lo com esse olhar tão triste. Ele é só um menino, deveria estar brincando com outras crianças, aproveitando os benefícios da infância.

Respondeu Júpiter. Suas palavras soaram tão genuínas e profundas que Mauricio não conseguiu pronunciar mais nada, apenas olhou para a filha com admiração e logo lhe lançou um sorriso em resposta. Júpiter costumava odiar a sociedade, odiava as pessoas em geral, pois não conseguia entender como a futilidade passou a ter tanta importância, mas numa noite qualquer, ela vagava pelas calçadas da rua Digley e deu de cara com Eliza, pessoa que ela mais gostava depois dos pais e da irmã. Depois do eventual dia em que conhecera sua melhor amiga, Júpiter passou a pensar que embora existam muitas pessoas ruins no mundo, também existem ótimas pessoas. Que as vezes a vida dá uma sacudida na gente e balança tudo, mas vira e mexe ela coloca as coisas no devido lugar e aprendemos coisas novas, passamos a observar coisas que sempre estiveram ali e nunca demos atenção. Afinal, por que olhar apenas o lado ruim das coisas? O que transforma o mundo é a forma que olhamos para ele.

Júpiter em outra dimensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora