Aparentemente todo mundo tem certeza que eu sei voar

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O céu está azul, vibrante enquanto caio para a minha morte. Vejo árvores passando como um borrão, e o chão se aproximando cada vez mais, quase podia ver o detalhe da grama verdinha que logo estaria preenchido por um contorno branco do meu corpo espatifado. Mas aí eu não caio. Sinto uma mão puxar meu braço no último segundo, e me pergunto se quando você morre é assim, você não lembra de nada e um anjo vem te buscar...

Minha teoria é rapidamente refutada, porque no próximo segundo estou comendo grama, resultado de ter sido jogada dos braços de quem quer que seja que me agarrou. Cuspi um pouco de terra antes de me sentar. Me vejo no final de uma colina baixa, que dá entrada para um lugar... não saberia descrever de outra maneira senão maravilhoso. Em minha frente se encontra um caminho que leva a um conjunto de pequenas casas dispostas em formato de U, pequenas á essa distância, mas perceptivelmente coloridas. Na minha frente, ao longe, tem uma casa grande, branca e azul. Consigo ver à esquerda, várias árvores que pareciam levar a um bosque ou floresta, um campo vermelhinho de morango e um... não pode ser. Aquilo é uma arena grega?

_ Hum... oi? – uma voz que vem de cima de mim me assusta, me tirando dos meus pensamentos. Um menino está parado atrás de mim. Me viro pra ele, confusa.

O menino é... lindo. Alto, com o cabelo castanho meio espetado, olhos castanhos quase mel e pequenas sardinhas ao redor dos olhos. Seu rosto era tão delicado que ele poderia ter uns 9 anos, mas suspeitava que tivesse bem mais que isso pelo seu corpo. Parecia que ele ia na academia todos os dias, porque seus músculos pareciam marcados mesmo na blusa laranja solta que ele estava usando. Na blusa se lia "acampamento meio-sangue". Já tinha ouvido essas palavras em algum lugar...

_Ei! Você está me ouvindo? Você está bem? – a voz do menino me traz de volta dos meus pensamentos novamente.

_Ah, desculpa! – digo, me levantando. O menino estende a mão para me ajudar, mas me levanto sozinha. – Eu to bem sim, pelo menos pra alguém que acabou de cair do céu... foi você que me salvou?

Ele me encara e dá um sorrisinho

_ Foi sim. Insuportável, né? Apollo começou a fazer isso toda semana. Só porque estamos com uma falta de sátiros e ele que está buscando vocês não quer dizer que ele pode simplesmente largar vocês há 50 metros de altura... – começo a achar que eu estou no hospital psiquiátrico, porque não entendo absolutamente nenhuma palavra que saiu da boca desse menino. É, eu defensivamente devo ter sido finalmente mandada para um retiro espiritual ou coisa do tipo por conta das minhas alucinações. Sabia que eu me arrepender de contar pra eles...

Concordo com a cabeça, como costumo fazer quando não entendo as pessoas. Funciona direitinho em professoras, pais e até taxistas preconceituosos.

_Eu sou Ben. Prazer – ele diz, estendendo a mão para apertar a minha, meio sem jeito

_ Meu nome é Alice. – Digo, apertando a mão dele de volta, mas me embaralhando do no caminho, o que resulta num high five meio mal feito

_ Vamos. Vou te levar até a casa grande. – Ele começa a andar em direção a casa azul e branca que eu tinha visto antes, e eu vou atrás, tentando acompanhar seu passo, que é pelo menos 3 vezes maior que o meu. Passamos por um lago, e vejo crianças e adolescentes mais ou menos da minha idade em pequenos barquinhos remando. Mais a frente tem um grupo praticando arco e flecha, todos com blusas laranjas como a de Ben. "É, eu definitivamente do estar em um acampamento-espiritual-para-adolescentes-esquizofrênicos". Penso enquanto o menino abre a porta azul de madeira, revelado uma sala vazia, com apenas uma grande mesa com várias cadeiras, meio parecida com a mesa da pintura santa ceia de Jesus que estava desenhada em todos os livros de história. Do lado oposto da mesa tem um homem de meia idade, meio barbudo e com uma blusa estampada de leopardo fazendo anotações enquanto toma goles de uma lata azul de coca-diet. Ele levanta os olhos assim que fechamos a porta.

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