1. Um estranho entre nós

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Era mais uma manhã normal na pequena cidade de Sant Lamarc, nunca havia visto esta cidade tão animada para o festival de outono, e eu moro aqui com April, minha amiga de infância, há 4 anos. Neste período arrumei um emprego, não é dos melhores até porque sonhar em fazer psicologia e acabar trabalhando no Carter's, um mercadinho que fica bem em frente á universidade não me deixa muito orgulhosa.

- Bom dia Ivy! – Diz Fred, um dos funcionários – Milagre você chegar mais cedo.

- Vai que a Lana resolve subir meu salário – rio.

Lana é minha chefe, exigente e mandona definem perfeitamente sua personalidade, mas sei que no fundo ainda bate um coração dentro dela – ou eu espero que bata.

Como sou a operadora de caixa, fico bem em frente à janela, o que me permite observar as pessoas entrando e saindo da faculdade, é como ver a felicidade e a realização estampada em seu rostos.

- Um dia eu estarei lá... – apoio meu rosto sobre minha mão.

As horas passavam rapidamente por ali, mas mesmo assim eu contava os segundos para o fim do expediente, estava começando a me entediar.

Bocejava pela terceira vez quando ouvi os saltos de Lana baterem contra o assoalho.

- Ivy, Fred, irei sair agora por motivos pessoais. Ivy, fique encarregada de fechar o mercado ás 22 horas, sem atrasos dessa vez, estamos entendidas?

- S-sim senhora! – Digo me endireitando na cadeira.

Lana sai com toda a pompa e elegância de sempre, eu e Fred demos uma risadinha quando ela saiu, sabíamos que quando ela falava "assuntos pessoais" ela se referia a sua família, não entendíamos o motivo do mistério para com seu único sobrinho – que a propósito, nunca o vimos.

Fred, cerca de quinze minutos depois, despediu-se e também foi embora, ele morava com sua avó doente e sempre tinha que sair mais cedo do trabalho para cuidar dela. E se eu já estava entediada antes, agora que sequer tinha alguém para conversar eu não me surpreenderia se cochilasse.

Já eram quase dez horas, eu pegava meu casaco no encosto da cadeira quase cantarolando de felicidade quando ouço o barulho dos sinos da porta de entrada. Me viro rapidamente.

- Com licença, espero que não tenham fechado ainda.

Era um jovem de pele pálida, olhos azuis acinzentados e cabelos negros, ele não parecia ter mais de vinte e cinco anos, seu rosto se destacava em meio as roupas escuras que vestia, confesso que me perdi um pouco na hora e quase tropecei em meus próprios pés.

Ele era bonito, bem bonito.

- Não, não fechamos ainda, fique à vontade – Sorri tentando ser simpática e não transparecer o quanto eu queria ir embora, o jovem piscou os olhos com um sorriso singelo em resposta.

Ele pega cinco pacotes de balas na grade ao lado do caixa e os coloca calmamente na esteira.

- Gosta de doces não é? – Descontraí.

- Sim – ele ri timidamente – São bons a qualquer momento.

Enquanto eu pegava o troco, olhava rapidamente para seus olhos, eram penetrantes, misteriosos... eu nunca havia visto um olhar como aquele.

- Desculpe a pergunta mas, eu nunca o vi por aqui, é estrangeiro? – Perguntei fechando a gaveta do caixa.

Era bem comum conhecer praticamente todos os moradores em Saint Lamarc, ainda mais quando se trabalha num mercadinho do centro, mas ele eu nunca havia visto, e tenho certeza de que se o tivesse visto antes eu não o esqueceria tão facilmente. Duvido.

Entre o Céu e a TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora