it's you

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É errado, eu sei que é.

Porque é você, Jimin.

Porque você é meu amigo, porque não sente o mesmo por mim e, mais importante, porque você não é meu.

Cada parte sã e sensata do meu cérebro reprime isso que meu coração irresponsável insiste em sentir. Os resquícios de sensatez que ainda me restam tentam a todo custo refrear esse sentimento indesejado que me revira o estômago toda vez que pouso os olhos em você.

E eles pousam muito em você. Te buscam onde quer que você esteja. São atraídos por você e por cada movimento que você faz. Por cada pequena nuance sua.

Eles te estudam, te observam e capturam cada mínimo detalhe para que estes se eternizem em minha mente e possam voltar para me preencher os pensamentos quando tento dormir a noite.

O jeito que suas pernas se cruzam graciosamente uma sobre a outra, a maneira como corre os dedos pelos cabelos e umedece os lábios constantemente ainda que não perceba. A forma como seu corpo se inclina tão sutilmente quando escuta atentamente ao que alguém lhe fala, como se inclina bastante quando dá risada.

Eu já sei de tudo isso, tenho cada mania sua gravada em minha memória.

Eu gosto tanto das suas manias.

Gosto de tudo em você.

E eu sinto muito por isso, sinto tanto.

Sinto muito por me sentir assim. Eu não queria, não deveria.

É difícil pra mim também. Mesmo depois longas conversas comigo mesmo, tentando me convencer de que isso deve passar e que não devo dar continuidade à esses sentimentos, nada é capaz de impedir as batidas aceleradas do meu coração sempre que te vejo chegar.

Nada faz o frio que se instala na minha barriga desaparecer quando sinto você chegando perto pra falar comigo.

Nada me impede de - mesmo que inconscientemente - tentar te fazer rir. E eu tento. Tento demais, o tempo todo. Porque sua risada se tornou o meu som favorito nesse mundo inteiro.

Tento chamar sua atenção de alguma maneira e te fazer me olhar, me tocar ou apenas conversar comigo. Tento, da maneira mais egoísta possível, ter só um pouquinho de você pra mim.

E eu sei que não devo.

Tenho um motivo para isso.

O motivo está sentado bem ao meu lado, entre eu e você.

E ele também é meu amigo.

Odeio que eu sinta tanto por você.

Odeio que você ainda sorria pra mim quando se vira pra questionar o meu silêncio e perguntar se estou bem.

Eu não mereço que sorria pra mim.

Você não sorriria pra mim se soubesse.

Você me odiaria se soubesse o quanto tornei feio um sentimento tão bonito quanto o amor.

Porque, sim, eu amo você.

Amo muito.

Amo tanto que às vezes sinto que meu peito está prestes a explodir.

Mas, novamente, você não é meu.

E eu sinto inveja.

Inveja em sua forma mais feia e má.

Enquanto estou falando com você, olhando bem nos seus olhos, finjo que não sinto meu coração descompassar só um pouquinho quando sorri pra mim. Tento espantar esses pensamentos e negar as reações involuntárias do meu corpo. Tento muito reprimir tudo isso.

Quando você se dispersa do nosso assunto e vira pro lado - pra ele - eu sei que não devo, sei que nada me dá o direito, sei que o erro é todo meu, mas não consigo deixar de sentir o familiar incômodo se revirar dentro de mim.

E isso se repete. Todas as vezes em que observo vocês dois.

Sinto raiva dele, de você e do quanto são perfeitos um para o outro.

Sinto raiva de como ele te olha, te toca e de como você sorri pra ele.

Sinto raiva do brilho da pequena e discreta faixa de metal que o envolve o dedo e que é igual à sua.

Sinto raiva de mim por ter me colocado nessa situação.

Eu deveria estar feliz por você. Por vocês dois. Porque vocês realmente se amam, porque estão felizes e porque são meus amigos.

Mas não consigo. Não inteiramente.

E odeio isso também.

Odeio a pessoa que me tornei.

Odeio que eu não consiga controlar meus próprios sentimentos.

Não sei quando isso começou, nem sei porque.

Foi como se algo de repente arrebentasse dentro de mim e me empurrasse pro precipício que é me sentir assim. Pro precipício que é amar você desse jeito.

E eu odeio isso. Odeio muito.

Queria conseguir evitar tudo isso. Queria conseguir evitar você.

Mas não consigo.

Porque você é meu amigo e porque eu te amo.

Você volta a olhar pra mim. Preocupado, me toca o joelho de maneira afetuosa e pergunta mais uma vez se estou bem.

Já faz um tempo que parei de tentar me fazer parte da conversa. Já faz um tempo que meus pensamentos divagaram pra direção em que estão agora, como acontece sempre que estou com você.

Me desfaço de sua preocupação com um sorriso e conto mais uma das muitas mentiras que parecem me rodear ultimamente.

"Estou bem", eu minto.

Ainda que receoso, você se dá por satisfeito pela minha resposta e se volta para ele novamente.

Ele que o recebe com um sorriso e um braço longo ao redor dos seus ombros.

Desvio o olhar.

É demais pra mim.

De repente tudo é demais e eu sinto que preciso sair daqui antes que as lágrimas familiares comecem a rolar pelo meu rosto.

Discretamente e com cuidado para não ser percebido, eu me levanto.

Direciono meu olhar pra você uma última vez e deixo que eles capturem você em sua totalidade. Tento guardar cada mínimo detalhe.

Porque dessa vez eu sei que precisarei me lembrar deles.

Porque dessa vez, sem nenhuma despedida, eu me viro e vou embora.

E não sei se tenho a intenção de voltar.

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⏰ Last updated: Jan 05, 2021 ⏰

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