8. Éden

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Éden, 1934

- Anjos, em fila! – Ordenou um dos superiores da guarda, eu e meus companheiros de equipe nos endireitamos lado a lado rapidamente – Parabéns pela patrulha de hoje, garantimos uma boa noite de sono para 85% da Terra, é um bom equilíbrio comparado ao dia anterior. Terminamos por hoje, estejam aqui amanhã no mesmo horário, tenham um bom almoço.

Assim que o Capitão Peter terminou seus agradecimentos, a equipe dos anjos dos sonhos – a qual pertenço – abriram voo em direção a central para recuperar as energias depois de um longo e cansativo dia de trabalho, eu ia fazendo o mesmo quando Peter chamou-me.

- Sim senhor – respondi em continência, encolhendo as asas novamente.

- Soube que foi escolhido pro discurso de graduação dos novos anjos deste ano, o General August mal se contém de tanto orgulho, e de certa forma eu também já que sou seu treinador desde que chegou aqui – o rosto do veterano se iluminou – Precisava te parabenizar.

- Obrigado Capitão, confesso que estou nervoso mas foi uma grande honra ser escolhido pro discurso, eu amo o que faço e espero inspirar os recém-chegados a encontrarem seus caminhos aqui.

Eu sempre enchia o peito ao falar do meu cargo, havia chego ao Éden há cerca de 20 anos e desde o início eu sempre quis fazer parte da guarda dos sonhos, e enfim, eu havia conseguido e não poderia estar mais feliz.

- Eu imaginei que estaria muito feliz – Peter sorriu, mas logo seu sorriso se desfez assim que ele avistou algo atrás de mim.

Me virei e vi que ele observava a Liam, que estava novamente sentado ao pé da árvore grande do jardim escrevendo algo que ninguém nunca soube o que era, nem eu que o conhecia desde sempre.

Liam chegou ao Éden junto comigo, apenas alguns minutos de diferença nos separavam. Diziam sempre que provavelmente morremos ao mesmo tempo, afinal, os anjos do Éden eram sempre pessoas de alma boa que morreram na Terra e foram enviadas diretamente ao céu, e como chegamos juntos, esta era a teoria. Eu e Liam éramos como carne e unha, nos graduamos juntos e fomos criados como irmãos, mas algo começou a mudar no Liam depois que nos formamos. Não sei se foi o fato de termos ido cada um para um cargo diferente – ele para os anjos da guarda - ou apenas nossas personalidades que se diferenciaram com o passar do tempo, mas ele estava distante, não só de mim como de todos que tentavam uma aproximação, depois de tanto tentarmos ajudar e não obtermos resultados acabamos desistindo, mas eu nunca perdi a fé de que Liam algum dia vai dizer o que está acontecendo e voltaremos a ser tão amigos quanto antes, eu sentia a falta dele e me preocupava com seu estado.

- Ele tem falado com você? – Peter perguntou, eu neguei com a cabeça.

- Não nos falamos há anos, eu não tenho deia do que houve, foi tão... de repente – Disse cabisbaixo, Peter tocou meu ombro em reconforto.

- Sei que ele ainda tem muito apreço por você, vocês são praticamente irmãos.

- Eu conto com isso – suspirei e dei uma última olhada para o anjo louro dos olhos violetas que escrevia concentradamente.

- Mas então, vamos almoçar? – convidou o veterano.

Confirmei e abrimos voo em direção ao refeitório no prédio central onde grande parte dos anjos de todos os cargos já se reuniam. Sentei-me junto ao meu time e o almoço correu normalmente, a única coisa estranha é que Liam não apareceu para buscar sua comida pela terceira vez na semana, além de não falar com mais ninguém, ele também deixou de comer conosco, mas nunca deixava de buscar sua refeição mesmo que fosse pra comer no jardim. Mais uma vez eu contava com um motivo que não fosse grave que pudesse justificar ele não estar comendo... acho que estava me preocupando demais.

Entre o Céu e a TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora