Tendou não tinha uma Borboleta

401 61 149
                                    


Contando com aquela, já era a terceira vez que os pais do pequeno Satori eram chamados na escola em menos de um mês, e isso era sufocante e rotineiro.

"O filho de vocês não para quieto."

"Essa criança não presta atenção em nada."

"Por acaso ele não teve educação em casa? Ou então ele tem algum tipo de retardo? A sala inteira consegue acompanhar e ele parece nas nuvens, sem nem mesmo olhar para o professor."

"Eu recomendo que o levem a um médico, uma criança como essa não é normal."

Eram sempre as mesmas frases, com apenas suaves diferenças. Mesmo tendo avançado uma série, mudado de instituição e entrado na Escola Primária, os mesmos comentários ainda perseguiam e atormentavam a cabeça do jovem ruivo.

Era normal que seus pais fossem chamados na escola apenas para que a Direção reclamasse de seu comportamento, e não importava quantas vezes ele explicasse que é algo que foge do seu controle, os adultos pareciam apenas não se importar com sua opinião ou com o que ele tinha a dizer.

E lá estava ele mais uma vez, sentado na secretária e esperando a reunião acabar. Aquele estofado de couro era desconfortável e fazia suas costas suarem; seus pés ainda não alcançavam o chão, então seu passatempo no momento era observar o vai e vem das pernas, num ritmo constante.

Era constante assim como o tic-tac do relógio em cima da porta de entrada. Da onde estava sentado, Tendou conseguia enxergar claramente os ponteiros se mexendo, mas mesmo assim não saberia responder qual era a hora se alguém o perguntasse. O ponteiro menor já tinha dado quase uma volta completa desde que ele entrará naquela salinha, e pelo jeito já passava das 5 da tarde, visto que todas as crianças já tinham ido embora e não havia mais nenhum barulho emanando do corredor que não fosse o tec-tec do no computador da secretária e a voz da Diretora passando por debaixo da porta.

A mulher, cujo nome ele desconhecia, sempre teve uma voz calma e controlada quando anunciava as notícias no auditório, ou então na cerimônia de abertura, mas agora parecia estar alterada demais. Ele não conseguia distinguir ao certo o que estava sendo discutido dentro da sala, contudo sabia que o assunto não era dos mais agradáveis e que incluía ele, não de uma maneira positiva visto o tanto de vezes que ele já ouviu seu nome ser pronunciado em um grito contido.

Até agora havia contado 13 vezes.

13 vezes que ele não sabia o contexto. 13 malditas vezes que ele não entendia do que se tratava mas que sabia não ter feito nada de errado. Repassou todo o dia que teve e nada fora do normal tinha acontecido; tinha chegado atrasado na sala mais uma vez por ter se distraído com as borboletas no jardim atrás do colégio e não conseguiu prestar atenção no toque do sinal, rendendo mais um sermão para sua lista e mais piadinhas infames da classe.

"Como ele ainda não aprendeu a lição?"

"Não é tão difícil prestar atenção no sinal, deve ser só mais uma desculpa idiota."

"Certeza que ele se perdeu nos corredores, do jeito que é burro."

Era rotineiro. Lá no fundo Satori já tinha aceitado que não faria amigos naquela sala, mais uma vez. Parecia que as outras crianças cultivavam um medo, uma apreensão estranha em se aproximar do garoto ruivo. Isso quando elas não perdiam a paciência consigo e desistiam de manter uma conversa normal, já que ele viajava pro mundo da lua e dificilmente elas conseguiam chamar sua atenção de volta.

Até mesmo nas brincadeiras ele era o último escolhido, tipo no esconde-esconde que era o primeiro a ser encontrado, ou então no vôlei onde ele sempre pegava as bolas e os outros meninos pareciam ter uma raiva de si por isso, mesmo que claramente não fosse sua culpa.

Yellow ButterflyOnde histórias criam vida. Descubra agora