Capítulo III

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Certo dia, estava eu concentrada observando a vitrine de uma loja de joias de um shopping, quando, de repente, senti uma voz exalando um sopro quente em meu ouvido:

— Quanto tempo!

De imediato, senti um arrepio pelo meu corpo e meu coração bateu descompassado, porque reconheci aquela voz... A voz que, há cinco anos, sussurrou gemidos em meu ouvido. Não acredito! É ela?! Virei meu rosto e dei de cara com Júlia sorrindo com aquela boca carnuda e aqueles dentes perfeitamente alinhados. Sem saber direito como reagir — não imaginava que minha afilhada ainda exercia um poder enfeitiçante sobre mim —, perguntei sem cumprimentá-la:

— O que você está fazendo aqui?

— No Brasil ou no shopping?

— Nos dois!

— Estou no Brasil pra visitar meus pais... e estou no shopping, porque vim comprar umas coisas com minha mãe, que, aliás entrou naquela loja e não quer mais sair!

Júlia falava com tanta tranquilidade, que cogitei inclusive que ela tinha se esquecido do envolvimento entre nós anos atrás.

— Ana nem comentou que você viria... — falei mais para mim mesma do que para ela.

— Ela não sabia. Fiz supresa. Só eles me visitam, então, achei que era hora de voltar aqui. — ela falou me encarando com um sorriso no canto da boca.

Nesse momento, fui surpreendida por trás pelo abraço de Fernando, que disse depois de beijar a lateral da minha cabeça:

— Vamos, querida!

Durante os últimos cinco anos, nunca tive coragem de me envolver com outra mulher. Conheci vários homens, entretanto, com nenhum deles engatei um relacionamento sério até conhecer o Fernando. Embora não sentisse por ele indício algum de paixão, nosso namoro, que tinha apenas seis meses, me trazia tranquilidade, estabilidade, visto que ele era um homem inteligente, gentil, maduro e descomplicado. Pensava que isso bastaria para mim naquela altura da vida.

De todos os homens com os quais fiz sexo nesses cinco anos, nenhum deles me fez ter sensações tão prazerosas quanto Júlia me fez sentir em poucos dias. Somente conseguia ter orgasmos com eles quando pensava nela, que continuou permeando meus pensamentos mais eróticos, inclusive, durante o sexo com meu namorado.

Júlia desviou os olhos na direção de Fernando, depois os voltou para mim, como se perguntasse se eu não ia apresentá-la a ele. Simplesmente, eu não conseguia falar. A voz tinha se emperrado na minha garganta. Foi Fernando que quebrou o silêncio que estava se instalando:

— E quem é você, jovem?

— Júlia. — minha afilhada estendeu a mão para ele com um sorriso no rosto. — Sou filha de uma amiga dela...

— E é também minha afilhada! — falei nervosa, finalmente conseguindo dizer alguma coisa, que não era bem o que queria dizer, mas apenas saiu.

Meus olhos se magnetizaram em direção a Júlia de um jeito tão forte, que era como se eles não quisessem mais ver outra pessoa ou outro lugar. Notei que ela estava ainda mais linda. Por sua vez, ela revezava seu olhar entre mim e Fernando, que perguntou:

— Ah, então, você é a filha da Ana e do Oscar?

— Sim... — ela respondeu.

Nesse momento, Ana saiu da loja e se aproximou, falando:

— Jaque! — ela me abraçou. — Menina, a gente se falou ontem e nem comentamos que vínhamos pra cá! — ela abraçou Fernando também.

— Decidimos vir de última hora... — eu disse sem força na voz.

A AFILHADAOnde histórias criam vida. Descubra agora