E Real?

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Minha mãe estava parecendo uma vitrola estragada, falando e falando… de como  eu era irresponsável, que eu não tinha a mínima noção do perigo, que eu quase a matei de susto e Blá, Bla,Blá..., mas meus pensamentos não estavam ali, eu só consegui pensar no que eu tinha visto na floresta, será que tinha sido real? Ele era tão grande, não podia ser um animal comum, era imponente e confiante, mas tinha uma doçura no olhar, mas suas garras e presas eram aterrorizantes, seu pelo de um Branco inigualável, era uma criatura magnífica, e eu me sentia atraída por ele, cada célula do meu corpo vibrava quando sua imagem se fazia presente em meus pensamentos, algo me chamava para perto dele, eu só podia estar louca, eu nem podia afirmar que ele era real, tudo podia ser uma fuga da minha mente, uma forma que ela encontrou para lidar com a perda do meu pai, a mudança para um novo lugar, a falta que eu sentia dos meus amigos, era coisa demais, a pressão que minha mãe colocava sobre mim, de que eu tinha que ter as melhores notas, afinal eu era filha da reitora da faculdade, eu tinha que ser perfeita, mas eu não sou…

__Valerec…Valerec… o garota ficou surda, mamãe está esperando uma resposta.
Ouço Donavam gritar comigo. __Desculpa eu não escutei a pergunta mãe.

__Dom, não grita com ela, filha eu só perguntei se você quer comer alguma coisa antes de irmos pra casa.

__Mãe, agente não pode pedir lá de casa, tô exausta, e quero tomar um banho e dormir.

__Claro meu amor, agente pedi lá de casa então.

O restante da viagem foi no mais absoluto Silêncio, eu olhava para janela as luzes da cidade já estavam acesas, indicando que já era tarde, pessoas andavam de um lado para o outro completamente alheias uma, as outras, vejo meu reflexo no vidro da janela, meus olhos são como os do meu pai, um castanhos meio esverdeado, mas meus cabelos são ruivos como os de minha mãe, sou uma mistura dos dois, meu pai era um homem muito bonito, e tinha um temperamento doce, acho que nesse ponto não puxei a ele, sou mais como a minha mãe, ela é uma mulher incrível, forte e decidida, eu a amo muito.

Finalmente chegamos em casa, desço do carro espero minha mãe abrir a porta, quando entro vou direto para quarto, quero me livrar daquelas roupas sujas e tomar um longo banho quente.

Tiro, meus tênis, meus pés estão doendo, vou em direção ao banheiro, ligo a água e deixo a banheira encher, me livro das roupas elas estão sujas de terra e cheiram a mato, jogo tudo dentro do cesto, e entro na banheira, a água está em uma temperatura agradável, deito escorando minha cabeça em uma pequena almofada e fecho os olhos.
E lá está ele de novo, o grande lobo branco, ele parece não notar minha presença, mas como notaria, não é real, isso tudo e só fruto da minha mente cansada, mas mesmo não sendo verdade, ele está lá, bem no meio da floresta, entre troncos de árvores gigantescas, o ar está úmido, tem um cheiro denso no ar, não consigo identificar o que é, ele parece estar concentrado em algo, ele está agitado andando em  círculos, rosnando, como se estivesse com raiva, ele ainda não olhou para mim, ele rosna mais alto e uiva, tão alto que levo minhas mãos aos ouvidos, meu coração dispara nesse momento, não consigo entender o que está acontecendo, meu lobo branco tão bonito e dócil, de repente é tomado por uma fúria terrível, ele olha fixamente para um certo ponto no meio da floresta, meus olhos se volta para onde ele olha tão insistentemente, então vejo um homem, muito elegante,em pé sobre uma enorme pedra, ele parece falar algo com meu lobo, que solta outro rosnado pior que o primeiro, e o homem elegante não se intimida e da uma risada horripilante fazendo meu lobo se agitar ainda mais, e nesse momento o homem elegante me olha, seus olhos são vermelhos e sua pele e extremamente branca, seus cabelos longos e negros, formam um contraste estranho de se vê, ele me olha, e sorri para mim, nessa hora meu lobo Branco percebe minha presença, e de repente tudo se torna um caos, ele  avança em direção ao homem elegante, e em um golpe certeiro arranca sua cabeça, eu olho tudo aquilo, estou horrorizada, o sangue escorre do pescoço do homem onde a cabeça havia sido arrancada, seu corpo cai lentamente na rocha fria,e o sangue escorre por entre as rochas, eu olho em direção ao meu lobo… Meu Deus! ele está coberto de sangue, seu pelo que outrora era de um Branco inigualável, agora está vermelho escarlate, e em sua boca enorme entre suas presas gigantescas, está a cabeça do homem, eu conheço a gritar e a correr estou com medo, um pavor tão grande toma conta de mim, me forço a dizer…isso não é real…isso não é real…

Tropeço em uma raiz seca e caio corto meu braço em uma galha, que estava com a ponta para cima, levanto minha cabeça para ver o lobo se aproximando de mim, ele ainda está com a cabeça do homem enter em sua boca,  eu digo para ele se afastar, eu não sei o que fazer, começo a gritar novamente… isso não é real…isso não é real…

Ele se aproxima mais de mim, e quando está bem perto, ele joga a cabeça do homem aos meus pés, eu dou um grito e fecho os olhos, penso comigo mesmo, ele vai me matar…

__Valerec .. Valerec… acorda minha filha…

Abro os olhos, vejo minha mãe me segurando apavorada.

___Valarec… minha menininha, está tudo bem, você está em casa meu amor, calma você está em casa.

Abraço minha mãe com toda força, estou tremendo, ela me ajuda a sair da banheira, me enrola em uma toalha e me leva para cama.

__Meu amor, o que aconteceu, você estava gritando e se debatendo, está sentindo alguma coisa? Quer voltar ao hospital?

Minha mãe pergunta assustada.

__Não mãe, está tudo bem, foi só um pesadelo, não precisa se preocupar. __Mas eu estou tremendo como uma vara verde, não consigo controlar.

__Valarec, meu amor, você sabe que pode contar comigo né? Sabe que pode confiar em mim.

        Minha mãe, está preocupada, vejo isso em seu olhos, respiro fundo, não posso me deixar levar por coisas que nem são reais, é tudo fruto da minha mente cansada, com meus nervos mais sobre controle, digo a ele que está tudo bem.

__Eu sei mãe, mas tá tudo bem, eu juro, vou tentar descansar um pouco.

__Você não quer comer um pouco, pedimos comida chinesa.

__ Não mãe, agora não tô com fome, talvez mais tarde.

__Esta bem, vou deixar você descansar, mas se precisar de alguma coisa me chama.

__Esta bem mãe, eu chamo você.

  Minha mãe me dá um beijo na testa e sai do quarto, me levanto visto um pijama e deito novamente, sinto uma dor no braço, eu estava com um pequeno corte bem acima da minha mão, bem onde o galho tinha me cortando, o que está acontecendo comigo, fecho os olhos para tentar dormir um pouco, mas fico revivendo aquela cena de horror a cada fechar de olhos, fico vendo meu lobo branco jogando a cabeça do homem aos meus pés, começo a chorar, um choro incontrolável, entre soluços e lágrimas meu corpo cansado e minha mente exausta acabam vencendo, e finalmente eu adormeço.

A Garota da Capa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora