Antes mesmo de nos tornarmos o que somos hoje, um grande casal - deveras - apaixonado, fomos apenas conhecidos. E para mim, é divertido pensar na forma como nos conhecemos, habituamos aos nossos rostos, costumes e maneiras de agir. Foi tudo tão gradual que, naquele tempo, sequer me dei conta de quando estávamos saindo em plena manhã de aula para nos vermos e conversarmos sobre o que vier na telha.
Eu estava passando por descobertas como, qualquer adolescente passa. Decepções, conflitos internos, amizades novas. Um completo recheio de emoções - Chenle me presenteou com essa frase que guardo até hoje em minha mente.
Mas pouco sabia sobre amar alguém, aliás, quem realmente amei além de você, os meninos, meus pais e de Lily, a cachorrinha que tive quando criança? Quer dizer, amar é muito subjetivo, e como podemos afirmar que amar é apenas sentir tal coisa?
Como por exemplo, percebi que amava meus pais pra valer quando me dei conta que viver sem eles me traria um grande vazio no peito, daqueles que você se sente esmagado, exposto e com frio. No caso de Jeno e Chenle, a presença deles me energizava, só me trazia felicidade.
As vezes me pego pensando em quando meu instinto começou a vacilar toda vez que te via, nos nossos momentos únicos que tanto apreciava. O carinho que fazia nos meus cabelos, nossa troca de olhares, e até mesmo nos dias você lia seu livro favorito para mim, com aquela tua voz mansinha que deixa qualquer um anestesiado.
Comecei a me atentar a esses detalhes no dia que fomos para o sítio da família de Chenle com os meninos. Cruzávamos a enorme linha que era o fim da infância para finalmente, a adolescência. Não éramos mais os garotos que se exaltavam por pouca coisa, havia novos horizontes para exploramos e sem querer, acabei ultrapassando um deles: o da paixão.
Dizem que você se apaixona apenas três vezes na sua vida. Vejo essa superstição como algo falho, considerando que passado todos esses anos, não consigo encontrar alguém tão esplêndido quanto você.
Certo, às vezes posso ser um puxa saco.
Iríamos passar o fim de semana naquela casa que tanto ouvimos falar pelas histórias que o chinês nos contava. Ar condicionado em todos os três quartos; decoração com itens valiosos até demais - Você disse que nem se trabalhasse por anos e comprar os objetos a vinte prestações, conseguiria pagar completamente. Ri feito um idiota.
Ficamos no mesmo quarto, e aquilo não era um problema. Éramos próximos e já conviviamos o suficiente para sabermos nossos hábitos noturnos. E para ser sincero, estávamos mais ansiosos para o momento em que poderíamos nos jogar no lago próximo a casa do mais novo.
Mas enquanto não estávamos liberados para fazermos tal coisa, parte de nós se divertia na sala de jogos. Jaemin, Chenle e Jeno se entretiam jogando banco imobiliário, já eu e você nos encontrávamos em frente a mesa de sinuca, nos questionando qual era a graça de um jogo de tabuleiro tão chato quanto o aquele.
Ah, recordo-me de você falando, rente ao meu ouvido, que poderíamos ir silenciosamente ao lago, que nenhum dos garotos notariam. E eu gostava da tua coragem.
Os segundos que relutava para negar essa ideia, você me encarava de uma maneira esquisita aos olhos de um adolescente. Parecia sereno, tão bonito. Me assustei por um instante, porque não entendia o que havia acontecido e as sensações que aquele olhar me deu.
No fim das contas, concordei e te segui até o bendito lago. Nos sentamos no píer e conversamos sobre qualquer baboseira que viesse em nossa mente. Éramos espontâneos demais.
Mas em algum momento, paramos. O canto dos grilos e o som da água se movendo era o único barulho que escutávamos. Não era desconfortável, longe disso, mas me lembro da vontade de dizer algo, de soltar alguma frase desconexa.
- Você já se sentiu excluído do mundo? - Você perguntou, meio fora de órbita.
- Todos nós nos sentimentos, é algo inevitável.
- Não, mas se sentir excluído a ponto de se questionar sobre quem você é e por que diabos você é desse jeito. - Havia um quê de tristeza em sua voz
- Me rejeitaram do time de basquete por causa da minha altura, você acha que encaixa no que disse agora? - Você deu uma risada tímida, e acabei sorrindo involuntariamente.
- Hm, acho que sim. - Deu uma pausa. Eu ainda estava meio tolo por sua risada. - Mas então, o que você fez pra parar de pensar nisso?
- Que talvez outra equipe me aceite, e que me apoie nos jogos, mesmo que eu tenha 1,67 nas costas.
Silêncio. De novo.
- Acho que gosto de garotos. - Agora sim conseguia enxergar o x da questão; o cuidado com as palavras ditas anteriormente; seus rosto focado em seus pés, apenas; e a voz cheia de angústia. Donghyuck, me doeu saber que se sentia assim. - Jeno me diz que posso estar confuso, mas, caralho, eu sinto que não é isso.
Meu peito formigava, mas não havia nada de exorbitante naquela conversa para me sentir daquela forma. Me perguntava sobre a probabilidade de gostar de garotos também, mas um em específico, que se encontrava do meu lado.
- Não há nenhum problema em ser gay, Hyuck. - Lembro-me de te confortar entrelaçando minhas mãos nas suas. - E Jeno não sabe de nada, ele vive falando baboseiras pra todo mundo, não leva a sério. O que importa agora é o que tu sente, não é sobre os outros.
Eu falava bonito, ao menos.
- Bobinho. E como esperado, você sempre tem razão. - Apertou minhas bochechas, sinto a dor até hoje - Mas esse assunto não vai sair da minha cabeça tão fácil assim.
- Bem, você tem a mim pra compartilhar teus pensamentos agora, e não sei se você sabe, mas eu sou um ótimo ouvinte, posso te aguentar falando sobre isso por toda a minha vida. - E foi ali, naquele minuto, quando você sorriu para mim, tudo desacelerou e algo (eu não sabia o quê) soou diferente.
- Uau, e não é que Mark Lee sabe como confortar pessoas?
- Idiota.
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cartinhas e declarações
FanficMark dizia solenemente que escreveria cartas para o seu maior amor. Talvez esse dia teria chegado. markhyuck