O Fundo do Poço é Apenas o Começo

8 1 0
                                    

Você já teve um dia ruim? Claro que já, todos temos dias ruins e as vezes eles são mais do que apenas ruins, são péssimos e aterrorizantes e tudo o que você quer é que aquilo acabe. Mas sabe qual a grande verdade? Aquilo nunca acaba, não totalmente porque em algum momento, quando você menos espera as lembranças surgem como uma onda ou até mesmo um tsunami e você se sente sufocado, perde o ar, desaprende a respirar, seu coração acelera, você começa a suar e sente a Adrenalina percorrendo suas veias, é como se você estivesse revivendo aquele momento.

A pior parte de um trauma é as cicatrizes que ficam como forma de lembrança. Mas diferente de um trauma físico, e não o estou menosprezando porque sabemos o quão doloroso é, o trauma emocional está ali a todo instante, um som, uma voz, uma imagem, um toque, literalmente qualquer coisa pode trazer a tona todo o trauma emocional que você passou e isso é horrível.

Eu sou diagnosticado com Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável e resumindo em poucas palavras eu sinto intenso luto ao invés de tristeza, vergonha e humilhação ao invés de leve constrangimento, ódio ao invés de irritação e pânico ao invés de nervosismo e isso afeta minhas relações sociais e afetivas, além de claro ter uma intensa insegurança e um medo absurdo de ser abandonado.

Ontem eu tive um desses momentos. Passei um longo tempo no chuveiro sentindo a água quente escorrer pelo meu corpo, mas essa era a única sensação física que eu tinha, pois estava submerso em meu próprio mundo mental onde vozes e mais vozes se juntavam em um intenso coro de humilhação e depreciação. Eu não sabia quem eu era ou onde eu estava, eu só fiquei ali parado de pé sentindo a água e imaginando qual caminho eu deveria seguir, acabar com tudo ou simplesmente desaparecer.

Antes desse estado catatônico eu já estava me sentindo sufocado, preso, perdido e impotente. Assim como ontem, hoje eu passei o dia na cama me odiando. Por que não posso ser alguém normal? Por que não posso ter uma vida cotidiana? E por mais que eu pense nessas coisas, e em muitas outras, eu não obtenho nenhuma resposta, exceto de que não há propósito nessa vida para mim, que eu sou tão insignificante que nada nem ninguém se importará de de fato comigo.

Como já dizia Mayli Sayrus "eu sou uma bola demolidora" que destrói tudo ao meu redor. Sou uma âncora que arrasta todos ao meu redor para baixo. Porque além dessa doença me destruir ela destrói aqueles que se importam comigo. Eu não tenho muitas memórias após um surto, tudo o que tenho são pequenos flashbacks e cicatrizes físicas que teorizam os acontecimentos e um esmagador sentimento de medo, raiva, angústia e humilhação, porque eu não lembro dos acontecimentos e sei que é só uma questão de tempo até o próximo surto.

Eu sei que estou no fundo do poço, mas para mim esse é só o começo de uma decida irremediável. Estou me afogando lentamente, sinto que cada batida do meu coração aproxima-se de ser a última onde enfim darei meu último suspiro em vida deixando para trás uma vida repleta de dor, angústia e sonhos inalcançados. Não tenho mais lágrimas para chorar, tudo o que eu sinto é esse peso enorme no meu peito que me paralisa e arranca o ar dos meus pulmões.

Estou afundando lenta e gradativamente e não sei se tenho mais forças para lutar!

A um Passo da LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora